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23/01/2007
-
09h02
CLÓVIS ROSSI
enviado especial da Folha de S.Paulo a Davos
O "povo de Davos" estará neste ano talvez mais distante do que nunca dos mortais comuns, se é que cabe chamar de "povo" o lote de superexecutivos que se reúne todo janeiro, faz 36 anos, nessa cidadezinha encravada nos Alpes suíços, para os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial.
Distante, primeiro, porque o encontro de 2007 parece o ensaio para uma volta às origens: reunião de homens de negócio (ou CEOs, executivos-chefe) para tratar muitíssimo mais de "business" do que de política.
Durante um bom tempo, Davos recebeu, ao lado dos CEOs, também políticos em grande número e, bem menos, líderes sindicais e de ONGs.
Não é que os políticos estejam ausentes. Virá, por exemplo, Tony Blair, premiê britânico que deixa o cargo neste semestre. Virá a chanceler alemã, Angela Merkel, que já esteve em Davos em 2006. Luiz Inácio Lula da Silva fará sua terceira apresentação em cinco anos.
Ao todo, outros 19 chefes de Estado/governo confirmaram presença. Mas, a rigor, a novidade ficará por conta de Felipe Calderón, recém-empossado presidente do México e que começou seu período pondo o Exército na rua (em Tijuana, fronteira com os EUA), música que também toca no Brasil, mas só nas rádios, não nas ruas.
Distâncias
Dos 2.400 participantes, mais da metade é formada por líderes das "mais importantes companhias do mundo e de todos os setores econômicos", como anuncia o próprio Fórum.
Gente que chega em um momento em que a distância entre os ganhos das empresas e os salários dos executivos atingem picos formidáveis, ao passo que assalariados vêem sua renda congelada ou, na melhor das hipóteses, aumentando pouco.
Não se trata de falar da arqui-conhecida desigualdade entre muito pobres e ultra-ricos. Davos até já elegeu esse tema como prioritário há dois anos.
Agora, mesmo os que eventualmente sonham com escalar a montanha da vida estão ficando para trás, como constatou a revista "The Economist", a preferida de 11 de cada 10 CEOs, em artigo da semana passada.
O texto diz que os executivos vivem uma "Beckhamesque bonanza" --uma bonança à la David Beckham, o astro inglês do futebol que é recordista em faturamento com publicidade. Números: em 20 anos, o pagamento total dos gerentes americanos passou de ser 40 vezes superior ao salário médio dos mortais, para 110 vezes. Beckham perde na comparação.
Mesmo entre quem tem ativos, a distância só cresce, como mostra o Instituto Mundial para Pesquisa do Desenvolvimento Econômico, da Universidade da ONU: o 1% no topo da pirâmide (o "povo de Davos") fica com 40% do total de ativos (ações, títulos), deixando 1,1% à metade do andar de baixo.
São 37 milhões de ricos com ativos de ao menos US$ 515 mil per capita contra US$ 2,2 mil ao cidadão da faixa que está acima da metade muito pobre e abaixo dos que vão a Davos.
O Brasil, país rico com população pobre, tem baixa representação em Davos --15 pessoas neste ano. Ainda assim, exibe crescimento da brecha entre os que sobem a montanha e os que ficam no mesmo lugar: conforme dados do Seade e do Dieese reproduzidos na Folha por Fábio Konder Comparato no domingo, "a massa das remunerações percebidas pelos trabalhadores, que representava metade da renda nacional em 1980, corresponde agora a um terço". Até a serra do Mar, não só os Alpes, começa a parecer inacessível.
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enviado especial da Folha de S.Paulo a Davos
O "povo de Davos" estará neste ano talvez mais distante do que nunca dos mortais comuns, se é que cabe chamar de "povo" o lote de superexecutivos que se reúne todo janeiro, faz 36 anos, nessa cidadezinha encravada nos Alpes suíços, para os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial.
Distante, primeiro, porque o encontro de 2007 parece o ensaio para uma volta às origens: reunião de homens de negócio (ou CEOs, executivos-chefe) para tratar muitíssimo mais de "business" do que de política.
Durante um bom tempo, Davos recebeu, ao lado dos CEOs, também políticos em grande número e, bem menos, líderes sindicais e de ONGs.
Não é que os políticos estejam ausentes. Virá, por exemplo, Tony Blair, premiê britânico que deixa o cargo neste semestre. Virá a chanceler alemã, Angela Merkel, que já esteve em Davos em 2006. Luiz Inácio Lula da Silva fará sua terceira apresentação em cinco anos.
Ao todo, outros 19 chefes de Estado/governo confirmaram presença. Mas, a rigor, a novidade ficará por conta de Felipe Calderón, recém-empossado presidente do México e que começou seu período pondo o Exército na rua (em Tijuana, fronteira com os EUA), música que também toca no Brasil, mas só nas rádios, não nas ruas.
Distâncias
Dos 2.400 participantes, mais da metade é formada por líderes das "mais importantes companhias do mundo e de todos os setores econômicos", como anuncia o próprio Fórum.
Gente que chega em um momento em que a distância entre os ganhos das empresas e os salários dos executivos atingem picos formidáveis, ao passo que assalariados vêem sua renda congelada ou, na melhor das hipóteses, aumentando pouco.
Não se trata de falar da arqui-conhecida desigualdade entre muito pobres e ultra-ricos. Davos até já elegeu esse tema como prioritário há dois anos.
Agora, mesmo os que eventualmente sonham com escalar a montanha da vida estão ficando para trás, como constatou a revista "The Economist", a preferida de 11 de cada 10 CEOs, em artigo da semana passada.
O texto diz que os executivos vivem uma "Beckhamesque bonanza" --uma bonança à la David Beckham, o astro inglês do futebol que é recordista em faturamento com publicidade. Números: em 20 anos, o pagamento total dos gerentes americanos passou de ser 40 vezes superior ao salário médio dos mortais, para 110 vezes. Beckham perde na comparação.
Mesmo entre quem tem ativos, a distância só cresce, como mostra o Instituto Mundial para Pesquisa do Desenvolvimento Econômico, da Universidade da ONU: o 1% no topo da pirâmide (o "povo de Davos") fica com 40% do total de ativos (ações, títulos), deixando 1,1% à metade do andar de baixo.
São 37 milhões de ricos com ativos de ao menos US$ 515 mil per capita contra US$ 2,2 mil ao cidadão da faixa que está acima da metade muito pobre e abaixo dos que vão a Davos.
O Brasil, país rico com população pobre, tem baixa representação em Davos --15 pessoas neste ano. Ainda assim, exibe crescimento da brecha entre os que sobem a montanha e os que ficam no mesmo lugar: conforme dados do Seade e do Dieese reproduzidos na Folha por Fábio Konder Comparato no domingo, "a massa das remunerações percebidas pelos trabalhadores, que representava metade da renda nacional em 1980, corresponde agora a um terço". Até a serra do Mar, não só os Alpes, começa a parecer inacessível.
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