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27/11/2006
-
10h15
SILVIO NAVARRO
da Folha de S.Paulo, em Brasília
VERA MAGALHÃES
do Painel, em Brasília
APÓS DUAS derrotas consecutivas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB enfrenta um período de "depressão" e "ressaca pós-eleitoral", reconhece seu presidente, o senador Tasso Jereissati (CE). Além disso, vive o dilema entre ser oposição e atender aos crescentes assédios do Planalto. Tasso diz que, se for chamado, não se furtará ao "diálogo institucional" com Lula, mas reage à desconfiança de que o partido esteja moderado: "Somos incooptáveis".
Enquanto tenta explicar não só a derrota nacional como a de seu próprio grupo político, no Ceará --após dar as cartas no poder estadual desde 1987--, Tasso admite, pela primeira vez, deixar o comando do partido em meados do ano que vem, quando pretende transferir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) a missão de "atualizar" as diretrizes do programa idealizado para a sigla há 20 anos.
"Não vejo ninguém nesse país mais preparado para fazer um trabalho de organizar o programa do que o intelectual Fernando Henrique Cardoso", diz Tasso, que defende ser preciso evitar o clima de "banalização da delinqüência" no país.
O tucano reconhece que, até 2010, os governadores José Serra (SP, eleito) e Aécio Neves (MG, reeleito) travarão uma disputa interna inevitável para decidir quem disputará a Presidência. Acha o conflito "saudável" e avalia que, juntos, poderiam até formar uma chapa "eleitoralmente imbatível".
FOLHA - O PSDB perdeu a eleição presidencial, mas vai governar São Paulo e Minas Gerais. Qual será o papel do partido nos próximos anos?
TASSO JEREISSATI - A população foi bem clara: nos colocou na oposição e nosso papel será fazer oposição. Vamos continuar na mesma linha do primeiro mandato: oposição dura, mas não irresponsável. Quando o assunto for de interesse nacional, vamos discutir e votar os projetos. A diferença é que, ao longo do primeiro mandato, as nossas diferenças com o governo aumentaram. No primeiro biênio, não eram tão visíveis os defeitos.
FOLHA - Quais foram os defeitos?
TASSO - O primeiro, sem dúvida, foi a corrupção. O nível de corrupção é altíssimo, e o que me preocupa não é a corrupção apenas, mas a divulgação da corrupção como um assunto banal. Em função disso, a sociedade tende a ser mais permissiva de maneira geral. Vamos pagar muito caro e por muito tempo por esse clima de banalização da delinqüência.
FOLHA - O sr. atribui a vitória de Lula exclusivamente a essa banalização? Não faltou ao PSDB ter mostrado um programa claro para o país?
TASSO - Não culparia só o PSDB. O que existe é uma coisa a mais que realmente não sei explicar, diria que é necessário um estudo aprofundado. Depois que intelectuais, artistas, gente de alto nível de formação colocou tudo o que aconteceu no governo Lula como razoável e normal, realmente é preciso uma revisão.
FOLHA - O sr. acha que o segundo mandato será diferente?
TASSO - Nada faz crer que será diferente. Houve erros brutais na economia, o Brasil perdeu um dos momentos mais brilhantes e felizes da economia mundial nos últimos 50 anos. Jogamos por terra a oportunidade de crescer.
FOLHA - Mas o PSDB soube apresentar uma alternativa?
TASSO - Não é por culpa nem do candidato nem de ninguém. Todos nós devemos ter cometido algum tipo de erro. Perdemos as eleições diante de um governo que teve o maior número de casos de corrupção na história, um crescimento medíocre comparado ao mundo e a deterioração do serviço público --está aí o apagão aéreo.
FOLHA - Geraldo Alckmin era o nome certo para o contraponto?
TASSO - Não dá mais para discutir isso. Seja quem fosse o candidato, o Brasil quis eleger Lula.
FOLHA - O partido tem dois candidatos para 2010, José Serra e Aécio Neves. Mas terá um programa novo a apresentar?
TASSO - O PSDB vai se debruçar sobre isso não daqui a quatro anos, mas já. Temos consciência de que um dos problemas é que não ficou claro para a população, além da questão ética, por que trocar. A questão da privatização foi colocada de uma maneira confusa. Vamos buscar, a partir do início do ano que vem, rediscutir nosso programa, feito há 20 anos. O mundo hoje é outro. A social-democracia é outro conceito. Temos de deixar claro qual é a nossa diferença em relação ao PT. O PT era um partido socialista, marxista, hoje se diz um partido social-democrata também. Ficou muito perto de nós.
