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26/03/2007
-
09h11
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha de S.Paulo
Em sua primeira grande entrevista após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a oposição não deve dar trégua ao presidente petista, admite que sua campanha ao Planalto falhou na estratégia de comunicação e anuncia: retomará a vida pública em junho.
De acordo com o tucano, o segundo mandato de Lula confirma o que ele chama de "autoritarismo" do PT e do governo. Ontem pela manhã, Alckmin recebeu a Folha em seu apartamento, em São Paulo. Leia a seguir os principais trechos:
FOLHA - O sr. chamou muito a atenção para a questão do crescimento econômico durante sua campanha. O que pensa do PAC?
GERALDO ALCKMIN - Conseguimos colocar no centro da agenda nacional esse tema. O Brasil continua perdendo oportunidades, estamos ficando para trás em um cenário mundial ótimo. Vejo com preocupação o segundo mandato do presidente Lula porque ele não pode ser entendido como uma continuação do primeiro. Não. O presidente tem legitimidade para fazer as mudanças.
O PAC é um elenco de obras, algumas necessárias. É melhor do que nada, mas não é suficiente. Os entraves ao crescimento só serão eliminados com as reformas fiscal, tributária, trabalhista e política, a mãe de todas elas.
FOLHA - O que sr. achou do novo ministério?
ALCKMIN - O governo está perdendo tempo. É inconcebível você levar quase meio ano para montar um ministério que é uma colcha de retalhos. De outro lado, me preocupa o aspecto autoritário. Ou seja, pela primeira vez o time não foi formado antes da eleição para a direção da Câmara dos Deputados. O governo subordinou um Poder ao outro.
FOLHA - Preocupa o sr. a forma como o governo vem organizando sua nova base?
ALCKMIN - Sim. A quantidade de deputados que já mudaram de partido é inacreditável. Se as reformas não forem feitas neste ano, não vão mais sair do papel. Lula quer uma grande base para quê? Só para prorrogar a DRU (Desvinculação das Receitas Orçamentárias da União) e a CPMF?
FOLHA - Como o sr. avalia o papel da oposição até agora?
ALCKMIN - Ela não é como foi a do PT, raivosa, do "quanto pior, melhor". Ela é mais madura. Mas, quando eu vi o Lula propor trégua de dois anos, dizendo que ia convidar líderes do PSDB para conversar, achei que ele não entendeu a lógica da democracia: quem ganha, governa, quem perde, fiscaliza, propõe alternativas, cobra. Ele quer o quê? Um partido único por dois anos? É, de novo, o perfil autoritário do governo.
FOLHA - O sr. pretende disputar a presidência do PSDB?
ALCKMIN - Em maio ou junho, quando terminar meu período sabático na Universidade Harvard [EUA], pretendo me dedicar à questão do PSDB. Tem gente cobrando e apontando problemas. A questão da infra-estrutura e da logística é preocupante. Não há a necessidade de assumir a presidência do partido para trabalhar por ele. Vou visitar o país organizando o partido e agradecendo a votação em 2006.
FOLHA - O sr. pretende disputar a eleição para prefeito de São Paulo?
ALCKMIN - Essa é uma disputa de muita relevância. Em um país continental, só se fala de Brasília. Isso precisa mudar. Quando o assunto é eleição, sempre fui contra antecipar a discussão de nomes. Não há eleição neste ano.
FOLHA - O acidente da linha 4 do metrô, obra de sua gestão, o preocupa quando ao seu futuro político?
ALCKMIN - É um acidente lamentável, precisa ser apurado, vamos aguardar as conclusões. Agora, não tem nenhuma ligação com a questão contratual. A PPP [Parceria Público Privada] é para comprar o material rodante, não tem nada a ver com obras. A PPP está correta. O "turn key", o modelo do contrato, que é recomendado pelo Banco Mundial, também não tem nada a ver.
FOLHA - Se o sr. voltasse no tempo, o que mudaria em sua campanha? Acha que errou no episódio das privatizações, por exemplo?
ALCKMIN - Em relação às privatizações, eu reagi contra a mentira de que eu ia privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal... Talvez, a nossa comunicação [na campanha] tenha falhado. Mas a mentira me revoltou. Procurando reagir, tivemos um resultado que não foi bom.
FOLHA - O Datafolha mostra hoje [ontem] que a principal preocupação do brasileiro é a segurança, tema central de sua campanha.
ALCKMIN - Nós realizamos o sonho de Mario Covas e reduzimos em 50% o número de homicídios no Estado. Vejo no governo federal uma omissão muito grave. Combater o crime organizado, o tráfico de armas, de drogas é tarefa federal.
FOLHA - Na outra mão, o que o sr. acha do caso do dossiê?
ALCKMIN - Esse episódio é grave. É a impunidade, isso é triste. É ela que estimula a corrupção. Lamentável. Tenho evitado falar sobre isso para não dizerem que sou mau perdedor. No entanto, o fato é que não se chegou até a origem do dinheiro.
FOLHA - São Paulo teve um resultado muito ruim no Enem...
