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02/11/2006 - 09h37

Bastos quis controlar dossiê, diz delegado

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LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Folha de S.Paulo

O delegado Edmilson Bruno, que vazou as fotos do dinheiro apreendido com petistas para a compra de um dossiê contra o PSDB, disse à Procuradoria da República de São Paulo que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, interferiu politicamente na condução do caso e que chefes da Polícia Federal cercearam a investigação.

As declarações de Bruno, que prendeu Valdebran Padilha e o ex-policial Gedimar Passos no hotel Ibis com R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar o dossiê, foram feitas no dia 23 de outubro aos procuradores Elizabeth Kobaiashi, Roberto Diana e Melissa Garcia.

Ontem, o ministro da Justiça e o superintendente da PF paulista, Geraldo Araújo, repudiaram as declarações e disseram que o delegado Bruno é conhecido por apresentar diferentes versões para um mesmo fato (leia texto nesta página).

Presidente Lula

No depoimento à Procuradoria, o delegado Bruno afirmou que, horas depois de ter prendido os petistas no hotel Ibis, no dia 15 de setembro, estava no gabinete do superintendente Geraldo Araújo, onde teria escutado uma conversa deste com o ministro da Justiça.

Segue o relato feito pelo delegado Bruno aos procuradores: "O superintendente entra em contato com o ministro Márcio Thomaz Bastos, que indaga se os detidos falavam do presidente Lula. [...] Após consultar o interrogando [Bruno], responde que não, apenas mencionando o Diretório Nacional do PT".

Em seguida, ainda de acordo com o depoimento, o superintendente teria dito ao ministro da Justiça que não haveria prisões nem seriam feitas fotos do dinheiro apreendido.

Uma orientação oposta chegou à PF horas depois, por meio de um telefonema do diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda, que recomendou ao chefe da PF a prisão em flagrante dos dois envolvidos.

Segundo Bruno, depois disso, "o superintendente deixou claro que o ministro Márcio Thomaz Bastos demonstrara uma preocupação política com a figura do presidente Lula, por isso, não queria o flagrante nem as fotos, enquanto que o diretor-geral Lacerda se preocupava com a imagem da PF".

Desde o vazamento das fotos, Bruno está longe de suas funções na PF. Primeiro, foi afastado por recomendação de um médico psiquiatra. Depois, por conta dos inquéritos criminais abertos contra ele.

Freud

O diretor-executivo da PF paulista, Severino Alexandre, segundo homem do órgão no Estado, foi citado diversas vezes pelo delegado Bruno como o principal interessado em abafar a investigação.

Severino teria reprimido duramente o delegado após este ter ouvido o ex-policial preso Gedimar --foi neste depoimento que surgiu o nome de Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente Lula, como o suposto mandante da operação de compra do dossiê.

"Olha o problema que você criou para o governo, como vou costurar isso?", teria dito o diretor-executivo Severino.

Questionado pelos procuradores sobre um suposto encontro promovido nas dependências da PF entre Freud e Gedimar, quando este ainda estava preso, Bruno disse ter ouvido apenas comentários esparsos.

O delegado confirmou, no entanto, conversa entre o ministro e o superintendente, conforme noticiado pela revista "Veja", que relatou uma tentativa da PF em abafar o caso do dossiê. "Entre as quais, a de que Márcio Thomaz Bastos telefonou para saber se o presidente Lula havia sido citado no depoimento de Gedimar."

"Mão de Deus"

Em uma carta manuscrita, datada de 24 de outubro (um dia após o depoimento ao Ministério Público Federal) e enviada a um suposto vidente, Bruno relata as prisões dos petistas, o vazamento das fotos e os problemas na PF.

No início do texto, o delegado se colocou como um "instrumento nas mãos de Deus para que se fizesse justiça". No dia em que assumiu a divulgação das fotos, alegou ter agido assim por descontentamento com o comando da PF, que o afastou do caso do dossiê.

Na carta, o delegado afirmou que não mentiu quando falou em furto de um CD com as fotos do dinheiro apreendido. Disse que tinha três CDs e que um sumiu de sua mesa. Depois disso, decidiu distribuir cópia para a imprensa. Afirmou ainda que não pretendia enganar seus superiores. Ele não fez nenhum comunicado de roubo nem de furto.

O presidente do Sindicato dos Delegados da PF de São Paulo, Amauri Portugal, disse que Bruno estava "desesperado" quando escreveu a carta.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a suposta "operação abafa" contra o "dossiegate"
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