FOLHA - É a refundação?
TASSO - A nossa proposta é começar a correr o Brasil inteiro juntando pensadores de todas as regiões numa coordenação bem estruturada para desaguar, até a metade do ano que vem, num congresso que escreva o nosso programa. Não sei se a palavra correta é refundação, mas a atualização do programa e das pessoas.
FOLHA - O PSDB perdeu a interlocução com as camadas mais pobres da sociedade?
TASSO - A ponta da sociedade não tem formação política ou militância em torno de uma proposta teórica. Por isso, lhe interessam os programas que tenham a ver com seu dia-a-dia. O Plano Real nos deu enorme acesso às bases mais excluídas. Agora, o projeto Bolsa Família fez esse papel e se contrapôs à questão da corrupção. A universidade é difusora de opiniões e visões, passando pelos extratos das forças liberais, da classe média. É esse caminho que temos de voltar a percorrer, inclusive pelo sindicalismo.
FOLHA - Como o partido se prepara para enfrentar o desgaste de uma disputa acirrada entre Serra e Aécio para 2010?
TASSO - Não podemos evitar que isso ocorra. Trata-se de um ótimo problema, um problema de um partido que tem quadros e expectativa de poder. Ruim seria se não tivéssemos nomes para apresentar. Essa disputa interna vai acontecer de maneira equilibrada e saudável, como em todos os grandes partidos do mundo.
FOLHA - PSDB e PFL continuam juntos?
TASSO - No Congresso, continuamos muito unidos. Somos fortes, principalmente no Senado, mas só se unidos. Definir alguma coisa para daqui a quatro anos é muito difícil. Até a chapa Serra-Aécio, Aécio-Serra é possível. Eleitoralmente, hoje, parece imbatível.
FOLHA - O fim da reeleição é uma pauta para o próximo ano?
TASSO - A reeleição no Brasil não deu certo. Nós fomos os pais do projeto, mas persistir no erro é um equívoco.
FOLHA - O sr. fica na presidência do PSDB até o final do mandato, em novembro de 2007?
TASSO - Não precisa ser até o fim do ano que vem. Queria terminar [o mandato] nesse congresso [do partido], perto do meio do ano.
FOLHA - Alckmin poderia sucedê-lo no cargo?
TASSO - É normal que surjam especulações, pretendentes e favoritos de determinados grupos. Ele se firmou como liderança nacional, mas disse para mim que não tem esse desejo.
FOLHA - O sr. sofreu uma dura derrota no Ceará. O partido conseguirá se reerguer no Estado?
TASSO - No Ceará, mais do que no resto do Brasil, o PSDB precisa de reciclagem. Nenhum partido no Brasil conseguiu ser poder por 20 anos consecutivos. Nós mudamos o Estado do Ceará, mas cometemos uma série de equívocos políticos, e não administrativos, que levam a uma mudança no humor do eleitorado. Estamos pagando por isso.
FOLHA - O sr. acha que o presidente Lula fará um sucessor nos próximos quatros anos?
TASSO - Acho muito difícil o Lula fazer um sucessor. Ou ele faz uma mudança radical em relação ao primeiro governo ou não vai precisar nem de PSDB nem de PMDB nem PFL. O governo, no primeiro ano, desfrutou da herança bendita. Agora a herança é dele mesmo.
FOLHA - A oposição está dando uma trégua ao governo?
TASSO - Não é uma trégua. Mas acusações gravíssimas rodaram o país quase diariamente, alertamos a população, mas ela resolveu dar crédito ao governo. Isso nos decepcionou e estamos num período passageiro de depressão pós-eleitoral, de ressaca. É tempo de nos reorganizarmos também.
FOLHA - Enquanto isso o presidente acena para uma conversa com o PSDB...
TASSO - Quero dizer uma coisa definitiva sobre isso. Essa tentativa de diálogo, nós sempre dialogamos, no Congresso nada se aprovou sem que houvesse diálogo. Agora, existe uma diferença gigantesca entre diálogo e cooptação. Existem os cooptáveis que vão pelos caminhos dos cargos, do Orçamento, até do mensalão. Nós somos incooptáveis.
