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25/01/2006
-
09h04
RAFAEL CARIELLO
Enviado especial da Folha a Caracas
A coordenação local do Fórum Social Mundial em Caracas divulgou ontem números confusos sobre os valores já recebidos para o financiamento do evento e sobre os custos estimados.
Pelos valores fornecidos, o governo de Hugo Chávez já destinou ao fórum uma quantia maior do que os gastos operacionais estimados até o final do encontro --sem contar o patrocínio de empresas venezuelanas como a PDVSA (a estatal Petróleos de Venezuela), o empréstimo de salas do governo e a utilização pelo fórum de funcionários do Estado.
Questionado pelos repórteres durante uma entrevista coletiva, o coordenador de comunicação do grupo facilitador local, Julio Fermin, afirmou que os custos operacionais estimados são de cerca de US$ 50 mil --valor bastante inferior aos cerca de R$ 4 milhões despendidos no fórum do ano passado no Brasil. Ele acrescentou, no entanto, que aí não estavam incluídos os "patrocínios" de empresas, a maioria deles vindos do próprio governo, e que não tinha como fornecer valores consolidados naquele momento.
Ainda segundo Fermin, o governo Chávez contribuiu com US$ 69 mil para a fundação que administra os recursos financeiros do fórum. Organizações internacionais teriam contribuído com US$ 100 mil.
A transparência que faltou na comunicação dos valores à imprensa também se reflete no interior do fórum, pelo menos até agora. Integrantes do Conselho Internacional, principal comitê do fórum, não sabem estimar os custos e os valores recebidos até esse momento. O empresário Oded Grajew, membro do grupo, disse que os números serão conhecidos, já que o conselho receberá essas informações.
Num fórum que, pelos números fornecidos, é financiado de maneira praticamente integral pelo governo Chávez, integrantes do Conselho Internacional já questionam a autonomia do encontro.
O brasileiro Cândido Grzybowsky, do conselho e do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), em entrevista ao diário venezuelano "El Universal", afirmou: "Em Caracas, seremos quase totalmente dependentes de Chávez, o que restringe nossa capacidade para ter um discurso autônomo".
Questionado sobre o valor estimado de gastos, Grajew, que participou da organização dos fóruns no Brasil, afirmou que "o governo deve ter dado mais, não em dinheiro". Depois, enumerou as ajudas em fornecimento de infra-estrutura e funcionários. Disse crer que naquele momento de fato faltava transparência, mas que os valores seriam esclarecidos.
Questionado se teme pela independência do fórum, Grajew, que havia dito ver problemas na participação de membros do governo no comitê local, disse: "Tudo serve como aprendizado. Faremos certamente um balanço depois".
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o Fórum Social Mundial
Leia a cobertura completa sobre os fóruns globais
Fórum não esclarece como é financiado
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Enviado especial da Folha a Caracas
A coordenação local do Fórum Social Mundial em Caracas divulgou ontem números confusos sobre os valores já recebidos para o financiamento do evento e sobre os custos estimados.
Pelos valores fornecidos, o governo de Hugo Chávez já destinou ao fórum uma quantia maior do que os gastos operacionais estimados até o final do encontro --sem contar o patrocínio de empresas venezuelanas como a PDVSA (a estatal Petróleos de Venezuela), o empréstimo de salas do governo e a utilização pelo fórum de funcionários do Estado.
Questionado pelos repórteres durante uma entrevista coletiva, o coordenador de comunicação do grupo facilitador local, Julio Fermin, afirmou que os custos operacionais estimados são de cerca de US$ 50 mil --valor bastante inferior aos cerca de R$ 4 milhões despendidos no fórum do ano passado no Brasil. Ele acrescentou, no entanto, que aí não estavam incluídos os "patrocínios" de empresas, a maioria deles vindos do próprio governo, e que não tinha como fornecer valores consolidados naquele momento.
Ainda segundo Fermin, o governo Chávez contribuiu com US$ 69 mil para a fundação que administra os recursos financeiros do fórum. Organizações internacionais teriam contribuído com US$ 100 mil.
A transparência que faltou na comunicação dos valores à imprensa também se reflete no interior do fórum, pelo menos até agora. Integrantes do Conselho Internacional, principal comitê do fórum, não sabem estimar os custos e os valores recebidos até esse momento. O empresário Oded Grajew, membro do grupo, disse que os números serão conhecidos, já que o conselho receberá essas informações.
Num fórum que, pelos números fornecidos, é financiado de maneira praticamente integral pelo governo Chávez, integrantes do Conselho Internacional já questionam a autonomia do encontro.
O brasileiro Cândido Grzybowsky, do conselho e do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), em entrevista ao diário venezuelano "El Universal", afirmou: "Em Caracas, seremos quase totalmente dependentes de Chávez, o que restringe nossa capacidade para ter um discurso autônomo".
Questionado sobre o valor estimado de gastos, Grajew, que participou da organização dos fóruns no Brasil, afirmou que "o governo deve ter dado mais, não em dinheiro". Depois, enumerou as ajudas em fornecimento de infra-estrutura e funcionários. Disse crer que naquele momento de fato faltava transparência, mas que os valores seriam esclarecidos.
Questionado se teme pela independência do fórum, Grajew, que havia dito ver problemas na participação de membros do governo no comitê local, disse: "Tudo serve como aprendizado. Faremos certamente um balanço depois".
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