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10/03/2007 - 02h45

Leia as íntegras dos discursos e entrevistas concedidas por Lula e Bush

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da Folha Online

Leia abaixo a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após encontro com o colega americano George W. Bush e a entrevista concedida pelos dois chefes de Estado:

"Excelentíssimo senhor George Bush, presidente dos Estados Unidos da América, senhores integrantes das comitivas norte-americana e brasileira, governador de São Paulo, José Serra, nosso querido presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ministros, jornalistas, meus amigos e minhas amigas, esta segunda visita do presidente Bush ao Brasil em pouco mais de um ano é mais um passo no aprofundamento do diálogo entre nossos governos e nossos países.

Um diálogo que começou antes mesmo de eu tomar posse, quando o presidente Bush me recebeu, em dezembro de 2002, na Casa Branca. Nos freqüentes encontros e telefonemas que mantivemos desde então, nossas relações foram sempre pautadas pela extrema franqueza, respeito mútuo e espírito construtivo.

Nossas sociedades são multiétnicas, nelas convivem muitas culturas e idéias, foram fundadas nos princípios do pluralismo, da tolerância e do respeito à diversidade. O fato de nossos governos se respeitarem mutuamente explica o excelente momento que atravessam as relações entre Brasil e Estados Unidos. Revela, também, o grande potencial de cooperação que têm nossos países, se formos capazes de continuar construindo objetivos comuns.

Essa foi a base das conversações que tivemos hoje, quando repassamos nossa ampla agenda bilateral e avaliamos como melhor trabalhar em questões regionais e multilaterais. O relacionamento entre Brasil e Estados Unidos historicamente transcendeu aos governos que estiveram à frente dos nossos países, prova disso é a ampla rede de relações entre empresários, representantes da sociedade civil e cidadãos dos dois países.

Os Estados Unidos são o nosso maior parceiro comercial individual e o maior investidor no Brasil. Durante o meu primeiro mandato, o comércio entre nossos países aumentou mais de 50%. Os investimentos norte-americanos no Brasil dobraram ao longo da última década. Empresas brasileiras estão cada vez mais ativas na economia norte-americana, e contribuem, junto com a expressiva comunidade brasileira já radicada, para a geração de emprego e de renda naquele país.

Senhoras e senhores,o Brasil se orgulha de ter contribuído para a decisão de governo dos Estados Unidos de aumentar a participação dos biocombustíveis na matriz energética. Recordo o entusiasmo com que o presidente Bush conheceu de perto, no encontro que mantivemos em Brasília em 2005, a história de sucesso brasileira em matéria de biodiesel, de biocombustíveis. Temos no Brasil um programa extremamente exitoso, considerado modelar, fruto de um investimento de mais de 30 anos em pesquisas e em desenvolvimento. Um programa que associa o respeito ao meio ambiente à preservação e ampliação da segurança alimentar de nossa sociedade, um programa que tem forte impacto social, por sua capacidade de gerar empregos, fortalecer a agricultura familiar e fazer a distribuição de renda. Esse é um campo onde nossos dois países podem cooperar.

O memorando de entendimento sobre biocombustíveis que os nossos ministros assinaram hoje é um passo decisivo nessa direção. Juntando suas forças, Estados Unidos e Brasil podem impulsionar a democratização energética e levar os biocombustíveis para todos. Uma das tarefas mais complexas à frente será assegurar o acesso aos grandes centros consumidores. O Brasil espera que o mercado de etanol se beneficie de um comércio desimpedido e livre de protecionismo, somente assim os combustíveis do futuro poderão funcionar como indutores do desenvolvimento sustentável, beneficiando também países pobres e em desenvolvimento. Fazer do comércio um fator de prosperidade para todos é um desafio sobre o qual eu conversei detidamente com o presidente Bush.

