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14/04/2006 - 09h09

Presidente da Nossa Caixa contradiz versão de Alckmin

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LEANDRO BEGUOCI
FREDERICO VASCONCELOS
da Folha de S.Paulo

O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, disse ontem que Jaime de Castro Júnior, ex-gerente de marketing do banco, tratava diretamente da publicidade da estatal com Roger Ferreira, ex-assessor de comunicação do governo de São Paulo.

Esta versão é diferente da divulgada por Ferreira e também colide com a apresentada por Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e candidato à Presidência.

Em nota divulgada anteontem, Ferreira disse que a Nossa Caixa "não tem nenhuma subordinação formal ou informal, no que se refere à comunicação, a nenhuma instância ou pessoa exterior à empresa".

Por sua vez, Alckmin disse, quando a Folha revelou que a Nossa Caixa beneficiava com propaganda seus aliados na Assembléia Legislativa, que "o governo do Estado não interfere em banco público" e que "o critério de distribuição da mídia do governo é eminentemente técnico".

Monteiro contradiz a versão de Ferreira e Alckmin ao apresentar o decreto de número 43.834, de 1999. O decreto mostra que todo o plano de comunicação do banco deve ser submetido à Assessoria Especial de Comunicação do Estado, que era gerida por Ferreira.

Segundo Monteiro, que ontem deu entrevista a três jornais, o decreto estabelece que o plano de marketing do banco não precisava passar pela presidência do banco: "O relacionamento era do marketing com o Sicom, é outra coisa que está no decreto", afirmou. O Sicom é o Sistema de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, ligado a pasta que Roger Ferreira comandava.

Monteiro também disse que não tinha "nem idéia de quais são [eram] os critérios" usados para a veiculação de publicidade. E acrescentou: "O que cabe à diretoria do banco? Aprovar as políticas gerais de propaganda. Não cabe a mim dizer onde colocar os anúncios". Ao exemplificar como eram as relações da Nossa Caixa com a assessoria de comunicação do governo de São Paulo, Monteiro relatou: "Uma vez recebi uma bronca dele [Ferreira] por escrito porque tínhamos feito uma campanha de televisão sem mostrar para ele, porque o decreto diz que tem que mostrar".

Questionado se gostaria que o banco tivesse autonomia para gerir a política de comunicação, afirmou: "Adoraria".

Apesar das declarações, Monteiro nega ingerência política de Alckmin na política de comunicação do banco: "Aqueles e-mails [trocados entre Ferreira e Castro Júnior, que indicam favorecimento de aliados de Alckmin] não afetaram em nada o negócio do banco mesmo em relação ao marketing. É o tipo de anúncio que o banco faria".

Depoimento

Monteiro distribuiu cópia do depoimento que o ex-gerente de marketing --demitido do cargo depois que uma sindicância apontou irregularidades no setor-- prestou ao Ministério Público, na véspera. O ex-gerente sustentou que Roger Ferreira "interferia nas ações de marketing do banco".

Disse que "recebeu ordem do então assessor de comunicação" do governo para enviar carta às agências Full Jazz e Colucci --que prestaram serviços para a Nossa Caixa depois que seus contratos haviam expirado-- manifestando interesse na prorrogação dos contratos.

Castro Júnior sustentou que os pedidos de publicidade (conduzidos ou não por políticos) eram "deferidos pela presidência" do banco. Ou seja: por Carlos Monteiro, que nega a acusação e diz que Castro Júnior mente. A Folha procurou o ex-gerente de marketing, mas ele não se manifestou.

Embora não tenha apontado veículos ligados a deputados, o ex-gerente ratificou "integralmente" as manifestações escritas que entregara à Comissão de Sindicância da Nossa Caixa, nas quais cita o direcionamento das verbas de publicidade para atender à base aliada do governo. Cópia da sindicância foi solicitada pelo Banco Central.

Ontem, na entrevista, Monteiro admitiu que somente enviou a sindicância interna ao Ministério Público quando o órgão requisitou. Com base em informações do banco sobre a publicidade irregular --sem contrato--, o então governador Alckmin havia dito que "quando a Nossa Caixa percebeu que houve erro lá dentro, fez uma sindicância, demitiu o responsável, comunicou ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas".

Monteiro diz que não tinha motivo para levar o caso ao Ministério Público. "Não tinha indício de crime", explicou. "Houve uma irregularidade administrativa enorme, mas não é crime."

Alckmin, que ontem esteve em Londrina (PR), não quis comentar as declarações do presidente da Nossa Caixa. Afirmou que não conhecia o teor da entrevista. Procurado ontem pela Folha, Roger Ferreira, que deixou o cargo no mês passado, reiterou o conteúdo da nota divulgada anteontem.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o caso Nossa Caixa
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