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04/10/2006
-
09h21
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha de S.Paulo
Em busca do eleitores de Cristóvam Buarque (PDT) e Heloisa Helena (PSOL), o tucano Geraldo Alckmin disse ontem, em entrevista à Folha, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está à sua direita neste segundo turno. "Sou mais à esquerda [do que ele] no apreço à democracia e no sentido econômico."
Enquanto tenta convencer os eleitores dos dois ex-petistas, Alckmin costura apoios na cúpula dos principais partidos. Ontem, conquistou parte do PMDB e conversou com o PV.
Ele diz, porém, que vencerá a eleição graças à "militância cívica" dos eleitores. "O PT tinha uma militância histórica, mas ela praticamente desapareceu. Nós passamos a ter, não digo uma militância partidária, mas uma militância cívica", disse.
Sobre o apoio de Anthony Garotinho, disse que o PT não poderá criticá-lo porque o peemedebista apoiou Lula anteriormente e fez diferença no Rio de Janeiro em 2002. De olho no apoio dos tucanos José Serra e Aécio Neves, Alckmin afirmou que, se eleito, poderá fazer um governo melhor sem se preocupar com reeleição. "No que depender de mim, vou acabar com a reeleição."
Alckmin recebeu a Folha à noite, no condomínio onde mora na zona sul de São Paulo, logo após receber homenagem de vizinhos e comerciantes.
FOLHA - O sr. recebeu hoje apoio de parte do PMDB. Como estão as negociações com os outros partidos?
GERALDO ALCKMIN - Parte expressiva no PMDB já nos apoiou no primeiro turno, em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Rondônia e Pernambuco. Além de deputados e prefeitos em todo o país. Agora, acho que temos a possibilidade de ter o PMDB no Rio Grande do Sul e recebemos o apoio da governadora do Rio. Tive uma conversa com o PV, com o PDT, o Cristovam me ligou. Estamos sempre procurando fazer conversas partidárias. Toda essa conversa se faz em três pilares: a questão da ética, a qualidade dos serviços públicos e o crescimento econômico.
FOLHA - Em que medida esses apoios revertem em votos?
ALCKMIN - Apoios são importantes para costurar uma governabilidade. Mas é claro que o eleitor tem enorme liberdade, esse comando de voto é pequeno no segundo turno. O que mais me entusiasma agora é a rua. Havia um grande desencanto, uma campanha fria, uma desilusão com a política. Nosso desafio é transformar esse desencanto em entusiasmo. Eu comecei a sentir isso nas duas semanas antes do primeiro turno, gente pedindo material, pedindo voto. É outra campanha.
FOLHA - No início, o sr. dizia que quando foi candidato a vereador de Pindamonhangaba começou andando sozinho na rua e terminou a campanha cercado de muita gente. Está acontecendo isso agora?
ALCKMIN - Aconteceu e continua acontecendo. Eleição é empatia. Estamos começando a ter uma coisa que o PT perdeu. O PT tinha uma militância histórica, mas ela praticamente desapareceu. Passamos a ter, não digo uma militância partidária, mas uma militância cívica, um grande voluntariado que entende que a política pode ser melhor, séria, honesta. Percebi isso no Brasil inteiro, ganhei, por exemplo, no Acre, onde o PSDB é muito pequeno. E aquela coisa de "Lula vai ganhar no primeiro turno" atrapalhou, deu uma desmotivada. Agora será muito diferente.
FOLHA - Qual será a pauta do sr. neste segundo turno, a economia ou o aspecto ético?
ALCKMIN - Uma campanha nunca é monotemática. Ética é um tema central até pela gravidade do que ocorreu no Brasil, não só nas últimas semanas, mas nos últimos três anos. O novo nome da ética também é eficiência. Esse aparelhamento do Estado atrapalha a gestão e leva à corrupção, é uma ação entre amigos, a patota.
FOLHA - O sr. não teme que o PT o acuse de não poder falar em ética por ter recebido o apoio do ex-governador Anthony Garotinho?
ALCKMIN - Isso é bobagem, meus compromissos não mudaram um milímetro. O Garotinho apoiou o Lula em 1989, 1994 e 2002, quando ele teve seis milhões de votos no Rio e o José Serra teve um milhão. Ele não me solicitou nada, eu quero voto, dele e de todos.