Precisamos eliminar os desequilíbrios que ainda constrangem o comércio mundial e que agravam uma das simetrias que marca o mundo de hoje. Transmiti ao Presidente o meu sentimento de que estamos mais próximos do que nunca de uma conclusão bem-sucedida das negociações de Doha. Todos podem sair ganhando com um acordo ambicioso e equilibrado, sobretudo os países mais pobres. Seriam criadas mais oportunidades de crescimento e desenvolvimento nas regiões mais pobres do planeta. O comércio internacional, no setor agrícola, aumentaria, reduzindo a pobreza, gerando emprego e renda em países e regiões menos favorecidas.

Por isso, reiterei ao presidente Bush minha disposição em participar, em qualquer lugar do mundo, de um encontro de líderes, se isso nos permitir superar as últimas dificuldades para um acordo verdadeiramente histórico.

Meu caro Presidente, sua visita ao Brasil coincide com um momento excepcional que vive o nosso continente, particularmente a América do Sul. As ditaduras que infelicitaram a região por duas décadas são uma dolorosa recordação do passado. Todos os governos sul-americanos são resultados de eleições livres, com ampla participação popular. Todos estão empenhados em projetos de crescimento, com distribuição de renda, capazes de pôr fim à terrível desigualdade social que herdamos, agravada por aventuras macroeconômicas passadas. Todos estamos finalmente empenhados em um projeto de integração sul-americana. Os países da região associaram o seu destino ao Mercosul e à Comunidade Sul-Americana de Nações. Sabemos que a integração é o melhor caminho para o fortalecimento da democracia e para a prosperidade regional. Ela cria riquezas e promove o desenvolvimento, garante uma presença mais soberana da região no mundo.

Nossa integração se dá entre nações independentes, onde a diversidade e a tolerância também são uma força. Respeitamos as opções políticas e econômicas de cada país e isso nos tem permitido avanços notáveis, expandindo o comércio, realizando obras de infra-estrutura, fortalecendo nossa segurança energética, o bem-estar de nossa sociedade e aproximando povos capazes de trilhar seu próprio caminho. A integração também abre oportunidades para investimentos extra-regionais na área de infra-estrutura, que terá um efeito multiplicador sobre nossas economias, dinamizando todos os intercâmbios.

Senhor presidente,a redemocratização e a reconquista das liberdades políticas não foram suficientes para impedir que milhões de brasileiros e latino-americanos ainda vivam em estado de extrema pobreza. Por isso, todos os governos da região têm implementado programas para desenvolver nossos países e combater a exclusão social. Nós, os Presidentes, devemos pensar na vida dessa gente mais sofrida que, além de querer democracia para eleger os seus governantes, quer ter o direito à saúde, à educação, à moradia, à segurança e quer ter o direito de conquistar a sua cidadania. Todos nós sabemos: a democracia política prospera quando se tem desenvolvimento econômico e social, quando se erradica a pobreza, quando se combate a exclusão e a desigualdade social.

Por isso, meu caro presidente Bush, esta sua visita ao Brasil, em tão pouco tempo, abre na consciência do povo norte-americano, do povo brasileiro e, acredito, que de todo o povo latino-americano, a perspectiva de que não estamos longe de poder construir um novo padrão de relacionamento entre as nações, de discutir de forma livre e soberana como os países ricos podem ajudar os países mais pobres a se desenvolverem e, mais importante do que isso, garantir que a democracia seja a razão pela qual os benefícios da riqueza, a construção da própria riqueza e os benefícios sociais que o povo precisa justifiquem plenamente a conquista sofrida da democracia no nosso continente.

