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27/01/2006 - 09h48

Brasil está perdendo o momento, diz Furlan

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CLÓVIS ROSSI
Enviado especial da Folha a Davos

O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) admitiu ontem publicamente que o Brasil "está perdendo momento" na cena internacional, na comparação com as duas grandes estrelas globais da atualidade, a Índia e a China.

"China e Índia não são mais avançadas, mas a velocidade delas é maior que a nossa", afirmou Furlan, ao final de um almoço sob o tema "Brasil e México-locomotivas gêmeas para o crescimento". O ministro incluiu o México ao lado do Brasil como país que perde espaço global.

Furlan ainda tentou listar as vantagens comparativas dos dois países latino-americanos sobre os dois gigantes asiáticos. Citou a "cultura" e disse: "Não precisamos ajustá-la aos padrões europeus e norte-americanos".

Citou a estabilidade política, acoplada ao fato de que México e Brasil adotaram "o caminho duro da democracia", sem mencionar diretamente o fato de que a China é um regime autoritário ou de que a Índia se proclama a maior democracia do mundo.

Lembrou também que Brasil e México vivem em paz com os vizinhos, alusão velada ao conflito Índia/Paquistão.

Mencionou também a liberdade de imprensa, como se ela não existisse igualmente na Índia.

Por fim, citou a auto-suficiência em energia e a abundância de água no Brasil, recurso que se torna mais e mais valioso.

Mas não teve outro remédio se não admitir que "crescimento é a palavra-chave" e, nesse campo, "eles se comportam melhor".

Passou, então, a listar os problemas que vê no Brasil e no Chile ou mesmo no conjunto da América Latina:

1 - Carência de infra-estrutura. Furlan acha que a do Brasil "ainda é melhor, mas eles estão se movendo mais rápido".

2 - Educação, "talvez o fator mais importante". É alusão ao fato de que todos os especialistas, internacionais ou indianos, dizem que o fator-chave para a ascensão da Índia é a educação de sua gente.

3 - Brasil e México não estão "atraindo suficiente investimento internacional".

Mas Furlan acha que, do ponto de vista da cultura político-empresarial, a grande diferença entre Brasil/México e Índia/China é "o compromisso de produzir resultados ['deliver', em inglês]".

Contou, a propósito, um encontro com o presidente mexicano, Vicente Fox, então recém-eleito (ano 2000). Fox lhe disse que faria uma reforma tributária. Furlan perguntou quando a reforma estaria em vigor. Resposta: "em abril".

Já como ministro, no ano passado, Furlan cruzou de novo com Fox e cobrou a reforma tributária prometida para abril de 2000. Fox respondeu: "Eu disse abril, mas não disse o ano".

É essa a falta de compromisso com os resultados concretos (o "deliver") que o ministro enxerga nos latino-americanos, brasileiros incluídos.

José Carlos Grubisich, executivo-chefe da petroquímica brasileira Brasken, preferiu apontar outro ângulo para a pouca atenção que se dá ao Brasil, ao México e à América Latina: "falta ambição".

Citou, então, o fato de que os juros estão caindo (no Brasil), "mas não muito", assim como os investimentos estão sendo feitos, "mas não muito".

Choradeira

O almoço em que Furlan apareceu sem estar originalmente na agenda acabou se transformando numa grande mesas de lamentações sobre o desaparecimento da América Latina da agenda de Davos.

José Grubisich, da Brasken, disparou: "Ninguém [em Davos] fala de Brasil, ninguém fala de México".

O ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo ainda tentou fazer o jogo do contente, ao lembrar, com razão, que a América Latina em anos anteriores fora o centro das atenções "pelas razões erradas" (ou seja, pelas sucessivas crises políticas, econômicas, sociais ou financeiras que o subcontinente viveu).

Mas teve que reconhecer que a presente estabilidade "não é suficiente". "Crescimento é a questão central", afirmou.

Enrique García, presidente da CAF (Corporação Andina de Fomento), foi pelo mesmo caminho, ao dizer que o crescimento de 3% ou 4% dos países da região é comparativamente ruim, ante os números portentosos de China e Índia (no mínimo o dobro).

Lembrou ainda que tanto Brasil quanto México caíram no mais recente ranking de competitividade elaborado sob encomenda do Fórum Econômico Mundial.

José Miguel Insulza, que foi ministro do governo Ricardo Lagos no Chile e hoje é secretário-geral da OEA (Organização de Estados Americanos), fechou a lista de lamentos:

"Tenho a sensação de que eles [Índia e China] têm o sentido exato de para onde estão indo, ao passo que nós não sabemos. Sonhamos muito, falamos muito, mas não fazemos" (o mesmo "deliver" de que se queixara Furlan).

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