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06/04/2006 - 09h46

Depoimento de Palocci consolidou suspeita da PF contra ex-ministro

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ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O ex-ministro Antonio Palocci é o principal suspeito, para a Polícia Federal, de ter dado em 16 de março a ordem para quebrar o sigilo da conta que o caseiro Francenildo dos Santos Costa mantém na Caixa Econômica Federal.

A suspeita se apóia principalmente em duas revelações feitas por Palocci ao depor à PF anteontem: a de que tomou conhecimento por meio da jornalista Helena Chagas, do jornal "O Globo", de que o caseiro recebeu dinheiro; e a de que destruiu os extratos somente quatro dias depois de recebê-los, quando soube que o caseiro seria investigado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda.

Em seu depoimento, Palocci confirmou ter recebido os dados bancários na noite de 16 de março, em sua casa. Os documentos foram entregues a ele pelo então presidente da Caixa, Jorge Mattoso. Palocci, porém, nega ter dado a ordem para a violação do sigilo.

Ouvido anteriormente, Mattoso disse que "pensou em pesquisar se o caseiro" tinha conta na Caixa, diante do fato de que "havia sido levantada a questão de existência de movimentação atípica".

Legalmente, não há diferença entre ser mandante ou participante de crimes de violação de sigilo funcional e quebra de sigilo bancário, pelos quais Palocci e Mattoso foram indiciados. As penas chegam a seis anos de prisão.

Para a PF, não é plausível que uma operação ilegal tão arriscada tenha sido feita sem ordem superior.

Trabalha-se com a possibilidade de que as versões de Palocci e Mattoso tenham sido combinadas para encobrir motivação de Palocci de atingir o caseiro.

Reforça essa convicção, baseada em relato de Palocci, o fato de que ele soube pela jornalista sobre quantias recebidas pelo caseiro.

O relato de Chagas ao ex-ministro teria sido baseado em informações que ela recebera de seu jardineiro. A jornalista mora em uma casa vizinha da que seria freqüentada por ex-assessores de Palocci e também por ele, no bairro do Lago Sul, em Brasília.

A casa alugada por ex-assessores do ex-ministro ficou conhecida como a "casa do lobby". O caseiro afirmou à CPI dos Bingos que no local havia festas e distribuição de dinheiro de origem suspeita.

A jornalista deve ser ouvida pela PF. A sucursal de "O Globo", em Brasília, da qual Helena Chagas é diretora, distribuiu nota dizendo que ela "foi procurada pelo ministro Palocci, que buscava obter informações sobre uma possível movimentação financeira estranha do caseiro. A jornalista disse ao ministro que o jornal tomou conhecimento dessa versão, que circulava em Brasília, mas que não ela não foi confirmada. Por isso, o jornal nada publicou".

Outro elemento que reforça as suspeitas da PF sobre Palocci é o fato de, durante todo o interrogatório, ele tentar apresentar como parte de suas atribuições de ministro da Fazenda acompanhar e fiscalizar movimentações bancárias atípicas, como a do caseiro, a fim de evitar problemas de imagem para a Caixa Econômica.

Palocci deixou claro que acompanhou os trâmites relativos ao caseiro pessoalmente e só destruiu os extratos ilegais quatro dias depois que os recebeu, quando teve a certeza de que a Caixa já encaminhara ao Coaf uma relatório apontando atipicidade na movimentação bancária.

Ainda no depoimento, Palocci afirmou não ter mostrado ou repassado os extratos a ninguém. Conta que seu então assessor de imprensa, Marcelo Netto, estava indignado com as acusações de que ele teria participação no vazamento dos dados bancários do caseiro para a revista "Época".

Por fim, Palocci disse que, ao convocar o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, para uma reunião em 19 de março, quando foi quebrado o sigilo do caseiro, não teve intenção de sugerir que a PF investigasse Francenildo.

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