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24/01/2006 - 10h32

Influência de Chávez divide cúpula do fórum

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RAFAEL CARIELLO
Enviado especial da Folha a Caracas

O 6º Fórum Social Mundial, em sua etapa americana (outras ocorrem na Ásia e na África), começa hoje em Caracas, na Venezuela, com o acirramento, provocado em parte pela presença do governo de Hugo Chávez no encontro, de uma divisão sobre as formas de sua realização e ação política.

A disputa política se dá no Conselho Internacional, principal comitê do fórum, e é representada, de um lado, pelos que defendem a Carta de Princípios original do encontro, pluralidade de propostas e discussões sem orientação centralizada e sua radical separação de governos e partidos, e, por outro, pelos que querem um programa mínimo de ação e comprometimento com ações políticas governamentais, particularmente as experiências de governos de esquerda na América Latina.

Em um texto publicado na edição deste mês do jornal francês "Le Monde Diplomatique", um dos idealizadores do fórum social, Ignacio Ramonet, defende que há um "esgotamento" da fórmula inicial do encontro e propõe que o fórum passe a apresentar "um grupo mínimo de alternativas" às propostas neoliberais.

Além das propostas de mudanças, Ramonet afirma que "esse debate será particularmente intenso na capital da Venezuela" e saúda o governo Chávez. "Pela primeira vez o fórum se celebrará em meio à Revolução Bolivariana e o conjunto de reformas que realiza o presidente Hugo Chávez."

O brasileiro Oded Grajew, outro idealizador do fórum e membro do conselho, diz que a presença de membros do governo Chávez no comitê local organizador "é um problema", e que se aproximar de governos traz riscos de cooptação e perda de identidade.

Ele afirma que de fato há dois grupos em disputa no conselho, mas minimiza o crescimento do representado por Ramonet e Bernard Cassen, também do "Monde Diplomatique" e da organização Attac (Associação pela Taxação das Transações Financeiras e pelo Auxílio aos Cidadãos), da França. "Como o processo do fórum cresceu", diz, "a velha cultura política faz com que as pessoas queiram tomar conta do processo e dirigi-lo numa direção". "Esse grupo, até agora, é minoritário, tanto que a Carta de Princípios é a mesma."

Grajew disse que propostas de introdução de um "comitê central" e de elaboração de uma carta final já foram feitas e rechaçadas pelo conselho. E ataca os colegas franceses: "Na França, de seis, sete anos para cá, a direita só ganhou espaço. O que está acontecendo?".

Para o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que há anos acompanha os fóruns sociais, "o conselho está dividido como nunca antes". Isso é resultado, ele diz, da ascensão dos governos de esquerda na América Latina, por um lado, e das ações unilaterais do governo de George W. Bush, por outro, que acirraram o discurso antiimperialista.

Há matizes entre as posições de Grajew e dos franceses. José Luiz Del Roio, também do Conselho Internacional, afirma que defende o conteúdo, mas não o tom do artigo de Ramonet. Ele diz que "é provável" que os que defendem a necessidade de se reduzir o número de campanhas do fórum tenha aumentado, mas que isso é um processo de discussão que não terminará na Venezuela.

O fórum neste país começa hoje. Amanhã, numa das principais atividades do evento, fundadores e organizadores debatem o "Futuro do Fórum Social Mundial".

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