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03/09/2005 - 09h49

PF investiga Rural e "fontes" de Duda

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PAULO PEIXOTO
THIAGO GUIMARÃES
FREDERICO VASCONCELOS
JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha
do Enviado da Folha a Belo Horizonte

A Polícia Federal cumpriu ontem, em Minas Gerais e no Rio, 19 mandados de busca e apreensão de documentos na sede do Banco Rural, nas residências de um diretor e de um ex-diretor e também em casas de câmbio. A PF busca provas de remessas ilegais de dinheiro para o exterior de três empresas offshores (com sede em paraísos fiscais): Trade Link Bank, supostamente ligada ao Rural, Deal Financial Corporation e Radial Enterprise.

As três empresas --investigadas desde 2003 pela chamada força-tarefa do Banestado, que envolve policiais e promotores --estão entre as que transferiram dinheiro de Marcos Valério de Souza, o operador do suposto "mensalão", para uma conta do publicitário Duda Mendonça no paraíso fiscal nas Bahamas.

A operação de ontem, denominada "Lavoura" (analogia com Rural), teve como ponto de partida informações fornecidas por Odilon Bacellar Neto, acusado de ser aliciador de "laranjas" em esquemas de remessas ilegais. Ele aceitou colaborar com as investigações em troca de benefícios.

Embora o "mensalão" não seja o foco da operação de ontem, os envolvidos nas investigações supõem que novos dados relacionados ao esquema possam surgir. Duda responsabilizou Valério pelas remessas de dólares via offshores. Já o publicitário mineiro disse que seguiu orientações de Duda para enviar o dinheiro.

A Trade Link Bank é a principal origem dos repasses que abasteceram a conta de Duda, com US$ 827 mil, de acordo com os extratos apresentados pelo publicitário às CPIs dos Correios e do Mensalão. A Deal Financial enviou US$ 116 mil, e a Radial Enterprise, US$ 98 mil. No total, Duda recebeu na offshore Dusseldorf Company Ltd., nas Bahamas, R$ 10,5 milhões do caixa dois de Valério.

Remessas para Duda também foram enviadas por meio do Rural Europa e do Rural International Bank, empresas do Grupo Rural no exterior.
"Essa investigação ["mensalão"] não necessariamente tem a ver com o caso de agora, mas pode ter. É possível que surjam outros ilícitos decorrentes dessa operação", disse o delegado Alexandre Leão, do setor de Comunicação da PF em Belo Horizonte.

A força-tarefa do Banestado é integrada por Ministério Público Federal, PF e Receita Federal. O objetivo principal é desvendar relações entre as remessas ilegais para o exterior, utilizando offshores e doleiros. Na operação de ontem, os mandados foram expedidos pela 2ª Vara da Justiça Federal do Paraná, onde se concentram os trabalhos da força-tarefa e para onde toda a documentação apreendida será levada.

Buscas

As buscas foram coordenadas por um delegado da PF de Curitiba e por outro de Brasília. A operação envolveu cerca de 70 pessoas, entre delegados, agentes e escrivães. A Folha acompanhou as buscas em três locais.

Às 8h55, duas equipes da PF chegaram à sede do Rural, no centro de Belo Horizonte, e lá ficaram por quase quatro horas. Os policiais foram direto para os andares da diretoria do banco e saíram às 12h40 sem dar informações.

A PF também realizou busca na casa de Guilherme Rocha Rabello, diretor do banco. Os policiais chegaram às 9h10 e apreenderam apenas um laptop. Enquanto os agentes faziam a busca, um policial consultava, por telefone, a sede da PF, confirmando que uma pistola do empresário estava com registro regular.

A busca durou cerca de uma hora e foi parcialmente acompanhada por Maurício Campos, um dos advogados do Banco Rural. Guilherme Rabello não quis se manifestar. Campos acompanhou também a operação na sede do banco. Também houve buscas na casa do ex-diretor José Henrique Horta Neves.

A duas quadras da sede do Rural, outra equipe fazia buscas na empresa Radial Participações. Essa empresa teria relação com a Deal Financial Corporation. Um dos sócios da Radial Participações é o empresário João Bosco Assunção Esteves, irmão de Camilo de Lélis Assunção, um dos quatro doleiros presos em Minas no ano passado na operação Farol da Colina --que prendeu 60 doleiros em vários Estados.

Lá foram recolhidos duas caixas e um saco de documentos. Quando a PF chegou, por volta das 9h, havia apenas dois funcionários. Um chaveiro foi chamado para abrir um cofre e uma porta. Acabou abrindo apenas a porta, pois uma funcionária apareceu com a chave do cofre.

O mandado judicial de busca na Radial informava que a operação tinha por objetivo apreender "documentos e quaisquer outros meios de prova relacionados à manutenção de contas mantidas ou operações financeiras no exterior, bem como às offshores Trade Link Bank, Radial Enterprise e Deal Financial".

Computadores

O delegado Alexandre Leão disse que as investigações correm em segredo de Justiça e que, por isso, não poderia falar nomes de empresas e de pessoas. Segundo ele, não houve prisões. Ele disse, sem dar detalhes, que foram 15 mandados cumpridos em Belo Horizonte, um em Curvelo (centro do Estado), outro em Capitólio (sul de Minas) e mais dois no Rio. No Rio, ao menos um ex-diretor do Rural, Holton Brandão, foi ouvido pela Justiça.

Procurador da República no Paraná, Vladimir Aras, da força-tarefa, disse que tiveram êxito as diligências realizadas na operação. Segundo ele, o principal objetivo era apreender documentos e computadores de diretores do Rural que tinham ligação com a Trade Link.

"Somente depois de periciar todos os documentos e computadores e confrontarmos esses dados com o de outras investigações é que poderemos fazer um balanço da operação", disse Aras. Ele informou que a busca em Curvelo foi relacionada a doleiros envolvidos com a Radial Comércio Exterior, outra empresa ligada a João Bosco Esteves.

Especial
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