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27/09/2006 - 10h33

Carros oficiais são vistos diante do comitê de Sarney

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MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial da Folha a Macapá

Dois carros chamavam a atenção ontem de manhã em frente ao comitê eleitoral do candidato à reeleição ao Senado José Sarney (PMDB-AP), no bairro de Santa Rita, em Macapá. O do Ministério da Saúde tinha a inscrição "Vigilância em Saúde". O da Infraero, empresa pública vinculada ao Ministério da Defesa, "Uso exclusivo em serviço". Os passageiros estavam no comitê. A legislação veta o uso de veículos oficiais em campanha eleitoral.

A possível irregularidade flagrada pela Folha não é única. Até anteontem o serviço telefônico instalado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá recebera cerca de 1.200 denúncias --uma para cada 301 eleitores (são 360.614 no Amapá). Até agora a Procuradoria Regional Eleitoral eleitoral de São Paulo recebeu 200 via internet.

O disque-denúncia foi criado para avisos de ilegalidades na propaganda, mas 50% dos chamados cita compra de votos.

Os casos são tantos que o procurador regional eleitoral, Paulo Roberto Olegário de Souza, empregou um neologismo em uma ação contra o governador Waldez Góes (PDT), que busca se reeleger pela mesma coligação de Sarney: "almoçomício", o comício com distribuição gratuita de comida.

No domingo, foram apreendidos envelopes com dinheiro que serviriam, conforme suspeita da PF, para pagar a atividade proibida de boca-de-urna.

O automóvel do Ministério da Saúde diante comitê de Sarney era um Chevrolet, com placa "Brasil - NEX 7623". Na parte externa, estampava o slogan "Um Brasil de Todos". O da Infraero, uma caminhonete Toyota, placa "Macapá NEP 4478". Dois homens que estiveram no comitê portavam crachá da Infraero. Até ontem o TRE não havia recebido denúncia sobre os carros.

A principal ação do Ministério Público tem 27 páginas e foi apresentada na semana passada. Pede a cassação do registro da candidatura ou (em caso de eleição) do diploma de Waldez Góes. A acusação é de compra de votos e uso da máquina pública em dois "almoçomícios".

Os eventos foram realizados em escola estadual e com a presença de funcionários com cargos de confiança. A direção liberou alunos e servidores mais cedo para participarem do "almoçomício". Equipamentos do colégio foram usados.

Dias depois de o MP ingressar com a ação, Góes e Sarney estiveram em um jantar nos mesmos moldes. Inexiste investigação sobre o evento.

O principal rival de Waldez, João Alberto Capiberibe (PSB), teve o mandato de senador cassado pelo TSE por acusação de comprar votos.

Ontem o procurador pediu a cassação do registro ou do diploma do deputado estadual Ocivaldo Gato, o Gatinho (PL). Dois cabos eleitorais seus e uma eleitora foram presos quando ela recebia areia em um loteamento. Anotações em poder dos três listam nomes de pessoas, o que elas ganhariam (até extrações de dente) e os votos que cabalariam. Gatinho faz parte da coligação encabeçada pelo PT ao governo do Estado e apóia Sarney.

O deputado Alexandre Barcellos (PSL) foi denunciado por oferecer vaga para cirurgia de laqueadura, desde que a paciente entregasse cópia de dez títulos de eleitores que, presumivelmente, votariam nele. Na mesa de cirurgia, os médicos descobriram que duas mulheres estavam grávidas.

Outro lado

A Infraero disse que o carro que foi ao comitê de José Sarney provavelmente levava um funcionário de Brasília, Álvaro Pacheco. Sarney disse saber que Pacheco gostaria de falar sobre obras no aeroporto de Macapá.

Já o Ministério da Saúde divulgou que carros como o que ontem levou pessoas ao comitê são comprados pela União e doados a Estados e municípios para o controle e prevenção de doenças.

A Folha ouviu Sarney na sede do jornal "Diário do Amapá". Ele comentou a apreensão de envelopes com o total de R$ 630 na casa de um cabo eleitoral. Disse ser impossível controlar todas as atividades eleitorais.

Sobre os veículos, Sarney afirmou: "Nem fui ao comitê nem freqüento o meu comitê". Gilvan Borges, da coordenação das campanhas de Sarney e Waldez Góes, disse que não houve irregularidade no "almoçomício": "O único objeto da escola utilizado foi uma panela". Os deputados acusados pelo Ministério Público não foram encontrados.

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