FOLHA - O sr. imagina que existirão muitos Ditões, aquele personagem de Pindamonhangaba que ficava em frente ao seus palanques gritando "bate, doutor", neste segundo turno?
ALCKMIN - Você não faz um campanha contra algo, mas a favor do Brasil. Agora, eu ando na rua e ouço isso o tempo inteiro, "bate, doutor, bate doutor". Tem um fato positivo nisso, as pessoas não perderam a capacidade de se indignar frente ao que está errado. Eles [petistas] já emudeceram no episódio da apreensão do dinheiro com os petistas. Ninguém fala da origem do dinheiro, das contas. Ninguém dá satisfação.
FOLHA - O banqueiro Olavo Setúbal disse que o sr. e Lula são igualmente conservadores. Isso ficará explícito agora?
ALCKMIN - O Lula está mais à minha direita porque não tem o apreço pela democracia. Essa é a primeira questão. Mario Covas dizia que, na vida pública, essa deve ser sempre a primeira qualidade, apreço à democracia. O governo Lula tem um perfil autoritário, que se manifesta no mensalão, na Ancinav, que é a tentativa de amordaçar a imprensa porque eles não gostam de críticas. Também está mais à direita na questão econômica. Política monetária, fiscal e cambial todo os governos precisam ter. Mas o que nos diferencia é a dosagem. Eles foram ultraconservadores, nesse sentido, mais à direita por causa do custo PT. A economia precisou ser mais ortodoxa porque o Lula falou 25 anos uma coisa e fez outra totalmente diferente. Sou mais à esquerda no apreço à democracia e no sentido econômico, minha agenda será a do crescimento.
FOLHA - José Serra e Aécio Neves sonham em disputar a Presidência. Agora com maiores chances de vencer, o que o sr. pensa da reeleição?
ALCKMIN - No que depender de mim, eu vou parar com a reeleição. Eu tive de deixar o governo paulista meio ano antes, mas o presidente fica onde está. Não há uma regulamentação adequada. Sem essa preocupação de reeleição, acho que poderei fazer um governo melhor.
Especial
Leia cobertura completa das eleições 2006
Alckmin afirma que Lula está à sua direita e defende o fim da reeleição
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da Folha de S.Paulo
Em busca do eleitores de Cristóvam Buarque (PDT) e Heloisa Helena (PSOL), o tucano Geraldo Alckmin disse ontem, em entrevista à Folha, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está à sua direita neste segundo turno. "Sou mais à esquerda [do que ele] no apreço à democracia e no sentido econômico."
Enquanto tenta convencer os eleitores dos dois ex-petistas, Alckmin costura apoios na cúpula dos principais partidos. Ontem, conquistou parte do PMDB e conversou com o PV.
Ele diz, porém, que vencerá a eleição graças à "militância cívica" dos eleitores. "O PT tinha uma militância histórica, mas ela praticamente desapareceu. Nós passamos a ter, não digo uma militância partidária, mas uma militância cívica", disse.
Sobre o apoio de Anthony Garotinho, disse que o PT não poderá criticá-lo porque o peemedebista apoiou Lula anteriormente e fez diferença no Rio de Janeiro em 2002. De olho no apoio dos tucanos José Serra e Aécio Neves, Alckmin afirmou que, se eleito, poderá fazer um governo melhor sem se preocupar com reeleição. "No que depender de mim, vou acabar com a reeleição."
Alckmin recebeu a Folha à noite, no condomínio onde mora na zona sul de São Paulo, logo após receber homenagem de vizinhos e comerciantes.
FOLHA - O sr. recebeu hoje apoio de parte do PMDB. Como estão as negociações com os outros partidos?
GERALDO ALCKMIN - Parte expressiva no PMDB já nos apoiou no primeiro turno, em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Rondônia e Pernambuco. Além de deputados e prefeitos em todo o país. Agora, acho que temos a possibilidade de ter o PMDB no Rio Grande do Sul e recebemos o apoio da governadora do Rio. Tive uma conversa com o PV, com o PDT, o Cristovam me ligou. Estamos sempre procurando fazer conversas partidárias. Toda essa conversa se faz em três pilares: a questão da ética, a qualidade dos serviços públicos e o crescimento econômico.
FOLHA - Em que medida esses apoios revertem em votos?