Quero terminar, presidente Bush, dizendo a Vossa Excelência que o Brasil tem consciência do significado da integração da América do Sul, o Brasil tem consciência do significado da integração da América Latina, da mesma forma que o Brasil tem consciência do significado de uma aproximação do Brasil com a África, e também dos Estados Unidos com a África. Penso que Estados Unidos e Brasil poderiam, juntos, construir alguns projetos que pudessem significar, para esses países mais pobres, a certeza das pessoas não verem nos países mais ricos apenas os países exploradores, mas que os vissem como os países mais ricos do Planeta. Por isso, a Rodada Doha é importante, por isso o acordo da OMC é importante, e eu vejo aqui a sua Ministra negociadora, vejo aqui o meu Ministro negociador, e eu penso que deveríamos dar a eles uma única ordem: façam o acordo o mais rápido possível, porque se Estados Unidos e Brasil se entenderem, fica mais fácil nós convencermos aqueles que ainda não estão participando do esforço do acordo.

Eu quero lhe agradecer e dizer que essa relação Brasil e Estados Unidos, que é uma relação consagrada ao longo de tantas décadas, vai continuar se fortalecendo, na medida em que nós nos respeitemos mutuamente, na medida em que cada um respeite as decisões políticas soberanas de cada Estado, e na medida em que tenhamos capacidade de construir juntos projetos que possam ajudar terceiros países a saírem da situação de pobreza em que se encontram.

Muito obrigado, presidente Bush, pela sua visita ao Brasil."

Porta-Voz: Muito obrigado. Conforme foi previamente acertado, nós teremos duas perguntas de jornalistas brasileiros e duas perguntas de jornalistas norte-americanos. Então, eu passo a palavra, para a primeira pergunta, para o Celso Teixeira, da TV Record.

Jornalista Celso Teixeira - TV Record: Good afternoon, Mr. president Bush (boa tarde senhor presidente Bush). Boa tarde, presidente Lula. I'll ask you in Portuguese? (Eu posso perguntar em português?).

Presidente Bush: OK.

Jornalista Celso Teixeira (TV Record): Como a gente pode acreditar que essas possibilidades... o compromisso que os senhores estão assumindo de negociar o destravamento da Rodada Doha seja possível, já que os senhores têm uma experiência muito próxima, dos dois governos, de negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), em que nada deu certo. Qual vai ser a diferença, neste momento, de uma negociação comercial, em que os senhores vão falar --tentar falar a mesma língua, apesar da diferença entre o português e o inglês, tentar falar o mesmo idioma para o mundo-- que os dois países têm disposição de negociar? E por que essa negociação, neste momento, seria diferente? E talvez o encontro dos senhores em Washington fosse uma oportunidade para se estabelecer um prazo para essa negociação. Até o dia 30 ou 31 de março os senhores poderiam ter um compromisso de alguns acertos. Muito obrigado.

Presidente Lula: Bem, meu caro Celso. Primeiro, fazer acordo entre nações não é uma coisa tão simples, porque a complexidade dos problemas econômicos, políticos e sociais que envolvem uma decisão podem ter resultados extraordinários e podem ter resultados desastrosos. Nós já conversamos muito sobre a Rodada Doha ao longo desses últimos meses e nós estamos andando com muita solidez para encontrar a possibilidade, com o chamado ponto G, de fazer um acordo.

Eu estou convencido da disposição. Eu disse ao presidente Bush que, se Brasil e Estados Unidos encontrarem entre si o ponto de equilíbrio, que possam fazer oferta aos outros países... Porque os Estados Unidos levaram uma vantagem nessa negociação: tem muita gente que depende das negociações da parte dos Estados Unidos, mas eles negociam em nome deles mesmos. Nós, no Brasil, temos que negociar junto com o G-20 e a União Européia, é um conjunto de países. Portanto, vocês percebem que nós, além de convencermos os parceiros mais ricos, temos que convencer, também, os parceiros mais pobres a aceitar o acordo. Nós estamos aceitando esse desafio, porque, neste momento, o sucesso das negociações não é mais econômico, não se trata mais de quem vai perder economicamente ou ganhar economicamente. O problema, agora, é eminentemente político. O problema, agora, é se nós vamos ter, enquanto lideranças mundiais, competência para decidir para melhor ou para pior o futuro de milhões de seres humanos que dependem desse acordo. Eu estou convencido de que vamos chegar lá.