ALCKMIN - Ele não pode ser analisado sozinho como referência, ele é para avaliar aluno para o vestibular. São Paulo deu passos importantes, como a capacitação de professores e o aumento no tempo de alunos nas escolas. Mas, é claro, precisamos avançar mais.
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Em sua primeira grande entrevista após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a oposição não deve dar trégua ao presidente petista, admite que sua campanha ao Planalto falhou na estratégia de comunicação e anuncia: retomará a vida pública em junho.
De acordo com o tucano, o segundo mandato de Lula confirma o que ele chama de "autoritarismo" do PT e do governo. Ontem pela manhã, Alckmin recebeu a Folha em seu apartamento, em São Paulo. Leia a seguir os principais trechos:
FOLHA - O sr. chamou muito a atenção para a questão do crescimento econômico durante sua campanha. O que pensa do PAC?
GERALDO ALCKMIN - Conseguimos colocar no centro da agenda nacional esse tema. O Brasil continua perdendo oportunidades, estamos ficando para trás em um cenário mundial ótimo. Vejo com preocupação o segundo mandato do presidente Lula porque ele não pode ser entendido como uma continuação do primeiro. Não. O presidente tem legitimidade para fazer as mudanças.
O PAC é um elenco de obras, algumas necessárias. É melhor do que nada, mas não é suficiente. Os entraves ao crescimento só serão eliminados com as reformas fiscal, tributária, trabalhista e política, a mãe de todas elas.
FOLHA - O que sr. achou do novo ministério?
ALCKMIN - O governo está perdendo tempo. É inconcebível você levar quase meio ano para montar um ministério que é uma colcha de retalhos. De outro lado, me preocupa o aspecto autoritário. Ou seja, pela primeira vez o time não foi formado antes da eleição para a direção da Câmara dos Deputados. O governo subordinou um Poder ao outro.
FOLHA - Preocupa o sr. a forma como o governo vem organizando sua nova base?
ALCKMIN - Sim. A quantidade de deputados que já mudaram de partido é inacreditável. Se as reformas não forem feitas neste ano, não vão mais sair do papel. Lula quer uma grande base para quê? Só para prorrogar a DRU (Desvinculação das Receitas Orçamentárias da União) e a CPMF?
FOLHA - Como o sr. avalia o papel da oposição até agora?
ALCKMIN - Ela não é como foi a do PT, raivosa, do "quanto pior, melhor". Ela é mais madura. Mas, quando eu vi o Lula propor trégua de dois anos, dizendo que ia convidar líderes do PSDB para conversar, achei que ele não entendeu a lógica da democracia: quem ganha, governa, quem perde, fiscaliza, propõe alternativas, cobra. Ele quer o quê? Um partido único por dois anos? É, de novo, o perfil autoritário do governo.
FOLHA - O sr. pretende disputar a presidência do PSDB?
ALCKMIN - Em maio ou junho, quando terminar meu período sabático na Universidade Harvard [EUA], pretendo me dedicar à questão do PSDB. Tem gente cobrando e apontando problemas. A questão da infra-estrutura e da logística é preocupante. Não há a necessidade de assumir a presidência do partido para trabalhar por ele. Vou visitar o país organizando o partido e agradecendo a votação em 2006.
FOLHA - O sr. pretende disputar a eleição para prefeito de São Paulo?
ALCKMIN - Essa é uma disputa de muita relevância. Em um país continental, só se fala de Brasília. Isso precisa mudar. Quando o assunto é eleição, sempre fui contra antecipar a discussão de nomes. Não há eleição neste ano.
FOLHA - O acidente da linha 4 do metrô, obra de sua gestão, o preocupa quando ao seu futuro político?
ALCKMIN - É um acidente lamentável, precisa ser apurado, vamos aguardar as conclusões. Agora, não tem nenhuma ligação com a questão contratual. A PPP [Parceria Público Privada] é para comprar o material rodante, não tem nada a ver com obras. A PPP está correta. O "turn key", o modelo do contrato, que é recomendado pelo Banco Mundial, também não tem nada a ver.
FOLHA - Se o sr. voltasse no tempo, o que mudaria em sua campanha? Acha que errou no episódio das privatizações, por exemplo?
ALCKMIN - Em relação às privatizações, eu reagi contra a mentira de que eu ia privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal... Talvez, a nossa comunicação [na campanha] tenha falhado. Mas a mentira me revoltou. Procurando reagir, tivemos um resultado que não foi bom.
FOLHA - O Datafolha mostra hoje [ontem] que a principal preocupação do brasileiro é a segurança, tema central de sua campanha.
ALCKMIN - Nós realizamos o sonho de Mario Covas e reduzimos em 50% o número de homicídios no Estado. Vejo no governo federal uma omissão muito grave. Combater o crime organizado, o tráfico de armas, de drogas é tarefa federal.
FOLHA - Na outra mão, o que o sr. acha do caso do dossiê?
ALCKMIN - Esse episódio é grave. É a impunidade, isso é triste. É ela que estimula a corrupção. Lamentável. Tenho evitado falar sobre isso para não dizerem que sou mau perdedor. No entanto, o fato é que não se chegou até a origem do dinheiro.
FOLHA - São Paulo teve um resultado muito ruim no Enem...
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