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14/05/2007 - 09h01

Para analistas, visita não revigora religião

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da Folha de S.Paulo

Embora, durante a visita de Bento 16 ao Brasil, tenha ocorrido uma tentativa de aproximação dele com o público, com aparições freqüentes na sacada do mosteiro de São Bento e acenos aos fiéis, religiosos e acadêmicos ouvidos pela Folha não acreditam que o desempenho do pontífice durante a visita será determinante para reacender o catolicismo do país.

"A gente não tem ilusão de que a vinda do papa terá como efeito imediato mudar uma situação", disse anteontem, em Aparecida, o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. "Nem o papa pensa isso", acrescentou.

Eliane Moura, professora do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ressalta que grande parte dos compromissos do papa --como o encontro com bispos na Catedral da Sé e com jovens católicos no Pacaembu-- refletiu a tentativa de intensificar o "espírito missionário" dos padres e leigos para difundir a religião.

Segundo ela, é o sucesso ou não desse chamado, mais do que o carisma do papa ou a falta dele, que vai determinar se a visita terá algum efeito prático para o catolicismo no país. "A notícia da visita cai no esquecimento."

Essa evocação ao "espírito missionário", para ela, põe por terra a tese de que o papa estaria em busca de menos e melhores fiéis. A opinião é corroborada em parte pelo historiador Boris Fausto. Para ele, o papa Bento 16 quer ver o catolicismo se expandir, mas, por outro lado, coloca em primeiro lugar o fortalecimento dos princípios da Igreja.

Outros especialistas também minimizam o fato de os valores pregados por Bento 16 --como a castidade e a condenação à camisinha-- representarem um fosso com a realidade. Para o sociólogo Luiz Alberto Gomes da Silva, "as palavras do papa não são tão importantes, e sim a sua imagem". "As pessoas choram ao ver o papa, e não ao ouvi-lo, elas vêm de longe para receber a bênção, não para receber ensinamentos", afirma.

"O que conta mais é o que o papa faz, e não o que ele fala, até por que ele não está dizendo nenhuma novidade, nada que não esteja no Evangelho", afirma Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo e assessor das CEBs (Comunidades Eclesiásticas de Base). "O que as pessoas pensam é que o papa está entre nós e nos ama --é esse o efeito objetivo da visita do papa para o grande público."

Para Oliveira, "a igreja molda muito pouco o clima moral da sociedade." Sua fala é, de certa maneira, confirmada por recente pesquisa do Datafolha: apenas 9% dos católicos dizem ter mudado hábitos por causa de sua religião.

Gestos

Religiosos ouvidos pela Folha fizeram questão de exaltar o que seria um abrandamento da imagem de sisudo do papa Bento 16. "Ir seis vezes à janela do mosteiro [de São Bento] valeu muito mais que seus discursos", diz d. Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP) e que passou os últimos dias ao lado do papa.

O secretário de comunicação da arquidiocese de São Paulo, padre Juarez de Castro, diz que Bento 16 não "rejeita quebra de protocolo". No entanto, afirma, ele "se recompõe imediatamente depois".

D. Moacir Grechi, arcebispo de Porto Velho, exalta o que chama de "delicadeza" do papa durante sua visita ao Brasil. "Já estive com ele em momentos agradáveis e não tão agradáveis. Ele só não tem aquele carisma com características de teatro ou cinema, mas ele rouba a cena", afirmou.

A comparação com o antecessor João Paulo 2º, porém, é inevitável. "Ele deu uma impressão positiva, de velhinho simpático, mas não tentou imitar João Paulo 2º e não forjou nenhum gesto espetacular", pondera d. Demétrio. Padre Juarez admite que Bento 16 não tem mesmo "essa fotogenia toda". Mas tem "surpreendido as pessoas com cada gesto."

Na avaliação do governador de São Paulo, José Serra, que conheceu João Paulo 2º, Bento 16 "é menos exuberante". "Mas transmite calma, paz de espírito. Parece mais profundo em matéria de convicções. Nos seus pronunciamentos, embora feitos de forma delicada, não faz concessões. Mostra uma formidável resistência física para sua idade."

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