Segundo, não é possível comparar o que estamos negociando agora, na Rodada Doha, com as conversações sobre a Alca, até porque você cobriu a minha campanha de 2002 e viu quantos discursos eu fiz contra a Alca em 2002. Eu e quase todos os governantes que disputaram as eleições na América do Sul éramos contra. Nós acreditávamos, primeiro, no fortalecimento do Mercosul e conseguimos isso. Nós acreditávamos, primeiro, no fortalecimento da integração sul-americana. E hoje o maior comércio é entre Brasil e América Latina, numa demonstração de que nós demos passos importantes. Isso não significa que nós não possamos ficar discutindo quantos acordos bilaterais foram necessários entre Brasil e os Estados Unidos, entre outros países e os Estados Unidos, entre outros países e o Brasil.

O dado concreto é que, quando se negocia, vão-se construindo os números e nenhum país quer ser o primeiro a fazer a oferta. É que nem jogar baralho: cada carta que você colocar na mesa está carimbada, você não pode mais recolhê-la. Então, ninguém quer fazer a primeira proposta. Certamente o presidente Bush tem a dele no bolso do colete, certamente o Brasil tem a sua no bolso do colete, certamente a União Européia tem a sua no bolso do colete. Alguns podem não ter, porque não querem mais jogar. Mas eu tenho certeza de que ele e eu temos, porque nós queremos jogar. Em algum momento, nós vamos colocar as cartas na mesa e vamos ver se seremos capazes ou não de fazer um acordo. Eu quero dizer que estou convencido de que nós poderemos fazer um acordo. Certamente, não será tudo o que precisaríamos fazer, mas faremos o que for suficiente para continuar dando um alento ao mundo, sobretudo aos mais pobres, para que eles tenham a chance, no século 21, que não tiveram no século 20.

Presidente Bush - Primeiro, acho que prazos finais são um pouco perigosos quando dois países os estabelecem e estamos lidando com muitos outros países. Lembre-se que nós podemos ter um acordo, mas se outros importantes parceiros comerciais não concordarem, então, de repente, nós teremos aberto o caminho para um fracasso.

Sou otimista quanto às possibilidades de que conseguiremos. Portanto, acho que precisamos agir com cuidado para criar as condições, para que o mundo não diga: vejam, eles fracassaram.

Como discutimos a Alca --e os Estados Unidos entraram numa série de acordos, assim como fez o Brasil-- em outras palavras, há muitos comerciais bilaterais e regionais acontecendo.

E assim, só porque tivemos dificuldade em fazer a Alca funcionar isso não deve nos desencorajar de tentar fazer algo em nível global. Quero dizer, afinal, houve muitos êxitos no front comercial, apenas não naquele front comercial específico.

E não há dúvida de que foi duro com a Alca, e não há dúvida de que será duro com Doha. Mas o importante com relação a Doha é que é --é realmente uma oportunidade para o mundo se unir para tentar erradicar a pobreza mundial. E essa é uma razão importante e convincente para continuar tentando.

Assim, não me sinto nem um pouco desanimado com fracassos passados, nem sou otimista em excesso, porque já tivemos muitos êxitos em acordos comerciais.

Sou realista ao saber que é trabalho duro, mas será necessária a liderança do Brasil e dos Estados Unidos para continuar firmes, trabalhar duro e ver se não conseguimos chegar a um acordo positivo.

Jornalista Eliana Oliveira, O Globo: A minha pergunta para o presidente Bush é se ele concorda que, nos últimos anos, realmente os Estados Unidos estiveram de costas para a América Latina e o que poderia ser feito, então, para recuperar ou correr atrás do prejuízo nestes dois últimos anos de mandato? Eu posso fazer uma pergunta para o presidente Lula, também, por favor? O presidente Lula, ontem, classificou, mais uma vez, criticou os subsídios americanos, chamando-os de nefastos. Embora os dois presidentes tenham decidido colocar os dois ministros de comércio na pauta, para chegarem a um acordo, o senhor recebeu alguma sinalização de que é possível reduzir esses subsídios domésticos americanos aos agricultores?

