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30/05/2006 - 03h32

Jefferson diz que foi procurado por Dantas para denunciar PT

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da Folha Online

O deputado cassado e ex-presidente do PTB Roberto Jefferson (RJ) disse na terça-feira, em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura, que foi procurado por um advogado do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, para fazer denúncias contra o PT.

Segundo o ex-parlamentar, o contato foi feito no ano passado, quando Jefferson denunciou a existência do suposto um mensalão pago pelo governo aos deputados federais em troca de apoio nas votações do Congresso. "Na época das denúncias, fui procurado por um advogado dele [Daniel Dantas], através de uma deputada, querendo um encontro, que ele queria me municiar, me dar documentos para colocar à opinião pública", afirmou Jefferson. Ele disse não saber que documentos eram esses.

Jefferson afirmou que não aceitou o suposto convite de Dantas. "Eu disse que não queria. Ia levar minha luta pelo que eu sabia e tinha vivenciado", afirmou.

Na entrevista, Jefferson também comentou o temor que Dantas provocaria tanto entre políticos do governo Lula quanto do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Ele [Dantas] deve ter alguma relação que permita a ele ameaçar tanto a oposição quanto a governo", disse. Dantas acusa o governo Lula de ter cobrado cerca de US$ 50 milhões em propina do seu banco.

Segundo o ex-presidente do PTB, foi feito "um acordão entre PSDB, PFL e PT" para impedir a convocação de Dantas na CPI dos Bingos, em 23 de maio. O acordo, segundo ele, foi feito para livrar o governo atual e o de Fernando Henrique das denúncias do banqueiro. "Ele vem de participações recentes nas privatizações, nos fundos de pensão e atualmente na estrutura de relacionamento com o PT", afirmou.

Caixa dois sempre

"Eu sempre tive caixa dois", admitiu o deputado na entrevista. Perguntado se os seus dois filhos, que concorrem nas eleições de outubro, também utilizariam o mesmo estratagema, Jefferson negou. "Não vou fazer isso com eles. Com eles vou ter um cuidado muito grande", afirmou. As eleições de outubro, segundo ele, serão bem mais baratas, em razão da proibição de propaganda em camisetas e brindes, mas não serão limpas. "Certas coisas vão se repetir, não tão abusivamente como no ano passado, mas vão se repetir", avisou.

As denúncias de Jefferson sobre o mensalão levaram à cassação de três deputados, inclusive dele próprio. Dos outros 16 denunciados pelo esquema, 11 foram absolvidos e quatro renunciaram. O deputado José Janene (PP-PR) ainda aguarda julgamento.

Jefferson disse que impetrou dois mandados de segurança no Supremo Tribunal Federal questionando sua cassação. No entanto, afirma que o STF, como o Congresso e a Polícia Federal, teriam se tornado "segmentos subalternos ao PT".

Sanguessugas

Ele acusou o governo de usar a Polícia Federal como arma política no caso dos deputados "sanguessugas", acusados de compras superfaturadas de ambulâncias. Segundo ele, a PF começou a investigar os sanguessugas em 2002, mas só divulgou os resultados dos inquéritos em 2006, por ser um ano eleitoral.

Jefferson disse que o governo conhecia as irregularidades, mas continuou a liberar verbas de emendas ao Orçamento que sabia ilegais para poder atacar adversários políticos depois. "A Polícia Federal foi montada politicamente para atingir os inimigos do governo", disse.

Jefferson voltou a inocentar Lula do mensalão, atribuindo a prática ao núcleo duro do PT, formado por José Dirceu, Antonio Palocci, Luiz Gushiken, Silvio Pereira, Delúbio Soares e José Genoíno --que, segundo o ex-deputado, "jogavam bola nas costas do presidente". "A meu ver, o presidente peca por omissão", afirmou. "Lula não gosta de administrar, é mais um chefe de Estado. Ele elegeu um primeiro-ministro e viajou pelo mundo para fazer acordos internacionais. Colocar a mão na massa não é negócio dele, não."

Mesmo afirmando que tanto o PSDB como o PT representam interesses dos banqueiros, Jefferson disse que apoiaria Geraldo Alckmin, por ter mais afinidade ideológica com o PTB.

Leproso aidético

Jefferson falou com amargura do isolamento em que a cassação o atirou. "Eu recebia 80 ligações em média por dia no meu celular. Hoje, não passam de dez", compara. Advogado criminalista, disse que voltou a advogar, mas tem dificuldade para conseguir clientes. "As pessoas não querem ter uma petição assinada por mim temendo uma represália de governo" por meio da Polícia Federal. "As pessoas se afastam. Eu me sinto um leproso ou aidético", afirmou.

Mesmo cassado, Jefferson recebe uma aposentadoria mensal no valor de R$ 5.700 . Ele afirma que continua a fazer política, viajando "pelo Brasil inteiro" para defender os interesses do PTB, mas não tem mais vontade de disputar eleições.

Perfil

Jefferson foi um dos principais protagonistas do escândalo do "mensalão", que abalou o governo e o PT no ano passado, após uma entrevista publicada na Folha de S.Paulo.

Na entrevista à Folha, Jefferson denunciou que congressistas aliados recebiam o que chamou de um "mensalão" de R$ 30 mil. Ele também admitiu ter recebido R$ 4 milhões do PT para caixa dois de campanha das mãos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Citado como o líder do esquema de corrupção nos Correios, o ex-deputado foi um dos poucos parlamentares a terem seu mandato cassado pela Câmara.

Ele também consta da lista de 40 pessoas denunciadas pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sob a acusação de integrarem uma "organização criminosa" comandada pelo ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e pelos petistas José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira.

O deputado que fez as denúncias foi militante da tropa de choque do presidente Fernando Collor e sobreviveu a momentos turbulentos da política nacional. Além do processo de impeachment de Collor, resistiu à outra CPI, a do Orçamento.

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