FOLHA - O sr. disse que o partido pode, eventualmente, conversar sobre temas. Ou seja, o senhor aceitaria ir ao Planalto?
TASSO - De uma maneira formal, se houver a necessidade de atravessar a rua, isso pode ser feito, mas o palco natural da negociação é o Congresso.
FOLHA - O que acha de os governadores do PSDB irem ao Planalto?
TASSO - Uma coisa é o governador Aécio ou o Serra se encontrarem com o presidente da República. Mais do que natural, é necessário. Seria irresponsabilidade e até prevaricação se não houvesse, é uma conversa institucional. Ali são interesses de Estados e não existem partidos políticos. Agora, uma negociação entre presidente e senador, pode até haver, mas com características bem definidas.
FOLHA - Esse conselho de ex-presidentes da República, proposto pelo presidente Lula, pode dar certo?
TASSO - É factóide. Porque é uma instância desnecessária à democracia. Se estivéssemos num momento de guerra...
FOLHA - Como deve ser a discussão para as presidências da Câmara e do Senado? O PSDB apoiaria o PFL no Senado?
TASSO - A posição do PSDB será de não forçar situações e tentar construir uma solução que dê mais independência às Casas. Se o PFL tiver um candidato com condições de pleitear, com a adesão de mais partidos, é nosso parceiro natural.
FOLHA - O Senado será a Casa de resistência da oposição?
TASSO - O Senado tem sido o grande ponto de resistência e equilíbrio ao governo do PT e ao tipo de exercício de poder que o PT faz. Certos excessos que o governo tem vontade de cometer foram evitados devido a esse número expressivo de senadores de oposição.
FOLHA - Na eleição, falou-se muito que o presidente Lula era o candidato dos pobres contra as elites. O país ficará dividido?
TASSO - O Lula vai ter que mudar muito, porque do ponto de vista histórico e político, quando a classe média tem uma visão negativa sobre um governo, ela acaba preponderando sobre a sociedade. Hoje a visão da classe média é muito negativa, principalmente na visão da questão da honestidade, e isso tende a se espalhar.
FOLHA - Qual seria o melhor nome para conduzir esse processo de revisão programática do partido?
TASSO - Não vejo ninguém nesse país mais preparado para fazer um trabalho de organizar o programa, com visão moderna do mundo do que o intelectual Fernando Henrique Cardoso. Estou num processo de convencimento para que ele coordene essa discussão.
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
VERA MAGALHÃES
do Painel, em Brasília
APÓS DUAS derrotas consecutivas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB enfrenta um período de "depressão" e "ressaca pós-eleitoral", reconhece seu presidente, o senador Tasso Jereissati (CE). Além disso, vive o dilema entre ser oposição e atender aos crescentes assédios do Planalto. Tasso diz que, se for chamado, não se furtará ao "diálogo institucional" com Lula, mas reage à desconfiança de que o partido esteja moderado: "Somos incooptáveis".
Enquanto tenta explicar não só a derrota nacional como a de seu próprio grupo político, no Ceará --após dar as cartas no poder estadual desde 1987--, Tasso admite, pela primeira vez, deixar o comando do partido em meados do ano que vem, quando pretende transferir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) a missão de "atualizar" as diretrizes do programa idealizado para a sigla há 20 anos.
"Não vejo ninguém nesse país mais preparado para fazer um trabalho de organizar o programa do que o intelectual Fernando Henrique Cardoso", diz Tasso, que defende ser preciso evitar o clima de "banalização da delinqüência" no país.
O tucano reconhece que, até 2010, os governadores José Serra (SP, eleito) e Aécio Neves (MG, reeleito) travarão uma disputa interna inevitável para decidir quem disputará a Presidência. Acha o conflito "saudável" e avalia que, juntos, poderiam até formar uma chapa "eleitoralmente imbatível".
FOLHA - O PSDB perdeu a eleição presidencial, mas vai governar São Paulo e Minas Gerais. Qual será o papel do partido nos próximos anos?
TASSO JEREISSATI - A população foi bem clara: nos colocou na oposição e nosso papel será fazer oposição. Vamos continuar na mesma linha do primeiro mandato: oposição dura, mas não irresponsável. Quando o assunto for de interesse nacional, vamos discutir e votar os projetos. A diferença é que, ao longo do primeiro mandato, as nossas diferenças com o governo aumentaram. No primeiro biênio, não eram tão visíveis os defeitos.