Presidente Bush - Vou responder essa pergunta por ele --e ele poderá responder, também. Isso não vai acontecer. A lei não termina antes de 2009; então o Congresso a aceita-- ele vai analisar a questão quando a lei terminar. O sr. talvez queira acrescentar a essa resposta.

Quanto a minha viagem, estou levando a boa vontade dos Estados Unidos para a América do Sul e a América Central. É por isso que estou aqui. Acho que os EUA não ganham crédito suficiente por tentar melhorar a vida das pessoas.

Então minha viagem é para explicar, com a maior clareza possível, que nosso país é generoso e compassivo; que, quando enxergamos pobreza, isso nos preocupa; que, quando vemos analfabetismo, queremos fazer alguma coisa para resolvê-lo. Que, quando constatamos que há deficiências na saúde, ajudaremos no que estiver ao nosso alcance.

Estou certo de que a maioria das pessoas aqui na América do Sul não compreende que os Estados Unidos dobraram nossa ajuda bilateral aos países da América Central e do Sul desde que eu sou o presidente. Essa ajuda passou de US800 milhões para US$1,6 bilhão no ano passado.

E digo isso não apenas para me gabar de dólares, mas como ponto de partida para as pessoas entenderem que este país está comprometido com essa perspectiva: uma vizinhança próspera é do interesse dos Estados Unidos. Uma vizinhança pacífica é do nosso interesse.

Compreendemos plenamente que, se houver analfabetismo, isso acabará com o tempo afetando nosso país. Além disso, o povo americano tem grande compaixão pelos direitos humanos e a dignidade humana.

Depois desta coletiva de imprensa eu vou ver alguns programas aqui que são voltados a melhorar a vida dos cidadãos, programas voltados a focalizar os indivíduos e as melhores maneiras pelas quais eles podem ser auxiliados.

Existe muito investimento na região, como o presidente observou. Para alguns, essa é apenas uma palavra bonita, mas para outros, que se beneficiam de investimentos por meio de empregos, é uma parte fundamental de suas vidas.

Então minha viagem para cá é para recordar a nosso país que a América do Sul e a América Latina são bons lugares onde se investir, especialmente em países que aderem ao respeito pelas leis, que são transparentes e que acreditam nos fundamentos da liberdade.

Então estou recordando as pessoas de algo que é bastante evidente, que muitas pessoas sabem que existem laços diretos entre nossos países. Há muitos envios de dinheiro dos Estados Unidos de volta à região. Por que? Porque há pessoas que trabalham para ganhar a vida em nosso país e que mandam dinheiro para casa para sustentar suas famílias.

Então esta viagem é para recordar às pessoas dos laços que nos unem, e da importância desta região para o futuro dos Estados Unidos. E estou realmente satisfeito por estar aqui, e aprecio a hospitalidade. Podem fazer outra pergunta.

Bem, discordo terminantemente com sua descrição da política externa americana. Isso pode ser o que as pessoas dizem, mas certamente não é o que os fatos comprovam. Acabo de lhes dizer que nosso pacote de assistência bilateral dobrou.

Novamente, reconheço plenamente que o dinheiro por si só não é sinal de compaixão ou preocupação, mas é dinheiro que visa ajudar as pessoas a melhorar suas vidas. É dinheiro de justiça social. A maioria parte do dinheiro de assistência bilateral que gastamos é aplicado em programas de educação e de saúde.

Eu vou --quando eu for à Guatemala--, eu vou para fora da capital, para ver nossos militares construindo clínicas de saúde. O navio USS Comfort vai à região para dar assistência a milhares de pessoas que precisam de atendimento de saúde.