ALCKMIN - Apoios são importantes para costurar uma governabilidade. Mas é claro que o eleitor tem enorme liberdade, esse comando de voto é pequeno no segundo turno. O que mais me entusiasma agora é a rua. Havia um grande desencanto, uma campanha fria, uma desilusão com a política. Nosso desafio é transformar esse desencanto em entusiasmo. Eu comecei a sentir isso nas duas semanas antes do primeiro turno, gente pedindo material, pedindo voto. É outra campanha.
FOLHA - No início, o sr. dizia que quando foi candidato a vereador de Pindamonhangaba começou andando sozinho na rua e terminou a campanha cercado de muita gente. Está acontecendo isso agora?
ALCKMIN - Aconteceu e continua acontecendo. Eleição é empatia. Estamos começando a ter uma coisa que o PT perdeu. O PT tinha uma militância histórica, mas ela praticamente desapareceu. Passamos a ter, não digo uma militância partidária, mas uma militância cívica, um grande voluntariado que entende que a política pode ser melhor, séria, honesta. Percebi isso no Brasil inteiro, ganhei, por exemplo, no Acre, onde o PSDB é muito pequeno. E aquela coisa de "Lula vai ganhar no primeiro turno" atrapalhou, deu uma desmotivada. Agora será muito diferente.
FOLHA - Qual será a pauta do sr. neste segundo turno, a economia ou o aspecto ético?
ALCKMIN - Uma campanha nunca é monotemática. Ética é um tema central até pela gravidade do que ocorreu no Brasil, não só nas últimas semanas, mas nos últimos três anos. O novo nome da ética também é eficiência. Esse aparelhamento do Estado atrapalha a gestão e leva à corrupção, é uma ação entre amigos, a patota.
FOLHA - O sr. não teme que o PT o acuse de não poder falar em ética por ter recebido o apoio do ex-governador Anthony Garotinho?
ALCKMIN - Isso é bobagem, meus compromissos não mudaram um milímetro. O Garotinho apoiou o Lula em 1989, 1994 e 2002, quando ele teve seis milhões de votos no Rio e o José Serra teve um milhão. Ele não me solicitou nada, eu quero voto, dele e de todos.
FOLHA - O sr. imagina que existirão muitos Ditões, aquele personagem de Pindamonhangaba que ficava em frente ao seus palanques gritando "bate, doutor", neste segundo turno?
ALCKMIN - Você não faz um campanha contra algo, mas a favor do Brasil. Agora, eu ando na rua e ouço isso o tempo inteiro, "bate, doutor, bate doutor". Tem um fato positivo nisso, as pessoas não perderam a capacidade de se indignar frente ao que está errado. Eles [petistas] já emudeceram no episódio da apreensão do dinheiro com os petistas. Ninguém fala da origem do dinheiro, das contas. Ninguém dá satisfação.
FOLHA - O banqueiro Olavo Setúbal disse que o sr. e Lula são igualmente conservadores. Isso ficará explícito agora?
ALCKMIN - O Lula está mais à minha direita porque não tem o apreço pela democracia. Essa é a primeira questão. Mario Covas dizia que, na vida pública, essa deve ser sempre a primeira qualidade, apreço à democracia. O governo Lula tem um perfil autoritário, que se manifesta no mensalão, na Ancinav, que é a tentativa de amordaçar a imprensa porque eles não gostam de críticas. Também está mais à direita na questão econômica. Política monetária, fiscal e cambial todo os governos precisam ter. Mas o que nos diferencia é a dosagem. Eles foram ultraconservadores, nesse sentido, mais à direita por causa do custo PT. A economia precisou ser mais ortodoxa porque o Lula falou 25 anos uma coisa e fez outra totalmente diferente. Sou mais à esquerda no apreço à democracia e no sentido econômico, minha agenda será a do crescimento.
FOLHA - José Serra e Aécio Neves sonham em disputar a Presidência. Agora com maiores chances de vencer, o que o sr. pensa da reeleição?
ALCKMIN - No que depender de mim, eu vou parar com a reeleição. Eu tive de deixar o governo paulista meio ano antes, mas o presidente fica onde está. Não há uma regulamentação adequada. Sem essa preocupação de reeleição, acho que poderei fazer um governo melhor.
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