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18/05/2006
-
02h34
PEDRO SOARES
RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio
Quase 14 milhões de brasileiros (ou 7,7% da população) viviam em domicílios nos quais a fome esteve presente ao menos um dia em 2004, revela a primeira pesquisa sobre Segurança Alimentar feita pelo IBGE, como suplemento da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).
Considerando todos os níveis de insegurança alimentar, 72 milhões de pessoas (39,8%) estavam vulneráveis à fome em maior ou menor grau: tinham preocupação com a falta de dinheiro para comprar comida, perderam qualidade em sua dieta ou ingeriram alimentos em quantidade insuficiente. Eram 18 milhões de domicílios afetados pelo problema --ou 34,8% do total.
Segundo o levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que usou metodologia adaptada ao Brasil, a insegurança alimentar grave (ao menos uma pessoa da família relatou ter sentido fome nos 90 dias anteriores à pesquisa) atingiu 6,5% dos domicílios do país, ou 3,35 milhões de lares. Clique aqui e veja o mapa.
Os 14 milhões de pessoas vulneráveis à fome representam menos de um terço dos 44 milhões usados como base para a implantação do Fome Zero. O cálculo indireto, a partir da renda, levou em conta linha de pobreza definida a partir de dados da Pnad-IBGE. Nesta pesquisa, a avaliação é direta, mensurada a partir da percepção dos entrevistados sobre sua segurança alimentar.
Para a economista Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ, os 72 milhões de pessoas em insegurança alimentar mostram que o contingente de pessoas abaixo da linha de indigência --sem dinheiro para consumir uma dieta de 2.200 calorias diárias-- é superior ao estimado pelo governo.
"A questão que se coloca é que a linha de indigência é então de 72 milhões de pessoas. Será que essas informações não servem para redefinir a linha do governo Lula, que estima 55 milhões de pessoas na pobreza? Essa é a conclusão que se tira dessa pesquisa", disse.
Segurança alimentar
Relacionada diretamente à renda, a segurança alimentar consiste no direito ao acesso regular e permanente de alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais.
A insegurança alimentar, por sua vez, está dividida em diferentes níveis: o leve inclui a preocupação com a possível falta de comida; o moderado representa perda da qualidade da alimentação e alguma restrição na quantidade de alimentos; o grave evidencia a fome.
Embora as metodologias das pesquisas sejam distintas, nos Estados Unidos a insegurança alimentar atingia 16,5% dos domicílios em 2002, sendo 3,5% desses classificados no nível grave. A escala brasileira foi adaptada da norte-americana.
A pesquisa mostra ainda que metade das crianças até 17 anos viviam em lares com algum grau de insegurança alimentar --50,5% na faixa de 0 a 4 anos e 48,3% na de 5 a 17 anos. Em geral, o problema diminui com a idade e a conseqüente capacidade de trabalho e geração de renda. Os domicílios com apenas adultos são menos suscetíveis à essa situação --presente em 24,2% desses lares - do que aqueles com crianças e adolescentes (42%).
Mais da metade (52%) das pessoas afetadas pela fome em seu domicílio viviam no Nordeste, que concentrava 7,24 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave. O Maranhão é o Estado com maior percentual de lares com o problema (18%).
Os pesquisadores foram a campo entre outubro e dezembro de 2004. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome encomendou e patrocinou a levantamento.
Em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia posto em dúvida a precisão de levantamentos sobre hábitos alimentares ao contestar a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, que demonstrava haver mais pessoas acima do peso do que com fome no país. "A fome não é coisa medida em pesquisa", havia dito.
Em 2003, o excesso de peso afetava 41% dos homens brasileiros e 40% das mulheres. A POF mede o consumo dos famílias e mostrou que o excesso de peso superava o déficit de peso oito vezes entre as mulheres e 15 vezes entre os homens.
Cenário
Apesar dos dados graves, o IBGE alerta: "O cenário não é a África, vamos deixar isso claro, embora no estágio mais grave seja identificada a fome", afirmou Márcia Quintslr, chefe da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE.
Demonstração disso é que, em domicílios com renda per capita de até um quarto de salário mínimo, a insegurança alimentar moderada ou grave chega a 61,2%. Para os lares com rendimento superior a três salários mínimos per capita, isso só se aplica a 1%.