Treinamos professores, treinamos médicos, treinamos enfermeiras. Assim, a descrição de que demos as costas é simplesmente --não é condizente com os fatos. Pode ser uma percepção que se tem, mas os fatos certamente a desmentem.

E é por isso que eu vim. Já estive em seu grande país duas vezes num período de tempo muito curto, tudo visando enviar a mensagem de que nós nos preocupamos muito com sua região. E as relações entre nossos países são fortes; temos um relacionamento aberto; o diálogo é amistoso.

Não existe acordo de 100% em relação aos problemas, mas, apesar disso, as questões são trazidas para a mesa de maneira construtiva. E é espantoso o que se pode fazer em matéria de resolver problemas quando existe um sentimento de respeito mútuo e uma prioridade.

É fácil fazer pouco caso da política externa dos Estados Unidos na região, mas pense no seguinte: há milhões de pessoas desta região vivendo em nosso país. Os Estados Unidos são uma sociedade multicultural. Temos pessoas de toda parte da América do Sul e Central vivendo nos Estados Unidos --muitas legalmente, muitas ilegalmente, fato que, por sinal, é um argumento em favor de um plano de reforma abrangente da imigração que ensine as pessoas com respeito e dignidade.

Essa é uma das grandes questões que coloquei diante de nosso Congresso, conseguir redigir um plano de imigração abrangente.

Aprecio sua pergunta, e fico satisfeito por estar aqui para poder respondê-la.

Presidente Lula: Eu queria, na pergunta do jornalista americano, em que ele pergunta se eu fui capaz de convencer o presidente Bush de reduzir tarifas. Se eu tivesse essa capacidade de persuasão que você pensa que eu tenho, quem sabe eu já teria convencido o presidente Bush a tantas outras coisas, que eu não posso nem falar aqui.

Isso é um processo, e não tem diferença de um processo de negociação da diferença normal entre pessoas humanas. Tem momento em que você encontra com uma pessoa, você olha na cara dela e fala: não gostei. Depois de alguns meses, aquela pessoa vira a sua melhor amiga, ou seja, você estava equivocado quando disse que não gostava. Eu não acho que um país vá abrir mão das coisas que protegem o seu comércio porque um outro está pedindo, é um processo de convencimento, de muita conversa. Vai chegar um dia em que essa conversa vai amadurecer e a gente vai poder encontrar o denominador comum que permita que a gente faça o acordo.

A segunda coisa, a pergunta da jornalista do Jornal "O Globo". Nós, hoje, temos um problema que está em jogo. Eu aprendi com o ministro Celso Amorim, que se a gente fizesse um triângulo, a gente mostraria para vocês quais são as dificuldades de negociação que nós temos. O que os países da União Européia desejam? Que ela facilite o acesso, ao seu mercado agrícola, dos países mais pobres, inclusive dos Estados Unidos. O que nós queremos dos Estados Unidos? Que eles reduzam os subsídios praticados no mercado interno. O que os Estados Unidos e a União Européia querem de nós, brasileiros, e de outros que compõem o G-20? Que a gente flexibilize o acesso a produtos industriais e aos serviços. É isso que está em jogo.

Ora, se nós tivermos a inteligência e a competência para tirar do bolso do colete os números que até agora são segredo e estão guardados a sete chaves, nós vamos encontrar um ponto comum. Eu estou convencido. Não pergunte qual é o número, que se eu soubesse, eu não diria. Até porque se eu dissesse, passaria a ter o paradigma, aí ele só ia exigir que eu baixasse mais um pouco. Então, eu tenho que manter esse número guardado. Isso é que nem um jogador quando vai bater um pênalti: ele nunca fala qual é o canto em que ele vai bater para o goleiro. Mas a minha crença é que as0 coisas estão mais ou menos encaminhadas e eu sou otimista. Tem gente pessimista, porque tem gente pessimista para tudo no mundo, não tem problema.

