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08/10/2006 - 11h13

No RS, cidade quer "esmagar PT com dedo"

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LUIZ FERNANDO VIANNA
Enviado especial da Folha a Ipiranga do Sul (RS)

A cidade em que Geraldo Alckmin teve sua maior vitória proporcional no primeiro turno não votou em Geraldo Alckmin, mas contra Luiz Inácio Lula da Silva.

Das 1.209 pessoas (82,8% dos votos válidos) que escolheram o candidato tucano na pequeníssima Ipiranga do Sul, no noroeste gaúcho, tem gente que nem sabe bem como se chama o ex-governador paulista, mas sabe muito da crise que afeta a razão de ser do município: a agricultura. "Sempre houve altos e baixos, mas a agricultura nunca atravessou uma fase tão difícil", diz Pedro Rodighiero, 43, um dos maiores produtores de soja, milho, trigo e cevada da região, dono de 2.100 hectares.

No governo Fernando Henrique, os grandes proprietários conseguiram boas linhas de crédito para comprar máquinas e os produtos tiveram picos de preço. A saca da soja, por exemplo, chegou a R$ 52. Hoje, o piso dela é R$ 24, sendo que nas secas de 2003 a 2005 foi negociada até por R$ 17.

Lula não pode fazer chover, mas deveria, na visão dos produtores, desvalorizar o real para melhorar as exportações, elevar o preço mínimo da saca de soja para cerca de R$ 30 e dar grandes rebates (descontos) nos empréstimos do Banco do Brasil que precisam ser liquidados. "Tem gente que está pegando financiamento para pagar os anteriores e já vai acumular cinco financiamentos em 2007", diz Rodighiero.

A crise também afeta os pequenos. Odelci José Menetriér, 64, arrendou terra por 40 anos até herdar 12,5 hectares do pai. Já viu dinheiro sobrar, mas hoje ele e a mulher dependem das aposentadorias para viver. A soja, único grão que ainda planta, não tem dado lucro.

"Aqui na colônia [Linha de Lanora] eram 18 famílias, agora são nove. Estão indo embora. Mas só sei trabalhar na terra, não tenho estudo, o que eu vou fazer?", angustia-se ele, para quem "com Fernando Henrique já não era lá essas coisas, mas piorou muito, porque Lula detonou a agricultura".

Todos reconhecem que as atuais condições de financiamento para pequenos e médios produtores são boas, já que o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) empresta com juros em torno de 4% ao ano. Mas isso não basta. "Para quem deve só a planta [o financiamento para a safra], tudo bem, mas para quem fez investimento em tecnologia, não há como pagar, porque os preços das sacas estão muito baixos", queixa-se Nelson Beledelli, 63.

Para explicar o massacre de Alckmin, some-se a tanto descontentamento a situação política da cidade. Desde que se emancipou de Getúlio Vargas, em 1988, Ipiranga do Sul é controlada pelo PMDB. Os prefeitos são sempre produtores rurais e anti-PT.

"Mais de 90% das famílias sobrevivem da agricultura e estão em dificuldade por causa da inadequação da política cambial e da indefinição da agrícola. Elas encontraram no outro candidato [Alckmin] uma esperança", diz o atual prefeito, Gilberto Tonello, 43. Com a derrota de Germano Rigotto, ele também fará campanha para Yeda Crusius (PSDB) no segundo turno estadual contra Olívio Dutra (PT).

"Se a gente pudesse esmagar com o dedo o PT na cidade, a gente esmagava. Não vamos deixar se criarem aqui", promete o secretário de Administração, Ronei Cecconello, 42.

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