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20/11/2005 - 10h00

Morte de Toninho foi tramada, diz sushiman

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MAURÍCIO SIMIONATO
da Agência Folha, em Campinas

O senador Eduardo Suplicy (PT), membro da CPI dos Bingos, procura na região de Campinas (SP) um garçom de codinome "Jack" que afirma ter presenciado --escondido-- três reuniões em uma casa de bingo de Campinas, nas quais teria sido tramado o assassinato do prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT.

Toninho foi assassinado em 10 de setembro de 2001, na saída do Shopping Iguatemi, ao ser atingido por um tiro que entrou pelo ombro, atravessou o coração e o pulmão e saiu pelas costas. O Ministério Público e o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa) sustentam a tese de que Toninho foi morto por acaso, porque seu veículo estava atrapalhando a fuga da quadrilha do seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.

O depoimento de "Jack" pode mudar os rumos da investigação sobre a morte do prefeito. A sua versão já foi ouvida pelo Ministério Público e pela polícia. A Folha conversou com ele nas duas últimas semanas, na condição de não revelar o local do encontro, e ele reafirmou o seu depoimento.

"Jack" não quis dar entrevista. Diz estar com medo de ser assassinado. Mas ele já havia confirmado sua versão à Justiça, à Promotoria e à Polícia Civil. "Jack" diz não ser garçom, e sim sushiman.

"O depoimento dele é importante. Pedirei na próxima semana que ele seja ouvido", disse Suplicy. A família de Toninho diz que as informações dadas não foram investigadas devidamente.

Segundo os depoimentos de "Jack" à Justiça e aos promotores entre 2002 e 2003, as reuniões no bingo ocorreram nos dias 3, 4 e 5 de setembro de 2001. O depoimento contradiz a versão do Ministério Público e da polícia de que Toninho morreu porque atrapalhou a fuga de Andinho.

A viúva Roseana Garcia e a ONG "Quem matou Toninho?" discordam da versão oficial. Para a viúva, o assassinato teve motivação política, por Toninho ter contrariado interesses de "grupos poderosos". Garcia apontou falhas na investigação em depoimento na CPI dos Bingos, há duas semanas. Ela disse que o depoimento de "Jack" foi desqualificado pela Promotoria e pela Polícia Civil.

Bingo

"Jack" disse ter presenciado as reuniões na madrugada, atrás de uma mesa em um mezanino do bingo. Ele diz que, com a autorização de um segurança, pernoitava eventualmente no local.

Para um dos promotores do caso, Ricardo Silvares, o depoimento é importante, mas contradiz outras apurações. "O depoimento dele não foi desqualificado. Nós [promotores] é que pedimos para que ele fosse ouvido em juízo. Ele inclusive citou nomes de quem estaria presente na reunião. Mas esse é um depoimento. Existem outros depoimentos. E isso precisa ser analisado no contexto dos autos", disse Silvares, que ouviu "Jack" em 2002.

"Jack" contou a versão pela primeira vez em meados de 2002 em uma sala na Prefeitura de Amparo (SP) na presença do irmão de Toninho, Paulo Roberto da Costa Santos, além de petistas locais e integrantes da administração --até hoje governada pelo PT.

Depois disso, o irmão do prefeito conta ter levado a testemunha a São Paulo ao então advogado da família de Toninho e hoje ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A história foi relatada novamente. De lá, "Jack" foi encaminhado ao Ministério Público e confirmou sua versão.
Outro a conhecer a versão da testemunha foi o delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), de São Paulo, responsável pelo inquérito.

Procurado pela Folha, via assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Teixeira informou que "Jack" foi ouvido duas vezes pelo DHPP, na presença da Promotoria, e que o depoimento dele foi "desqualificado" por contradizer outras informações que estão nos autos.

Em nota, a secretaria informou na sexta-feira que "o DHPP investigou a morte do prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, reconstituiu o crime e concluiu que a quadrilha de Wanderson Newton de Paula Lima, o Andinho, foi autora do homicídio".

O ministro da Justiça foi procurado por meio de sua assessoria de imprensa, mas não se pronunciou sobre o assunto até a noite de sexta-feira. Dora Cavalcanti, que na época era sócia de Márcio Thomaz Bastos e hoje é advogada da família no caso Toninho, não soube confirmar se "Jack" esteve mesmo no escritório.

"Não posso afirmar se ele esteve com Bastos. Mas eu acompanhei um depoimento dele aos promotores, em Campinas. O que é relevante nessa história é o fato de ele nunca ter pedido nada e ser tão insistente. Ele descreveu a reunião com detalhes", disse Cavalcanti.

No processo, a testemunha descreve a fisionomia das pessoas que ele diz ter visto na reunião. Ele diz que os membros da reunião se tratavam entre si como "presidente", "delegado", "coronel" e "secretário", e um outro integrante tinha sotaque português.

Um dos integrantes, segundo ele, seria um traficante de drogas. Outro aparentava ser segurança de um dos presentes. Participaram da suposta reunião entre sete e nove pessoas. "Jack" diz que o grupo demonstrou claramente que se sentia prejudicado com a política adotada por Toninho.
Ouvidos pelo Ministério Público e pela Justiça, representantes do Bingo Taquaral --onde teria ocorrido a reunião-- negaram a versão e disseram que "Jack" nunca trabalhou no local.

O processo do caso Toninho continua em fase de instrução --ou seja, ainda está aberto para novas diligências e depoimentos.

Dopado

No dia 12 de dezembro de 2002, quando daria o seu primeiro depoimento à Justiça, "Jack" afirmou ter sido seqüestrado e dopado por um membro do PT de Amparo chamado Nilton Amancio, para que ele não prestasse depoimento.

Em depoimento posterior à Justiça, "Jack" afirmou que, no dia em estava marcada a primeira "oitiva", ele foi apanhado às 5h40 em um hotel de Campinas e levado para o pronto-socorro de Amparo. Depois diz ter acordado no município de Americana (SP).

O depoimento de "Jack" à Justiça foi remarcado dias depois e ele confirmou a versão da reunião ao juiz José Henrique Rodrigues Torres, da Vara do Júri.

Amancio negou que tenha tentado evitar o primeiro depoimento da testemunha à Justiça. "Isso nunca ocorreu. Eu o levei uma vez ao pronto-socorro de Amparo, mas foi porque ele pediu. Ele estava passando mal, suava frio e não foi no dia do depoimento dele na Justiça", disse Amancio.

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