Publicidade
Publicidade
18/02/2006
-
11h22
LEANDRO BEGUOCI
da Folha de S.Paulo
Em debate anteontem em São Paulo, a filósofa e professora da USP Marilena Chaui criticou a avaliação dos governos por meio da pessoa dos governantes: "Hoje, a avaliação ética dos governos não possui critérios próprios de uma ética pública, e se torna a avaliação moralista das virtudes e vícios dos governantes. Isso atribuiu a corrupção ao mau caráter dos dirigentes e não ao problema das instituições públicas".
A declaração foi feita em encontro do Fórum de Reflexão Política, cujos integrantes são petistas descontentes com os rumos da sigla, mas que ainda acreditam na capacidade da legenda de mudar o país. O objetivo do debate foi fornecer subsídios aos militantes para o Encontro Nacional do PT, em abril. O Fórum é formado por petistas, mas não é ligado ao partido nem a suas tendências.
Hamilton Pereira, presidente da Fundação Perseu Abramo, órgão de pesquisa do PT, formou a mesa junto com Marilena Chaui e concordou com a avaliação da filósofa. Pereira explicou que o PT se deixou afetar pelos valores que visava combater: "A cultura oligárquica do Brasil trouxe elementos para dentro do PT, como um certo autoritarismo". Porém, ele também disse que "devemos [os petistas] superar o discurso moralista sobre o qual nos baseamos para construir o PT".
Antes do debate, Hamilton Pereira proclamou um poema do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) chamado "Aos que hesitam". Um dos trechos do poema diz o seguinte: "Daquilo que dissemos, o que agora é falso: tudo ou alguma coisa? / Com quem contamos ainda? / Somos o que restou, / Lançados fora da corrente viva? / Ficaremos para trás, / por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo?".
Apesar de terem falado brevemente dos escândalos de corrupção que abalaram o partido, como o "mensalão", preferindo dizer que os problemas que atingiram o PT também são os do país, os dois debatedores não se furtaram a criticar a legenda.
Marilena disse que o PT está "engessado e aparelhado" e que a sigla não superou a crise de 2005. Sobre o futuro, disse que não faz sentido o partido se distanciar dos movimentos sociais: "Ou o PT mantém o vínculo com os movimentos sociais ou não tem razão de ser".
Para o presidente da Fundação Perseu Abramo, o PT tem uma "dívida com a sociedade brasileira por não ter feito uma crítica consistente ao neoliberalismo" em seus debates internos.
Quando o debate foi aberto a perguntas dos presentes, o tema da corrupção voltou. Paul Singer, professor da USP e atual secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, afirmou: "Nós [os petistas] sentíamos que havia corrupção, mas olhamos para o outro lado.
Quando o PT diz que quer dar a "volta por cima", o que pretende dizer? A volta por cima não pode ser o esquecimento". Depois, Singer contou que "estamos nos tornando um partido sem ideologia, e essa é a essência da nossa crise ".
Em seguida, alguns militantes contaram casos de votações dentro do partido vencidas na base da força dos dirigentes que ocupavam cargos públicos.
O ex-presidente do PT, Tarso Genro, deveria compor a mesa, mas não compareceu. Segundo a organização, ele foi chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma reunião, às pressas.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a Fundação Perseu Abramo
Marilena Chaui ataca "moralismo político"
Publicidade
da Folha de S.Paulo
Em debate anteontem em São Paulo, a filósofa e professora da USP Marilena Chaui criticou a avaliação dos governos por meio da pessoa dos governantes: "Hoje, a avaliação ética dos governos não possui critérios próprios de uma ética pública, e se torna a avaliação moralista das virtudes e vícios dos governantes. Isso atribuiu a corrupção ao mau caráter dos dirigentes e não ao problema das instituições públicas".
A declaração foi feita em encontro do Fórum de Reflexão Política, cujos integrantes são petistas descontentes com os rumos da sigla, mas que ainda acreditam na capacidade da legenda de mudar o país. O objetivo do debate foi fornecer subsídios aos militantes para o Encontro Nacional do PT, em abril. O Fórum é formado por petistas, mas não é ligado ao partido nem a suas tendências.
Hamilton Pereira, presidente da Fundação Perseu Abramo, órgão de pesquisa do PT, formou a mesa junto com Marilena Chaui e concordou com a avaliação da filósofa. Pereira explicou que o PT se deixou afetar pelos valores que visava combater: "A cultura oligárquica do Brasil trouxe elementos para dentro do PT, como um certo autoritarismo". Porém, ele também disse que "devemos [os petistas] superar o discurso moralista sobre o qual nos baseamos para construir o PT".
Antes do debate, Hamilton Pereira proclamou um poema do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) chamado "Aos que hesitam". Um dos trechos do poema diz o seguinte: "Daquilo que dissemos, o que agora é falso: tudo ou alguma coisa? / Com quem contamos ainda? / Somos o que restou, / Lançados fora da corrente viva? / Ficaremos para trás, / por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo?".
Apesar de terem falado brevemente dos escândalos de corrupção que abalaram o partido, como o "mensalão", preferindo dizer que os problemas que atingiram o PT também são os do país, os dois debatedores não se furtaram a criticar a legenda.
Marilena disse que o PT está "engessado e aparelhado" e que a sigla não superou a crise de 2005. Sobre o futuro, disse que não faz sentido o partido se distanciar dos movimentos sociais: "Ou o PT mantém o vínculo com os movimentos sociais ou não tem razão de ser".
Para o presidente da Fundação Perseu Abramo, o PT tem uma "dívida com a sociedade brasileira por não ter feito uma crítica consistente ao neoliberalismo" em seus debates internos.
Quando o debate foi aberto a perguntas dos presentes, o tema da corrupção voltou. Paul Singer, professor da USP e atual secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, afirmou: "Nós [os petistas] sentíamos que havia corrupção, mas olhamos para o outro lado.
Quando o PT diz que quer dar a "volta por cima", o que pretende dizer? A volta por cima não pode ser o esquecimento". Depois, Singer contou que "estamos nos tornando um partido sem ideologia, e essa é a essência da nossa crise ".
Em seguida, alguns militantes contaram casos de votações dentro do partido vencidas na base da força dos dirigentes que ocupavam cargos públicos.
O ex-presidente do PT, Tarso Genro, deveria compor a mesa, mas não compareceu. Segundo a organização, ele foi chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma reunião, às pressas.
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice