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14/10/2005 - 09h01

Delúbio induziu petistas, afirma Berzoini

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CONRADO CORSALETTE
da Folha de S.Paulo

O presidente eleito do PT, deputado Ricardo Berzoini, 45, afirmou ontem que "praticamente todos" os parlamentares do partido acusados de participar do esquema do publicitário Marcos Valério "foram levados" a buscar dinheiro de caixa dois pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

Para Berzoini, os seis deputados federais do partido ameaçados de cassação por estarem na lista de Valério podem até ficar livres de punição interna caso comprovem que agiram para pagar dívidas de campanha eleitoral.

"Se ele [o deputado] foi induzido a acreditar que recursos estavam saindo de fonte legalizada e tem condições de mostrar a destinação, ele pode ter agido para saldar dívidas acreditando se tratar de procedimento legal", disse.

Berzoini defendeu que Delúbio, acusado de ser o principal operador do suposto esquema do "mensalão", seja expulso na reunião do Diretório Nacional, marcada para o dia 22.

Em entrevista à Folha, também afirmou que, em 2006, o PT não deve barrar coligações com os atuais aliados do governo Lula, incluindo o PL e o PTB.

Folha - Com o sistema político atual, o PT aceita o caixa dois?

Ricardo Berzoini - Não é aceitável, mas não posso ser falso ou hipócrita e dizer que ele vai deixar de existir porque vão punir meia dúzia de parlamentares. O mero fato de ter legislação e eventuais punições não acaba com a prática se não se trabalhar para induzir a outra filosofia.

Eu arriscaria dizer hoje que em todos os partidos há financiamento registrado e não registrado. O que muda é que temos uma crise em que isso aparece como elemento central.

Já havia aparecido antes, no governo Collor, e também foi denunciado no governo Fernando Henrique. Mas, com Fernando Henrique, não houve CPI nem se aprofundou a investigação.

Folha - O PT, então, assume que é um partido igual aos outros?

Berzoini - Há caixa dois com corrupção e caixa dois sem corrupção. Corrupção é ter um relacionamento com o empresariado que condicione contribuições de campanha a decisões administrativas. Outra coisa é o financiamento de campanha, dentro da legalidade ou à margem. Não duvido que exista governantes de Estados que tiveram caixa dois e eles próprios não saibam.

Folha - Pelas apurações, há uma suspeita de ter havido favorecimento a empresas.

Berzoini - Não há nenhuma prova concreta ou indício tecnicamente adequado para levar à condenação de que houve corrupção.

Folha - O PT não titubeia ao não punir os acusados de caixa dois?

Berzoini - Os parlamentares denunciados estão numa comissão de sindicância do partido que já chegou a um certo estágio. Fizemos o debate no Diretório Nacional e a argumentação para não submetê-los agora à Comissão de Ética é que eles já tinham sido pronunciados pelas duas CPIs e estariam com processo aberto no Congresso. Seria criar mais uma frente para que se defendessem simultaneamente.

Folha - Na reunião do Diretório Nacional do dia 22 não deve ser aberto processo contra eles?

Berzoini - Em princípio, não. Quem decide é o diretório, mas o ideal é esperar o Congresso.

Folha - O senhor defende a expulsão de Delúbio?

Berzoini - Tenho convicção de que o diretório vai excluir Delúbio dos quadros partidários.

Folha - O partido acha que, com isso, o problema se resolve?

Berzoini - Não. Resolve-se o problema individual e disciplinar do Delúbio. Não exclui que possamos examinar os demais casos e possamos prevenir futuros eventos. Precisamos de mecanismos e normas para que haja transparência na gestão financeira.

Folha - A prática do caixa dois não é suficiente para que deputados sejam expulsos do partido?

Berzoini - O PT não examina a legalidade dos fatos. Examina a ética partidária. Esses parlamentares, praticamente todos, foram levados a buscar recursos dessa forma pelo comando do ex-tesoureiro. Houve uma situação em que o ex-tesoureiro dizia que havia o recurso no Banco Rural para pagar a dívida [de campanha].

Esse parlamentar foi lá e buscou. Pelo menos dois deles dizem que não tinham a menor noção de que se tratava de recursos não contabilizados. Todos apresentaram relatórios [ao partido] para mostrar para onde foi o dinheiro.

A dúvida hoje é qual vai ser o tratamento dado no Congresso. Percebemos que, em parcela do Congresso e também em parcela da imprensa, há uma fúria dirigida ao PT. Os parlamentares dos outros partidos, em especial da oposição, são tratados de maneira diferente. Vou citar o caso do senador Eduardo Azeredo [MG], presidente do PSDB, e os deputados Custódio Mattos [PSDB-MG] e Roberto Brant [PFL-MG].

Não tenho nada contra eles, mas não há nenhuma cobrança em relação ao presidente do PSDB, que continua na presidência sem que haja clamor público.

Folha - Porém no PT é possível um deputado ter usado caixa dois e não ter ferido a ética partidária?

Berzoini - Se foi induzido a acreditar que recursos estavam saindo de fonte legalizada e tem condições de mostrar destinação, ele pode ter agido para saldar dívidas acreditando se tratar de procedimento legal.

Folha - Os cassáveis, mesmo renunciando, devem ter garantida a legenda em 2006?

Berzoini - Não há garantia, mas não terão legenda automaticamente negada. Quem vai deliberar é a unidade do PT nos Estados.

Folha - Que tipo de alianças o senhor vai defender para 2006?

Berzoini - Vou defender a política de alianças que o Diretório Nacional aprovar. Mas acredito que o PT deve consolidar sua relação com os aliados tradicionais, o PC do B e PSB --precisamos soldar essa aliança-- e dialogar com partidos que integram a base.

Folha - Incluindo PL e PTB?

Berzoini - É possível que um partido queira ter um candidato de primeiro turno, mas não seria razoável, tendo esses partidos como aliados, já fixar limites para a política de alianças.

Vou trabalhar com a perspectiva de soldar acordos com aliados tradicionais e manter diálogo com outros partidos.

Folha - Quando era ministro da Previdência, houve o episódio do recadastramento de aposentados com mais de 90 anos [precisaram se apresentar em postos do INSS] que causou desgaste para o governo e para o senhor. Como vê o episódio?

Berzoini - Naquele momento, em 2003, quando houve um erro da minha equipe --não foi um erro pessoal meu, mas tenho característica de assumir responsabilidade--, eu confrontei aquele episódio com a minha biografia. E recebi o carinho e o apoio de praticamente todas as associações de aposentados.

Houve um erro de execução a partir de um subordinado. Decidi assumir a responsabilidade porque é uma questão de caráter. Podia ter demitido um subordinado e jogado a culpa nele.

É um episódio que deve ser enfrentado com dignidade. E faço isso com a cabeça erguida.

Folha - Não falta isso hoje ao partido e ao governo?

Berzoini - Pretendo, sempre que possível, assumir que a presidência do PT, embora não seja responsável por todas as áreas, é um cargo de representação que deve sempre se responsabilizar pelo conjunto do partido.

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