FOLHA - Quais foram os defeitos?
TASSO - O primeiro, sem dúvida, foi a corrupção. O nível de corrupção é altíssimo, e o que me preocupa não é a corrupção apenas, mas a divulgação da corrupção como um assunto banal. Em função disso, a sociedade tende a ser mais permissiva de maneira geral. Vamos pagar muito caro e por muito tempo por esse clima de banalização da delinqüência.
FOLHA - O sr. atribui a vitória de Lula exclusivamente a essa banalização? Não faltou ao PSDB ter mostrado um programa claro para o país?
TASSO - Não culparia só o PSDB. O que existe é uma coisa a mais que realmente não sei explicar, diria que é necessário um estudo aprofundado. Depois que intelectuais, artistas, gente de alto nível de formação colocou tudo o que aconteceu no governo Lula como razoável e normal, realmente é preciso uma revisão.
FOLHA - O sr. acha que o segundo mandato será diferente?
TASSO - Nada faz crer que será diferente. Houve erros brutais na economia, o Brasil perdeu um dos momentos mais brilhantes e felizes da economia mundial nos últimos 50 anos. Jogamos por terra a oportunidade de crescer.
FOLHA - Mas o PSDB soube apresentar uma alternativa?
TASSO - Não é por culpa nem do candidato nem de ninguém. Todos nós devemos ter cometido algum tipo de erro. Perdemos as eleições diante de um governo que teve o maior número de casos de corrupção na história, um crescimento medíocre comparado ao mundo e a deterioração do serviço público --está aí o apagão aéreo.
FOLHA - Geraldo Alckmin era o nome certo para o contraponto?
TASSO - Não dá mais para discutir isso. Seja quem fosse o candidato, o Brasil quis eleger Lula.
FOLHA - O partido tem dois candidatos para 2010, José Serra e Aécio Neves. Mas terá um programa novo a apresentar?
TASSO - O PSDB vai se debruçar sobre isso não daqui a quatro anos, mas já. Temos consciência de que um dos problemas é que não ficou claro para a população, além da questão ética, por que trocar. A questão da privatização foi colocada de uma maneira confusa. Vamos buscar, a partir do início do ano que vem, rediscutir nosso programa, feito há 20 anos. O mundo hoje é outro. A social-democracia é outro conceito. Temos de deixar claro qual é a nossa diferença em relação ao PT. O PT era um partido socialista, marxista, hoje se diz um partido social-democrata também. Ficou muito perto de nós.
FOLHA - É a refundação?
TASSO - A nossa proposta é começar a correr o Brasil inteiro juntando pensadores de todas as regiões numa coordenação bem estruturada para desaguar, até a metade do ano que vem, num congresso que escreva o nosso programa. Não sei se a palavra correta é refundação, mas a atualização do programa e das pessoas.
FOLHA - O PSDB perdeu a interlocução com as camadas mais pobres da sociedade?
TASSO - A ponta da sociedade não tem formação política ou militância em torno de uma proposta teórica. Por isso, lhe interessam os programas que tenham a ver com seu dia-a-dia. O Plano Real nos deu enorme acesso às bases mais excluídas. Agora, o projeto Bolsa Família fez esse papel e se contrapôs à questão da corrupção. A universidade é difusora de opiniões e visões, passando pelos extratos das forças liberais, da classe média. É esse caminho que temos de voltar a percorrer, inclusive pelo sindicalismo.
FOLHA - Como o partido se prepara para enfrentar o desgaste de uma disputa acirrada entre Serra e Aécio para 2010?
TASSO - Não podemos evitar que isso ocorra. Trata-se de um ótimo problema, um problema de um partido que tem quadros e expectativa de poder. Ruim seria se não tivéssemos nomes para apresentar. Essa disputa interna vai acontecer de maneira equilibrada e saudável, como em todos os grandes partidos do mundo.
FOLHA - PSDB e PFL continuam juntos?
TASSO - No Congresso, continuamos muito unidos. Somos fortes, principalmente no Senado, mas só se unidos. Definir alguma coisa para daqui a quatro anos é muito difícil. Até a chapa Serra-Aécio, Aécio-Serra é possível. Eleitoralmente, hoje, parece imbatível.
FOLHA - O fim da reeleição é uma pauta para o próximo ano?
TASSO - A reeleição no Brasil não deu certo. Nós fomos os pais do projeto, mas persistir no erro é um equívoco.
