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01/11/2006 - 02h37

Veja a íntegra do discurso de José Serra

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da Folha Online

Leia abaixo a íntegra do discurso de José Serra:

"Desde a minha eleição em primeiro turno, a pergunta que mais me fazem é sobre as relações que manteria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso ele fosse reeleito. A cobrança se tornou mais intensa desde ontem.

Em primeiro lugar quero saudar o presidente eleito e desejar-lhe boa sorte. A boa sorte do presidente da República significa a boa sorte do nosso povo. Como governador de São Paulo e de forma sincera procurarei ter com ele as melhores relações institucionais possíveis.

Precisamos encerrar um difícil período da vida nacional, durante o qual desenvolvimento tornou-se um palavrão, e desenvolvimentista, um insulto.

A geração de brasileiros que chega hoje à idade adulta passou dois terços de sua vida num país livre da praga da inflação. Mas, desgraçadamente, viveu esse mesmo período numa sociedade com baixas taxas de crescimento e elevados índices de desemprego. E isto não se deve à estabilidade, até porque a maioria dos países não pára de crescer, de enriquecer, em condições de baixa inflação. Não crescíamos quando tínhamos superinflação, nem crescemos quando tivemos estabilidade de preços: vinte e cinco anos de economia semi estagnada. Somos hoje uma raridade mundial. Daqui a pouco, objetos de curiosidade científica.

Nossa tarefa é tirar o Brasil dessa armadilha que inibe a produção, fecha fábricas, esmaga o emprego e desqualifica o mercado de trabalho. O baixo crescimento não faz a boa redistribuição de renda: ele redistribui apenas a pobreza --torna os mais necessitados clientela cativa das políticas compensatórias-- justas, mas insuficientes.

A mais alta taxa de juros reais do mundo --apesar da bonança externa, da inflação baixa e do déficit público moderado, segundo os padrões internacionais-- dá conforto somente a quem não vive do trabalho. O câmbio distorcido estimula a importação de mercadorias que parecem baratas e exporta empregos que parecem obsoletos.

Devemos a Fernando Henrique Cardoso a obra monumental que devolveu ao Brasil o valor da moeda. Obra que seu sucessor preservou, à qual felizmente associou-se. Mas ninguém deve tolerar estagnação econômica por timidez e mesmo por covardia.

Além de desmontar a armadilha anti-crescimento, há outras questões vitais e urgentes para o futuro do Brasil, as quais cobram dos governantes iniciativas decisivas nos próximos meses. Destaco duas delas, prioritárias entre as minhas responsabilidades como governador do Estado de São Paulo.

A primeira depende, sobretudo, do governo deste Estado: segurança pública. Os delinqüentes e os bandidos do crime organizado sofrerão quatro anos de duro combate e de aplicação rigorosa das leis. Já me reuni com colaboradores da máquina de segurança do Estado e com os três comandantes militares da região, junto com o atual governador. Vi com satisfação o progresso da cooperação entre as esferas federal e estadual nas áreas de inteligência e informação, indispensáveis para o enfrentamento das organizações criminosas. Ainda estamos no começo do começo, mas espero que avancemos a passos largos.

Outra iniciativa relevante para o povo de São Paulo está na Saúde. O governo federal pode dar um grande passo regulamentando e cumprindo a Emenda Constitucional nº 29. É preciso que os Estados que não vêm cumprindo suas obrigações também o façam. Os malefícios disso para a população mais pobre vêm-se agravando. Em nome da focalização, não podemos jogar pela janela as políticas sociais universalistas, que são, aliás, vitais justamente para os mais pobres.

No caso da saúde, um exemplo é a situação dramática das Santas Casas e hospitais filantrópicos sérios. Em São Paulo, eles respondem por cerca de metade dos leitos hospitalares do SUS.

Por que esperar mais para dar uma resposta a quem mais precisa de nós? Se não agora, quando?

Na oposição, o PSDB se comportará com altivez. Aprendemos a ser humildes na vitória e altivos na derrota. É assim que honramos a vontade e a delegação de tantos milhões de brasileiros.

Não fomos, não somos, nem seremos adeptos do quanto pior melhor. Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais. Diante de cada projeto de lei ou de emenda constitucional, saberemos separar o que beneficia o país do que o atrasa; os interesses do governo dos interesses do Estado; as conveniências de um partido dos anseios da nação. Esta será nossa melhor contribuição à governabilidade do país.

Temos presente que a governabilidade é tarefa de quem obteve nas urnas o mandato para governar. Não me passa pela cabeça, por exemplo, transferir para a oposição o dever de assegurar a governabilidade do Estado que me elegeu.

À oposição cabe se opor não a tudo e a todos, mas ao que, a seu juízo, atente contra o espírito das leis, contra os fundamentos do Estado e contra o interesse da maioria. Isso vale para o Brasil. Isso vale para São Paulo.

Em suma, não esperem de mim o adesismo que não se respeita nem a agressão que não oferece respeito.

Como governador de São Paulo quero agradecer novamente o imenso apoio que tive nas eleições e que me possibilitou, pela primeira vez na historia de São Paulo, vencer no primeiro turno, com votação de segundo turno. Apoio de todas as classes, de todas regiões.

A todos e a todas reitero meu compromisso: faremos um governo popular, voltado ao desenvolvimento e aos setores mais necessitados do nosso povo, com responsabilidade fiscal e disposição para enfrentar, dentro da lei, os interesses que se oponham a esses objetivos.

Por último, permitam-me afirmar que não vou governar São Paulo de costas para o Brasil. Não encontrarão eco neste governador eleito os que quiseram acender rivalidades fictícias e fora de lugar e de hora, que militam contra os interesses do povo brasileiro.

São Paulo acolhe, não discrimina. São Paulo é o maior Estado nordestino depois do Nordeste; São Paulo tem o maior número de sulistas depois do Sul; de nortistas depois do Norte; de mineiros depois de Minas; de brasileiros do vasto Brasil central depois do Centro-Oeste.

A verdadeira identidade de São Paulo é a fraternidade brasileira. E assim continuará a ser comigo à frente do governo. "

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