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12/02/2007 - 23h01

Após suspensão de cestas, índio de dois anos morre em Mato Grosso do Sul

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HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Campo Grande

O menino indígena Nandinho Fernandes, de dois anos e um mês, morreu no fim de semana após ser internado com desnutrição grave no hospital Universitário em Dourados (MS), informou a Funasa (Fundação Nacional de Saúde). Ele morava na reserva indígena habitada por 11 mil guaranis e caiuás, a 10 km da cidade.

No fim de dezembro do ano passado, havia 15 crianças com desnutrição severa na reserva. Em janeiro deste ano, chegou a 27, ainda conforme a Funasa.

Ao assumir o governo do Estado, o governador André Puccinelli (PMDB) suspendeu a entrega de 11 mil cestas básicas a índios. A distribuição fazia parte do programa Segurança Alimentar, mantido pelo governo anterior e suspenso devido à crise financeira do Estado.

Atraso

A assessoria de Puccinelli informou que caberia à Funasa falar sobre a morte de Nandinho; e que foi pedido ao governo federal para assumir a assistência nas aldeias. A Funasa, que também distribui cestas mensalmente, só voltou ao abastecimento normal, que estava atrasado havia 20 dias, na semana passada.

O órgão não relaciona a morte da criança à suspensão do programa do Estado ou ao atraso na entrega, mas avalia que o aumento de desnutridos pode ser conseqüência desses dois fatos.

Conforme números oficiais da Funasa, em 2004 a desnutrição causou 21 mortes de crianças menores de um ano na região sul do Estado. No ano seguinte, foram dois óbitos. Em 2006, ocorreu um caso.

Ainda em 2005, a Folha apontou que 15 crianças, menores de cinco anos, morreram de desnutrição nos primeiros meses daquele ano. A situação levou a Funasa a reforçar a assistência às crianças indígenas no sul do Estado.

Antônio Costa, coordenador técnico da Funasa em Dourados, afirmou que os pais de Nandinho recebem cestas de alimentos e que é necessária uma investigação para saber a causa da desnutrição.

Os pais da criança indígena morta afirmaram que não faltava comida, segundo o médico da Funasa Zelick Trajber. Mas o coordenador Costa disse que a mãe da criança não aceitava internar o menino.

Em novembro passado, a Funasa, que acompanha 2.200 crianças indígenas menores de cinco anos em Dourados, constatou que Nandinho estava com desnutrição moderada. No dia 31 de janeiro, ele foi internado com desnutrição grave, segundo Costa. Nandinho estava com diarréia e vômito e morreu de insuficiência renal.

Cestas

O governo do Estado distribuía 1.700 cestas em Dourados. E a Funasa retomou a entrega de 2.500. No município, 8,8% (194) das 2.200 crianças acompanhadas pelo órgão estão com desnutrição moderada ou grave. Ao menos 250, em situação de risco nutricional.

As cestas que eram distribuídas pelo governo continham 32 kg de alimentos: 10 kg de arroz, 5 kg de feijão, 5 kg de açúcar, 1 kg de macarrão, quatro latas de óleo, 1 kg de leite em pó, 1 kg de fubá, 1 kg de erva-mate, 1 kg de farinha de mandioca, 1 kg de charque, 500 gr. de goiabada, 1 kg de sal e cinco latas de sardinhas.

Funasa

O coordenador regional da Fundação Nacional de Saúde em Mato Grosso do Sul, Pedro Paulo Coutinho, afirmou que deve acertar amanhã com o governo estadual um plano para a Funasa assumir totalmente a distribuição de cestas de alimentos aos índios. O órgão federal assumiria a responsabilidade pela distribuição de 11 mil cestas nas aldeias do Estado.

Coutinho afirmou que não poderia dar mais detalhes, antes da reunião de hoje. O prazo para a Funasa assumir a entrega de cestas também só será definido no encontro de hoje, segundo afirmou o coordenador.

A reportagem apurou que a Funasa já tem dificuldades para manter a distribuição das cestas que normalmente entrega aos índios todo mês. Só em Dourados, são 2.500.

Em janeiro houve atraso de 20 dias na entrega devido a problemas na montagem das cestas. A Funasa não pode mais contar com o barracão da Funai (Fundação Nacional do Índio) para guardar os alimentos. O motivo é o atraso no pagamento do aluguel pela Funai.

Governo federal

Na semana passada, o governador André Puccinelli procurou a direção nacional da Funasa e o ministro Patrus Ananias (Combate à Fome) em Brasília.

Puccinelli pediu ao ministro e à Funasa que o governo federal assuma a distribuição de 20 mil cestas de alimentos, sendo 11 mil para índios e 9.000 para sem-terra acampados.

Na avaliação do governador, a responsabilidade de assistir índios e acampados é do governo federal. Ananias informou que criaria uma equipe para avaliar o pedido. Puccinelli pediu urgência antes que "alguma pessoa morresse de fome".

Além da entrega das cestas de alimentos, Puccinelli suspendeu o pagamento de R$ 100 por mês para cerca de 35 mil famílias.

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