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15/02/2006 - 10h07

Garotinho é tema de 6 das 11 escolas de samba de Campos

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RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio

É o samba do carnavalesco doido. A maioria das escolas de samba de Campos dos Goytacazes, a 279 km do Rio, tem como tema o ex-governador Anthony Garotinho, pré-candidato do PMDB à Presidência e nascido na cidade do norte fluminense.

"Político do povo, poeta popular, guerreiro do sol que nasceu sob a luz da magia na Lapa e vai da planície goytacaz ao Planalto, entre sonhos, lutas e vitórias." É assim que, em ano de eleição, Garotinho vai ser retratado pelas escolas de samba de Campos, seu reduto eleitoral que terá novo pleito municipal em 12 de março --o de 2004 foi anulado.

Das seis escolas que desfilam no Grupo Especial no Carnaval 2006, quatro tem Garotinho como tema --e uma homenageia seu candidato ao Senado, o presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, sem raiz histórica em Campos. No grupo de acesso, são duas entre cinco que falam do ex-governador. A única escola que não louva políticos, a Unidos de Santa Cruz, fala do "Mito da Criação-A Criação da Mentira".

Garotinho, porém, não vai desfilar. Assistirá de camarote, com a mulher e governadora do Rio, Rosinha Matheus, ao filho Vladimir representá-lo em um carro alegórico da escola de samba Ás de Ouro. A filha do casal, Clarissa, também deve desfilar.

"Defendendo os mais carentes, retratou a sua gente em verso e prosa. No seu jardim de fantasia floresceu da poesia sua mais linda rosa [Rosinha Matheus]", conta o samba "Garotinho: Político do Povo, Poeta Popular", da escola Ás de Ouro. "É Garotinho na fé, é Garotinho nos braços do povo", canta a Ururau da Lapa, agremiação do bairro onde ele nasceu e onde ainda hoje tem casa, vizinha à quadra da escola de samba.

As letras não são de Garotinho, mas poderiam ter sido. Fã de Carnaval, ele compôs e inscreveu sambas diversas vezes na União da Esperança, uma das escolas de Campos e sua escola de coração. Chegou a assinar a letra do samba-enredo de 1982. Não venceu essa disputa. Perdeu para a Mocidade Louca.

A razão para tanta generosidade e apoio é, segundo representantes das escolas, o fato de o político ser querido em Campos. "Em 2000, o Carnaval do Rio não foi todo sobre o Descobrimento do Brasil? Neste ano, Campos fala sobre o futuro presidente da República", explicou Dalton Gomes, presidente da Ás de Ouro e amigo de Garotinho "há mais de 30 anos".

Ricardo Viana, vice-presidente da Associação de Escolas de Samba de Campos (Aesc), diz que "alguém ser reverenciado por seis escolas mostra a força política de Garotinho e o quanto é querido pela sociedade". Viana é simpatizante do PMDB e aliado do candidato do partido à prefeitura, Geraldo Pudim.

Verba

Apesar de ser rival de Garotinho, a prefeitura vai contribuir com R$ 35 mil para cada escola do Grupo Especial --cujos gastos no Carnaval atingem em média R$ 300 mil. Será liberado R$ 1 milhão para 50 sociedades carnavalescas da cidade.

"O valor é o mesmo de 2004 e R$ 100 mil superior ao do ano passado. Se houvesse retaliação política, a gente não dava nada. Somos adversários ferrenhos, mas, se Garotinho vier na avenida, eu o receberei com elegância", disse Nilson Maria, presidente da Fundação Teatro Trianon, que cuida do Carnaval e da verba.

O dinheiro deve sair hoje ou amanhã. Ele vê, porém, uso político. "Acho que é propaganda eleitoral, fico constrangido", afirmou Nilson Maria.

O procurador eleitoral do Rio Rogério Nascimento afirmou à Folha que o Ministério Público Federal só poderia agir em caso de haver eventual propaganda eleitoral extemporânea se algum partido fizer representação no Tribunal Superior Eleitoral.

Também homenageado em Campos, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, dificilmente poderá alegar ser especialmente querido pela população local. Nas eleições de 2002, teve apenas 26 votos na cidade, com 226.660 eleitores. Picciani teve no total 46.385 votos.

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