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20/11/2005
-
09h00
KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo
A política econômica não muda no principal, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apóia a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na disputa dela com o colega da Fazenda para diminuir o tamanho do arrocho fiscal e aproximá-lo o quanto puder, ainda neste ano, da meta oficial, que é um superávit primário de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
Mais: ao apoiar Dilma, Lula mantém sob controle a força de Palocci. Nos últimos dias, deu sinais de incômodo com a imagem de homem-forte do ministro da Fazenda, que ganhou ainda mais peso com a crise política.
"O presidente não vai deixar ninguém ser dono do governo", resumiu um auxiliar direto de Lula ao falar por que ele adiou o prometido apoio público a Palocci e só o fez na sexta-feira, dois dias depois de o ministro ter prestado depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Nos bastidores, Lula estimulou Dilma a pressionar Palocci no debate sobre liberação de verbas, mas reconheceu em conversas reservadas que o incentivo gerou uma crise indesejada --a quase queda do ministro da Fazenda, que se sentiu desautorizado porque a ministra o atacou de público e em tom que julgou desrespeitoso numa hora em que estava fragilizado por acusações de corrupção do tempo em que foi prefeito de Ribeirão Preto (SP).
Lula disse a auxiliares que o problema foi maior e pior do que imaginava, ao concordar que faltou a Dilma habilidade política para dar a entrevista em que chamou de "rudimentar" o plano de ajuste e no qual falou que a política monetária de juros altos enxugava gelo por não diminuir a relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto).
Política não muda
Lula tem dito que a política econômica não mudará. Isso significa que não deseja suavizá-la nem aprofundá-la. A discussão Dilma-Palocci pode ser resumida ao tamanho do superávit primário (economia do setor público para pagar os juros de sua dívida).
Na prática, a equipe econômica gostaria de fazer um superávit de cerca de 5% do PIB --de janeiro a setembro, o acumulado estava em 6,1% do PIB. Deverá conseguir algo em torno de 4,6%. Lula autorizou Dilma a brigar pelo número mais próximo possível de 4,25%.
Um superávit maior significa menos gastos em investimentos (projetos novos) e em custeio (programa sociais, manutenção de estradas, operação da máquina pública). Na visão da ministra da Casa Civil, isso reduz o crescimento da economia, impede a realização de obras e dificultará a reeleição de Lula em 2006.
Palocci pensa o contrário. Um superávit maior e de longo prazo (daí a discussão de fazê-lo por dez anos, como pregou em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos) gerará maior credibilidade junto aos investidores externos, evitará alta da relação dívida pública-PIB neste ano, produzirá um crescimento maior e será forte ativo eleitoral no ano que vem contra a oposição.
Nessa queda-de-braço, Lula concorda com Dilma. Acha que o esforço fiscal de 4,25% do PIB já é suficientemente alto. No entanto, na última quinta-feira, quando reuniu seus principais ministros, disse que marcaria novo encontro com eles para discutir economia. Leia-se: a proposta de Palocci e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, de um ajuste fiscal de longo prazo com superávit primário de 4,25% por dez anos.
Guerra interna
No desenrolar da disputa, Lula avalia que Dilma "exagerou" ao atacar Palocci. Mas também disse que o ministro da Fazenda também "exagerou" ao supostamente ter superdimensionado a crítica com a deliberada intenção de ficar forte no cargo ou de sair do governo federal como vítima de um complô pró-gastança.
Palocci, de fato, pensou em deixar o governo. Sofreu pressão da família nesse sentido e achou que Dilma merecia ser demitida. Quem conhece o ministro da Fazenda afirma que ele ainda vai trabalhar nesse sentido. Palocci venceu todas as disputas de bastidor com o antecessor de Dilma na Casa Civil, o deputado federal José Dirceu (PT-SP).
Quando o ministro cogitou sair, Lula deixou claro que uma eventual troca não significaria mudança de política. Disse que não faria isso a um ano da eleição e que o caminho trilhado nesses quase três anos seria mantido.
A hipótese de nomear o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), para o lugar de Palocci foi pensada na virada de sexta-feira para sábado da semana passada, quando o ministro da Fazenda viajou após conversa dura e franca com Lula.
Ao ver o noticiário sobre a eventual saída de Palocci, o presidente começou a se mexer para trabalhar pela permanência. Disse que só permitiria a saída do ministro na hipótese de uma acusação de corrupção se mostrar verdadeira, o que ele acha que não acontecerá. Por divergência na política econômica, Lula não tira Palocci nem com "tromba d'água", segundo expressão de um auxiliar direto.
Apaziguamento
Nos próximos dias, Lula se dedicará a tentar melhorar o relacionamento entre Dilma e Palocci. Apesar de gostar de estimular divergências internas, considera que elas geraram um clima de rivalidade pessoal que será prejudicial ao governo.
Durante a semana, Lula descobriu que, em junho, ministros se reuniram com a intenção de lançar um manifesto pedindo mais verbas com críticas à política de Palocci. Acabaram atropelados pela saída de José Dirceu da Casa Civil e pela elevação da temperatura da crise política.
Palocci também soube recentemente da tentativa de contestá-lo. Dois ministros que participaram da reunião de junho confirmaram à Folha que havia intenção de se fazer um manifesto "ponderado", segundo um deles.
Apesar de a maioria do PT apoiar Dilma, Palocci colheu apoios pontuais no partido. Essa guerra vai continuar.
