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19/10/2006 - 06h04

Presidente descarta reduzir número de ministérios

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da Folha de S.Paulo

Um dia depois da pesquisa Datafolha que lhe deu 19 pontos de vantagem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou quase como presidente reeleito. Mas evitou avançar na escalação do time com que pretende governar. O presidente descartou reduzir o número de ministérios. "Não há por que diminuir", afirmou o candidato, em resposta a críticas de seu adversário sobre o tamanho da máquina pública. Confira a terceira parte da entrevista.




Folha - O sr. disse naquele encontro com artistas na casa do Gilberto Gil: eu agora sei quem trabalha e quem não trabalha no governo, já sei tudo que eu vou fazer no segundo mandato. Eu queria saber se o sr. pretende fazer uma reforma administrativa, diminuir os ministérios?
Lula - Vocês cometem um equívoco ao tratar, do ponto de vista das despesas do Estado, a Secretaria da Igualdade Racial, a Secretaria da Mulher, a Secretaria da Pesca, a Secretaria dos Direitos Humanos... São secretarias a que dei o status de ministério porque eram uma reivindicação da sociedade organizada. Essas secretarias são secretarias simbólicas. A secretaria da Desigualdade Racial tem um Orçamento de R$ 18 milhões. Sabe, eu vou manter essas secretarias, não há por que diminuir.

Pergunta do leitor - Se eleito, o sr. manterá a quantidade de ministérios e quais são os nomes cogitados?
Lula - Se eu for o ganhador, eu vou começar a pensar imediatamente na montagem do novo governo. Obviamente que alguns companheiros irão continuar. Outros eu já sei que eles próprios não querem continuar. Então, vamos fazer as mudanças. Mas agora com muito mais experiência.

Folha - O sr. já disse que vai manter o Henrique Meirelles no Banco Central.
Lula - Você perguntou se eu ia tirar, eu disse que não ia. Mas me permita ganhar as eleições para tomar essas decisões.

Folha - E o Guido Mantega?
Lula - Ninguém é "imexível" e ninguém é "mexível" até eu ganhar as eleições. Nós vamos começar uma nova etapa da vida. E eu não posso falar quem vai ficar e quem vai sair.

Folha - O sr. admite a possibilidade de desvincular o salário mínimo da Previdência?
Lula - Não. Nós já tentamos isso desde a Constituinte de 1988 e não conseguimos. Isso não passa no Congresso. Nós vamos fazer como nós estamos fazendo agora. Sempre que permitir, aumentaremos um pouco mais o salário mínimo e vai aumentar o salário dos aposentados.
Não existe possibilidade de alguém dizer como eu vi outro dia nos jornais: vou cortar R$ 60 bilhões. Não existe de onde cortar. Ou este país volta a crescer, e volta a crescer 5 ou 6%, e é esse o nosso compromisso, seja com capital nacional, seja com capital estrangeiro.

Folha - O ministro Paulo Bernardo falou na possibilidade de aumentar a Desvinculação das Receitas da União. O sr. confirma?
Lula - Eu acho que o ministro tem o direito de falar o que bem entender. E chega o momento que tem uma decisão de governo. O Paulo Bernardo, a partir das eleições, que traga as propostas para discutir na minha mesa. E nós vamos ouvir vários ministros e tomar uma decisão.
O que eu acho é que nós não temos saída no Brasil. Alguém ficar tentando tirar R$ 1 bilhão daqui, R$ 1 bilhão dali, não conserta esse país. O que vai consertar agora é o crescimento. E as bases estão colocadas. O Brasil está preparado para um ciclo de crescimento duradouro.

Folha - Presidente, o sr. anunciou em maio de 2003 o espetáculo do crescimento. Seu amigo Marco Aurélio Garcia me recomendou que comprasse ingresso para o espetáculo e agora em 2006 eu sou obrigado a devolver, porque não aconteceu o espetáculo. Após três anos.
Lula - Você está sendo injusto comigo, porque em maio de 2003 você achava que o Brasil ia quebrar. Você achava que o paciente estava na UTI, que não tinha cura, e o paciente hoje está transitando livremente. Sabe por quê? Porque nós demos solidez às bases da economia brasileira.
Nunca este país teve tantos fatores combinando, eu tenho desafiado economistas brasileiros a me dizerem em qual momento da história republicana o Brasil teve tantos fatores combinando entre si, de um lado as coisas crescendo e do outro lado as coisas baixando.
Nós provamos que é possível aumentar as exportações com expansão do mercado interno. Provamos que é possível crescer com a inflação controlada. Provamos que é possível crescer com uma forte política social, de microcrédito, de crédito consignado, que são bilhões que entraram no mercado.
Por isso que eu posso olhar para vocês e dizer: a economia vai crescer e vai crescer de forma substancial.

Folha - Presidente, o sr. concorda com o consenso que existe entre economistas de que para crescer precisa haver muito investimento?
Lula - Concordo.

Folha - No Orçamento, o investimento público previsto para o próximo ano é de R$ 16 bi, um pouco parecido com a execução de outros anos. De onde o sr. vai arrumar o dinheiro para investimentos?
Lula - Você tem razão. Agora, é importante a gente fazer uma retrospectiva histórica. O último presidente da República a fazer investimento maciço em infra-estrutura foi o Ernesto Geisel. E ele fez alertado pelo Mário Henrique Simonsen de que não deveria fazer tudo aquilo porque o país ia quebrar. E de lá para cá o país nunca mais teve capacidade de investir. Eu queria que vocês, ao julgarem meu governo, analisassem o que houve de lá para cá.
Só a Petrobras já decidiu fazer investimentos da ordem de R$ 87 bilhões até 2011. Só o pólo petroquímico do Rio de Janeiro vai precisar de um investimento de R$ 14 bilhões. Só a refinaria em Pernambuco, são mais R$ 2,7 bilhões. A Transnordestina, mais R$ 4 bilhões.
O que não falta é projeto para investimentos corretos.

Folha - E o dinheiro?
Lula - O dinheiro virá da iniciativa privada, virá de financiamento do BNDES, de parceria com empresas internacionais. Vai melhorar porque os projetos estão prontos. Acho que essa coisa vai acontecer com dinheiro privado. Vai acontecer, e muito.

Pergunta do leitor - Como explicar que os banqueiros tiveram em seu governo o dobro do lucro que tiveram nos oito anos do governo anterior?
Lula - É verdade que os bancos ganharam dinheiro, mas é verdade também que vocês tiveram que escrever que, pela primeira vez, depois de 23 anos, as empresas ganharam mais que os bancos. É um dado altamente positivo. Em segundo lugar, quando os bancos ganham dinheiro, eles dão menos prejuízo à nação do que quando perdem. Porque quando perdem a gente tem que criar um Proer.
E quando há um Proer a gente está desgraçado. Os bancos têm que ganhar dinheiro. E também fazia muitos anos que os trabalhadores não ganhavam o que estão ganhando. Fazia muitos anos que a gente não conseguia fazer acordo acima da inflação. A sociedade melhorou de vida. Está comendo mais. Tendo mais perspectivas.

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