Uma terceira coisa que eu queria dizer ao presidente Bush, se me permite dizê-lo uma coisa. Eu, ao longo do tempo, fui construindo uma convicção, e eu tenho dito isso aos meus companheiros do Caricon, tenho dito isso aos meus companheiros da América Central, tenho dito isso aos países da África, que nós, na verdade, não precisamos ficar discutindo ajuda a esses países. Nós precisamos discutir uma coisa mais importante do que ajuda, nós precisamos construir juntos projetos, projetos que signifiquem desenvolvimento, e que depois de algum tempo a gente veja o resultado concreto daquele dinheiro investido. Porque em alguns países, ao longo da história, nem sempre o dinheiro da ajuda resulta em alguma coisa, porque não se tem controle da aplicação desse recurso.

Eu estou convencido de que no Programa de Combustível, se tivermos maturidade e compreensão política para fazer projetos em conjunto com outros países, com os Estados Unidos, a África do Sul, a Índia, a China, países europeus, e financiar projetos de produção de biodiesel e etanol nesses países mais pobres, e depois os países mais ricos comprarem o biodiesel produzido, aí, sim, nós vamos verificar que o investimento colocado naqueles países produziu resultados. E o que é mais importante, gerou empregos. Porque nada mais dá cidadania a um homem ou a uma mulher do que ele saber que tem um emprego e, no final do mês, levar um dinheirinho para casa.

Eu penso que é isso que nós poderemos fazer. Eu disse ao presidente Bush: nós poderemos fazer isso para a América Central, construir projeto de desenvolvimento para os países mais pobres e, depois de cinco, seis ou dez anos, nós vamos perceber que alguma coisa foi construída ali e que está gerando riqueza. Essa, na minha opinião, é a grande forma de ajuda que os países mais ricos podem dar aos países mais pobres.

Pergunta feita por jornalista norte-americano - Sr. presidente (Bush), os iraquianos farão sua conferência regional amanhã (hoje). Quais são suas expectativas para ela? O sr. está disposto, agora, a negociar diretamente com o Irã e com a Síria nessa reunião?

Presidente Bush - A expectativa é que os países da região, mais os países do mundo, reconheçam que a democracia pode levar à paz, e que, quando 12 milhões de pessoas votam por viver numa sociedade livre, é do interesse de todos nós ajudá-las a concretizar as bênçãos de uma sociedade livre. É essa a expectativa --em outras palavras, um compromisso em ajudar essa democracia jovem a sobreviver e crescer.

Nossa mensagem para os sírios e iranianos não vai mudar, nessa reunião, em relação ao que eu já declarei publicamente, ou seja, esperamos que vocês ajudem essa democracia jovem.

E vamos nos defender e vamos defender a população do Iraque contra armas que são enviadas ao país para fazer o mal; que vamos nos proteger e vamos ajudar o povo iraquiano a proteger-se contra aqueles que se dispõem a assassinar inocentes para alcançar seus objetivos políticos.

E é uma reunião positiva, Steve, especialmente para o primeiro-ministro Maliki e seu governo, na medida em que países virão agora a uma reunião bastante formal para expressar seu apoio. E é positivo porque acho que será importante para o povo iraquiano, que vem sofrendo muito, ouvir de outros no mundo que dizem "apoiamos sua coragem, apoiamos sua disposição em assumir riscos em nome da liberdade".

E vamos ver como será a reunião, mas estou satisfeito por ter apoiado o pedido do primeiro-ministro para que essa reunião acontecesse.

Sr. presidente (Lula), obrigado. Suas coletivas de imprensa são agradáveis. Aprecio o fato de a imprensa brasileira ter vindo. Fico feliz pela imprensa americana ter se comportado bem. Cuidado, ela pode passar muito tempo nos bares por aqui. (risos). Ok, obrigado.

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