Especial
Leia a cobertura completa sobre a crise em Brasília
Lula apóia Dilma e rejeita nova elevação do superávit
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da Folha de S.Paulo
A política econômica não muda no principal, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apóia a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na disputa dela com o colega da Fazenda para diminuir o tamanho do arrocho fiscal e aproximá-lo o quanto puder, ainda neste ano, da meta oficial, que é um superávit primário de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
Mais: ao apoiar Dilma, Lula mantém sob controle a força de Palocci. Nos últimos dias, deu sinais de incômodo com a imagem de homem-forte do ministro da Fazenda, que ganhou ainda mais peso com a crise política.
"O presidente não vai deixar ninguém ser dono do governo", resumiu um auxiliar direto de Lula ao falar por que ele adiou o prometido apoio público a Palocci e só o fez na sexta-feira, dois dias depois de o ministro ter prestado depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Nos bastidores, Lula estimulou Dilma a pressionar Palocci no debate sobre liberação de verbas, mas reconheceu em conversas reservadas que o incentivo gerou uma crise indesejada --a quase queda do ministro da Fazenda, que se sentiu desautorizado porque a ministra o atacou de público e em tom que julgou desrespeitoso numa hora em que estava fragilizado por acusações de corrupção do tempo em que foi prefeito de Ribeirão Preto (SP).
Lula disse a auxiliares que o problema foi maior e pior do que imaginava, ao concordar que faltou a Dilma habilidade política para dar a entrevista em que chamou de "rudimentar" o plano de ajuste e no qual falou que a política monetária de juros altos enxugava gelo por não diminuir a relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto).
Política não muda
Lula tem dito que a política econômica não mudará. Isso significa que não deseja suavizá-la nem aprofundá-la. A discussão Dilma-Palocci pode ser resumida ao tamanho do superávit primário (economia do setor público para pagar os juros de sua dívida).
Na prática, a equipe econômica gostaria de fazer um superávit de cerca de 5% do PIB --de janeiro a setembro, o acumulado estava em 6,1% do PIB. Deverá conseguir algo em torno de 4,6%. Lula autorizou Dilma a brigar pelo número mais próximo possível de 4,25%.
Um superávit maior significa menos gastos em investimentos (projetos novos) e em custeio (programa sociais, manutenção de estradas, operação da máquina pública). Na visão da ministra da Casa Civil, isso reduz o crescimento da economia, impede a realização de obras e dificultará a reeleição de Lula em 2006.
Palocci pensa o contrário. Um superávit maior e de longo prazo (daí a discussão de fazê-lo por dez anos, como pregou em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos) gerará maior credibilidade junto aos investidores externos, evitará alta da relação dívida pública-PIB neste ano, produzirá um crescimento maior e será forte ativo eleitoral no ano que vem contra a oposição.
Nessa queda-de-braço, Lula concorda com Dilma. Acha que o esforço fiscal de 4,25% do PIB já é suficientemente alto. No entanto, na última quinta-feira, quando reuniu seus principais ministros, disse que marcaria novo encontro com eles para discutir economia. Leia-se: a proposta de Palocci e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, de um ajuste fiscal de longo prazo com superávit primário de 4,25% por dez anos.
Guerra interna
No desenrolar da disputa, Lula avalia que Dilma "exagerou" ao atacar Palocci. Mas também disse que o ministro da Fazenda também "exagerou" ao supostamente ter superdimensionado a crítica com a deliberada intenção de ficar forte no cargo ou de sair do governo federal como vítima de um complô pró-gastança.
Palocci, de fato, pensou em deixar o governo. Sofreu pressão da família nesse sentido e achou que Dilma merecia ser demitida. Quem conhece o ministro da Fazenda afirma que ele ainda vai trabalhar nesse sentido. Palocci venceu todas as disputas de bastidor com o antecessor de Dilma na Casa Civil, o deputado federal José Dirceu (PT-SP).
Quando o ministro cogitou sair, Lula deixou claro que uma eventual troca não significaria mudança de política. Disse que não faria isso a um ano da eleição e que o caminho trilhado nesses quase três anos seria mantido.
A hipótese de nomear o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), para o lugar de Palocci foi pensada na virada de sexta-feira para sábado da semana passada, quando o ministro da Fazenda viajou após conversa dura e franca com Lula.
Ao ver o noticiário sobre a eventual saída de Palocci, o presidente começou a se mexer para trabalhar pela permanência. Disse que só permitiria a saída do ministro na hipótese de uma acusação de corrupção se mostrar verdadeira, o que ele acha que não acontecerá. Por divergência na política econômica, Lula não tira Palocci nem com "tromba d'água", segundo expressão de um auxiliar direto.
Apaziguamento
Nos próximos dias, Lula se dedicará a tentar melhorar o relacionamento entre Dilma e Palocci. Apesar de gostar de estimular divergências internas, considera que elas geraram um clima de rivalidade pessoal que será prejudicial ao governo.
Durante a semana, Lula descobriu que, em junho, ministros se reuniram com a intenção de lançar um manifesto pedindo mais verbas com críticas à política de Palocci. Acabaram atropelados pela saída de José Dirceu da Casa Civil e pela elevação da temperatura da crise política.
Palocci também soube recentemente da tentativa de contestá-lo. Dois ministros que participaram da reunião de junho confirmaram à Folha que havia intenção de se fazer um manifesto "ponderado", segundo um deles.
Apesar de a maioria do PT apoiar Dilma, Palocci colheu apoios pontuais no partido. Essa guerra vai continuar.
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