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20/01/2007
-
09h04
CLÁUDIA DIANNI
ELIANE CANTANHÊDE
Enviadas especiais da Folha de S.Paulo ao Rio
RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio
A Bolívia e o Uruguai refutaram a "generosidade" do Mercosul, como pediram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim. O que os dois países do bloco exigem é "justiça" na integração e nas relações comerciais, com medidas concretas para reduzir as chamadas assimetrias --diferenças econômicas entre os integrantes do bloco.
Regada a água mineral uruguaia, a 32ª Reunião de Cúpula do Mercosul, realizada ontem e anteontem, no hotel Copacabana Palace, reproduziu uma espécie de luta econômica entre países ricos e pobres e política entre socialistas e liberais.
O socialista Evo Morales, presidente da Bolívia, travou áspera discussão com o liberal Álvaro Uribe (Colômbia) ao dizer que os "países antiimperialistas" cresceram mais do que os que têm o apoio dos EUA.
Em tom duro, Morales e Tabaré Vázquez (Uruguai) exigiram mudanças e criticaram o governo brasileiro, insinuando que as declarações de Lula não correspondem às práticas comerciais adotadas pelo país.
"Não é possível que a Bolívia siga subvencionando gás ao Brasil. Há países que nos pagam US$ 5, e na zona de Cuiabá vendemos a US$ 1. Assim jamais vamos acabar com as assimetrias. Só queremos um preço justo, não estamos pedindo que sejam solidários", afirmou Morales, com uma ressalva: "Apesar de que, quando o presidente Lula fala de generosidade, é importante".
Tabaré Vázquez também reclamou do grande déficit nas relações comerciais com o país: "No ano passado, o Brasil comprou US$ 5 milhões em automóveis e o Uruguai comprou US$ 150 milhões em automóveis no Brasil", comparou. "É verdade, como disse Lula, que o comércio se multiplicou na região, mas quero dizer que para países menores o intercâmbio é absolutamente deficitário."
Em defesa da posição brasileira, o chanceler Amorim disse que as pessoas confundem "generosidade com bondade": "Falei em generosidade como grandeza de espírito, mas a palavra tem dupla interpretação, ninguém quer ser bonzinho, queremos ser justos".
O uruguaio Tabaré Vázquez disse que o Mercosul não pode ficar só no discurso. "Temos a maior esperança e confiança de que o presidente do Paraguai vai encontrar uma maneira de concretizar e cumprir as múltiplas promessas que vêm se acumulando nos últimos anos. Do contrário, vamos continuar escutando nas cúpulas do futuro os mesmos discursos."
Ontem, o presidente paraguaio, Nicanor Duarte, assumiu a presidência pro tempore do bloco pelos próximos seis meses. Apesar de defender a integração como antídoto aos efeitos negativos da globalização para os países periféricos, Duarte afirmou que a integração energética do continente não pode repetir os erros da integração comercial, que, para ele, favorece os países maiores.
Foi nesta cúpula que, depois de muitos anos, o Paraguai conseguiu mudar as regras que corrigem a dívida que tem com o Brasil pela construção da hidrelétrica binacional de Itaipu.
Para o colombiano Álvaro Uribe, repetindo um quase mantra da reunião, a integração não pode se resumir à área comercial: "A adesão de países da Comunidade Andina das Nações [CAN] ao Mercosul não quer dizer que queremos que isso estanque a associação de Mercosul e CAN. Esses instrumentos de associação têm de ser integrais e não podem se resumir ao comércio".
A maioria dos presidentes concorda que a integração precisa ir além dos aspectos econômicos, sendo cada vez mais política e social. O presidente Lula disse que, sozinhos, nem os mais fortes vão resolver suas contradições.
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ELIANE CANTANHÊDE
Enviadas especiais da Folha de S.Paulo ao Rio
RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio
A Bolívia e o Uruguai refutaram a "generosidade" do Mercosul, como pediram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim. O que os dois países do bloco exigem é "justiça" na integração e nas relações comerciais, com medidas concretas para reduzir as chamadas assimetrias --diferenças econômicas entre os integrantes do bloco.
Regada a água mineral uruguaia, a 32ª Reunião de Cúpula do Mercosul, realizada ontem e anteontem, no hotel Copacabana Palace, reproduziu uma espécie de luta econômica entre países ricos e pobres e política entre socialistas e liberais.
O socialista Evo Morales, presidente da Bolívia, travou áspera discussão com o liberal Álvaro Uribe (Colômbia) ao dizer que os "países antiimperialistas" cresceram mais do que os que têm o apoio dos EUA.
Em tom duro, Morales e Tabaré Vázquez (Uruguai) exigiram mudanças e criticaram o governo brasileiro, insinuando que as declarações de Lula não correspondem às práticas comerciais adotadas pelo país.
"Não é possível que a Bolívia siga subvencionando gás ao Brasil. Há países que nos pagam US$ 5, e na zona de Cuiabá vendemos a US$ 1. Assim jamais vamos acabar com as assimetrias. Só queremos um preço justo, não estamos pedindo que sejam solidários", afirmou Morales, com uma ressalva: "Apesar de que, quando o presidente Lula fala de generosidade, é importante".
Tabaré Vázquez também reclamou do grande déficit nas relações comerciais com o país: "No ano passado, o Brasil comprou US$ 5 milhões em automóveis e o Uruguai comprou US$ 150 milhões em automóveis no Brasil", comparou. "É verdade, como disse Lula, que o comércio se multiplicou na região, mas quero dizer que para países menores o intercâmbio é absolutamente deficitário."
Em defesa da posição brasileira, o chanceler Amorim disse que as pessoas confundem "generosidade com bondade": "Falei em generosidade como grandeza de espírito, mas a palavra tem dupla interpretação, ninguém quer ser bonzinho, queremos ser justos".
O uruguaio Tabaré Vázquez disse que o Mercosul não pode ficar só no discurso. "Temos a maior esperança e confiança de que o presidente do Paraguai vai encontrar uma maneira de concretizar e cumprir as múltiplas promessas que vêm se acumulando nos últimos anos. Do contrário, vamos continuar escutando nas cúpulas do futuro os mesmos discursos."
Ontem, o presidente paraguaio, Nicanor Duarte, assumiu a presidência pro tempore do bloco pelos próximos seis meses. Apesar de defender a integração como antídoto aos efeitos negativos da globalização para os países periféricos, Duarte afirmou que a integração energética do continente não pode repetir os erros da integração comercial, que, para ele, favorece os países maiores.
Foi nesta cúpula que, depois de muitos anos, o Paraguai conseguiu mudar as regras que corrigem a dívida que tem com o Brasil pela construção da hidrelétrica binacional de Itaipu.
Para o colombiano Álvaro Uribe, repetindo um quase mantra da reunião, a integração não pode se resumir à área comercial: "A adesão de países da Comunidade Andina das Nações [CAN] ao Mercosul não quer dizer que queremos que isso estanque a associação de Mercosul e CAN. Esses instrumentos de associação têm de ser integrais e não podem se resumir ao comércio".
A maioria dos presidentes concorda que a integração precisa ir além dos aspectos econômicos, sendo cada vez mais política e social. O presidente Lula disse que, sozinhos, nem os mais fortes vão resolver suas contradições.
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