FOLHA - O sr. fica na presidência do PSDB até o final do mandato, em novembro de 2007?
TASSO - Não precisa ser até o fim do ano que vem. Queria terminar [o mandato] nesse congresso [do partido], perto do meio do ano.
FOLHA - Alckmin poderia sucedê-lo no cargo?
TASSO - É normal que surjam especulações, pretendentes e favoritos de determinados grupos. Ele se firmou como liderança nacional, mas disse para mim que não tem esse desejo.
FOLHA - O sr. sofreu uma dura derrota no Ceará. O partido conseguirá se reerguer no Estado?
TASSO - No Ceará, mais do que no resto do Brasil, o PSDB precisa de reciclagem. Nenhum partido no Brasil conseguiu ser poder por 20 anos consecutivos. Nós mudamos o Estado do Ceará, mas cometemos uma série de equívocos políticos, e não administrativos, que levam a uma mudança no humor do eleitorado. Estamos pagando por isso.
FOLHA - O sr. acha que o presidente Lula fará um sucessor nos próximos quatros anos?
TASSO - Acho muito difícil o Lula fazer um sucessor. Ou ele faz uma mudança radical em relação ao primeiro governo ou não vai precisar nem de PSDB nem de PMDB nem PFL. O governo, no primeiro ano, desfrutou da herança bendita. Agora a herança é dele mesmo.
FOLHA - A oposição está dando uma trégua ao governo?
TASSO - Não é uma trégua. Mas acusações gravíssimas rodaram o país quase diariamente, alertamos a população, mas ela resolveu dar crédito ao governo. Isso nos decepcionou e estamos num período passageiro de depressão pós-eleitoral, de ressaca. É tempo de nos reorganizarmos também.
FOLHA - Enquanto isso o presidente acena para uma conversa com o PSDB...
TASSO - Quero dizer uma coisa definitiva sobre isso. Essa tentativa de diálogo, nós sempre dialogamos, no Congresso nada se aprovou sem que houvesse diálogo. Agora, existe uma diferença gigantesca entre diálogo e cooptação. Existem os cooptáveis que vão pelos caminhos dos cargos, do Orçamento, até do mensalão. Nós somos incooptáveis.
FOLHA - O sr. disse que o partido pode, eventualmente, conversar sobre temas. Ou seja, o senhor aceitaria ir ao Planalto?
TASSO - De uma maneira formal, se houver a necessidade de atravessar a rua, isso pode ser feito, mas o palco natural da negociação é o Congresso.
FOLHA - O que acha de os governadores do PSDB irem ao Planalto?
TASSO - Uma coisa é o governador Aécio ou o Serra se encontrarem com o presidente da República. Mais do que natural, é necessário. Seria irresponsabilidade e até prevaricação se não houvesse, é uma conversa institucional. Ali são interesses de Estados e não existem partidos políticos. Agora, uma negociação entre presidente e senador, pode até haver, mas com características bem definidas.
FOLHA - Esse conselho de ex-presidentes da República, proposto pelo presidente Lula, pode dar certo?
TASSO - É factóide. Porque é uma instância desnecessária à democracia. Se estivéssemos num momento de guerra...
FOLHA - Como deve ser a discussão para as presidências da Câmara e do Senado? O PSDB apoiaria o PFL no Senado?
TASSO - A posição do PSDB será de não forçar situações e tentar construir uma solução que dê mais independência às Casas. Se o PFL tiver um candidato com condições de pleitear, com a adesão de mais partidos, é nosso parceiro natural.
FOLHA - O Senado será a Casa de resistência da oposição?
TASSO - O Senado tem sido o grande ponto de resistência e equilíbrio ao governo do PT e ao tipo de exercício de poder que o PT faz. Certos excessos que o governo tem vontade de cometer foram evitados devido a esse número expressivo de senadores de oposição.
FOLHA - Na eleição, falou-se muito que o presidente Lula era o candidato dos pobres contra as elites. O país ficará dividido?
TASSO - O Lula vai ter que mudar muito, porque do ponto de vista histórico e político, quando a classe média tem uma visão negativa sobre um governo, ela acaba preponderando sobre a sociedade. Hoje a visão da classe média é muito negativa, principalmente na visão da questão da honestidade, e isso tende a se espalhar.
FOLHA - Qual seria o melhor nome para conduzir esse processo de revisão programática do partido?
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