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21/04/2006 - 08h59

PF analisa ouvir Lula sobre a existência do mensalão

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ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A Polícia Federal quer ouvir todos os "agentes públicos" que teriam sido informados pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) "da existência de repasse de recursos para a base aliada". Segundo a Folha apurou, entre os possíveis "agentes públicos" que podem ser ouvidos está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O pedido, encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) no dia 8 de março, não cita o nome do presidente, mas diz ser conveniente, para continuar a investigação, ouvir os "agentes públicos que teriam sido comunicados" por Jefferson "da existência de repasse de recursos para a base aliada", o mensalão.

Em entrevista à Folha em junho do ano passado, quando revelou a existência do mensalão, Jefferson disse ter contado ao presidente sobre o mensalão em janeiro de 2005. O encontro entre Jefferson e Lula, disse o ex-deputado, também foi presenciado pelo ministro Walfrido Mares Guia (Turismo). As informações foram confirmadas por Jefferson em depoimento à CPI dos Correios.

"Quando eu contei [...] a reação do presidente foi de facada nas costas: "Que é isso?". Eu contei, as lágrimas desceram dos olhos dele. Ele levantou, me deu um abraço e me mandou embora", afirmou o deputado cassado na época. Lula negou ter chorado.

Ainda segundo o depoimento de Jefferson à CPI, o assunto foi retomado com o presidente dois meses depois. Desse encontro também participaram, de acordo com o petebista, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), além do deputado José Múcio (PE), presidente do PTB.

Ouvidos pelo Conselho de Ética da Câmara, Múcio e Rebelo confirmaram o ocorrido.

Outros avisados

Outros interlocutores a quem Roberto Jefferson afirma ter contado sobre a mesada paga aos parlamentares da base aliada são o chefe-de-gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Miro Teixeira (Comunicações) e Ciro Gomes (Integração Nacional), além do ex-presidente do PT José Genoino.

Para ser submetida à decisão do ministro Joaquim Barbosa, presidente do inquérito que investiga o mensalão no STF, a realização dos depoimentos pedidos pela PF terá sua conveniência avaliada antes pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza.

O interrogatório dos "agentes públicos" consta do subitem "D" do item "II" do despacho em que a PF pediu, em 8 de março, mais prazo para dar continuidade às investigações sobre o mensalão.

Os 40

Segundo sua assessoria de imprensa, o procurador-geral ainda não analisou os pedidos encaminhados pela PF.

Essa avaliação foi preterida, naquele momento, porque Antonio Fernando optou por apresentar ao STF, 22 dias depois que a PF mandou o inquérito para o Supremo, a denúncia em que acusa 40 pessoas, entre deputados, ex-deputados e assessores da Câmara, empresários e banqueiros, por prática de crimes como formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção passiva e ativa, peculato, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro.

Apresentada a denúncia, o ministro Barbosa suspendeu o sigilo de Justiça do caso. Os advogados dos acusados podem ter acesso aos documentos que compõem a investigação, iniciada em junho do ano passado.

Na denúncia assinada pelo procurador-geral, não há nenhuma referência a eventual conhecimento ou omissão do presidente Lula no que diz respeito ao mensalão. Em seu relatório final, a CPI dos Correios abriu um capítulo específico sobre o assunto.

"Ciência do presidente"

Ao analisar "A Ciência do Presidente", o documento afirma que Lula não teria dificuldade, pelo cargo que ocupa, de perceber como "a maioria parlamentar se forjava". Ressalva, no entanto, "não ter qualquer fato que evidencie haver [o presidente] se omitido".

Ao tornar pública a denúncia do mensalão, o procurador-geral disse que os 40 denunciados constituem uma primeira fase da investigação, que irá prosseguir em relação aos demais personagens envolvidos na captação e repasse de recursos ilegais para políticos.

Segundo reportagem da Folha do dia 13, dessa segunda fase sairão novas denúncias. Um dos alvos da investigação da Procuradoria é o presidente Lula.

Nesse último despacho encaminhado ao STF em março, a PF sugere sete diligências. Além dos interlocutores de Jefferson, pede-se: quebra de sigilo telefônico de 12 linhas que seriam utilizadas pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, quebra do sigilo contábil e bancário do PT nos últimos cinco anos e o depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Em ofício encaminhado ao Conselho de Ética da Câmara, o governador tucano afirma ter relatado "ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. [...] O senhor presidente disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria".

A conversa, ainda conforme o ofício, ocorreu no trajeto entre uma unidade da Perdigão e o aeroporto, durante visita de Lula ao município de Rio Verde (GO), em 5 de maio de 2005.

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