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RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio
Quase 14 milhões de brasileiros (ou 7,7% da população) viviam em domicílios nos quais a fome esteve presente ao menos um dia em 2004, revela a primeira pesquisa sobre Segurança Alimentar feita pelo IBGE, como suplemento da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).
Considerando todos os níveis de insegurança alimentar, 72 milhões de pessoas (39,8%) estavam vulneráveis à fome em maior ou menor grau: tinham preocupação com a falta de dinheiro para comprar comida, perderam qualidade em sua dieta ou ingeriram alimentos em quantidade insuficiente. Eram 18 milhões de domicílios afetados pelo problema --ou 34,8% do total.
Segundo o levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que usou metodologia adaptada ao Brasil, a insegurança alimentar grave (ao menos uma pessoa da família relatou ter sentido fome nos 90 dias anteriores à pesquisa) atingiu 6,5% dos domicílios do país, ou 3,35 milhões de lares. Clique aqui e veja o mapa.
Os 14 milhões de pessoas vulneráveis à fome representam menos de um terço dos 44 milhões usados como base para a implantação do Fome Zero. O cálculo indireto, a partir da renda, levou em conta linha de pobreza definida a partir de dados da Pnad-IBGE. Nesta pesquisa, a avaliação é direta, mensurada a partir da percepção dos entrevistados sobre sua segurança alimentar.
Para a economista Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ, os 72 milhões de pessoas em insegurança alimentar mostram que o contingente de pessoas abaixo da linha de indigência --sem dinheiro para consumir uma dieta de 2.200 calorias diárias-- é superior ao estimado pelo governo.
"A questão que se coloca é que a linha de indigência é então de 72 milhões de pessoas. Será que essas informações não servem para redefinir a linha do governo Lula, que estima 55 milhões de pessoas na pobreza? Essa é a conclusão que se tira dessa pesquisa", disse.
Segurança alimentar
Relacionada diretamente à renda, a segurança alimentar consiste no direito ao acesso regular e permanente de alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais.
A insegurança alimentar, por sua vez, está dividida em diferentes níveis: o leve inclui a preocupação com a possível falta de comida; o moderado representa perda da qualidade da alimentação e alguma restrição na quantidade de alimentos; o grave evidencia a fome.
Embora as metodologias das pesquisas sejam distintas, nos Estados Unidos a insegurança alimentar atingia 16,5% dos domicílios em 2002, sendo 3,5% desses classificados no nível grave. A escala brasileira foi adaptada da norte-americana.
A pesquisa mostra ainda que metade das crianças até 17 anos viviam em lares com algum grau de insegurança alimentar --50,5% na faixa de 0 a 4 anos e 48,3% na de 5 a 17 anos. Em geral, o problema diminui com a idade e a conseqüente capacidade de trabalho e geração de renda. Os domicílios com apenas adultos são menos suscetíveis à essa situação --presente em 24,2% desses lares - do que aqueles com crianças e adolescentes (42%).
Mais da metade (52%) das pessoas afetadas pela fome em seu domicílio viviam no Nordeste, que concentrava 7,24 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave. O Maranhão é o Estado com maior percentual de lares com o problema (18%).
Os pesquisadores foram a campo entre outubro e dezembro de 2004. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome encomendou e patrocinou a levantamento.
Em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia posto em dúvida a precisão de levantamentos sobre hábitos alimentares ao contestar a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, que demonstrava haver mais pessoas acima do peso do que com fome no país. "A fome não é coisa medida em pesquisa", havia dito.
Em 2003, o excesso de peso afetava 41% dos homens brasileiros e 40% das mulheres. A POF mede o consumo dos famílias e mostrou que o excesso de peso superava o déficit de peso oito vezes entre as mulheres e 15 vezes entre os homens.
Cenário
Apesar dos dados graves, o IBGE alerta: "O cenário não é a África, vamos deixar isso claro, embora no estágio mais grave seja identificada a fome", afirmou Márcia Quintslr, chefe da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE.
Demonstração disso é que, em domicílios com renda per capita de até um quarto de salário mínimo, a insegurança alimentar moderada ou grave chega a 61,2%. Para os lares com rendimento superior a três salários mínimos per capita, isso só se aplica a 1%.
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