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15/09/2003 - 06h29

Europa deve lançar sonda à Lua neste mês

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Depois de enviar sua primeira sonda a Marte, a ESA (Agência Espacial Européia) se prepara agora para despachar pela primeira vez uma nave para a Lua. É a Smart-1, que pode até ser esperta, mas não é rápida --a superação dos 384 mil quilômetros que separam a Terra de seu satélite natural levará cerca de 16 meses.

Apesar disso, os cientistas europeus esperam que a sonda consiga reacender parte do interesse perdido pela Lua após as missões tripuladas do Projeto Apollo, que colocaram 12 astronautas na superfície lunar entre 1969 e 1972.

Pode até parecer que não, mas Smart ("esperto", em inglês) é uma sigla: "missões pequenas para pesquisa avançada em tecnologia". O nome deixa claro que se trata de uma nave de testes tecnológicos, mas a sonda também deve produzir resultados científicos.

Novos instrumentos

"A Smart-1 é também uma oportunidade para desenvolver instrumentos miniaturizados que vão mapear a Lua em raios X, para determinar a composição química global em magnésio, silício, alumínio e ferro, infravermelho, para mapear os minerais lunares, e luz visível, para geologia de alta resolução", diz Bernard Foing, cientista envolvido no projeto.

Os instrumentos da sonda também serão capazes de colocar um fim na famosa lenda urbana da "fraude lunar" --a idéia de que a Nasa (agência espacial americana) teria forjado em estúdio os pousos lunares das missões Apollo. Com as câmeras de alta resolução, será possível ver o que os astronautas deixaram na superfície da Lua antes de voltar à Terra.

Posicionada numa órbita polar em torno da Lua, a sonda também tentará detectar sinais de gelo presente no fundo de crateras, onde ele teria sido preservado por estar todo o tempo na sombra, livre dos raios solares.

Todas essas informações serão valiosas no planejamento de um futuro retorno à Lua --desta vez para ficar--, com a construção de uma base na superfície. Mas a principal missão da Smart-1 será chegar até lá.

A nave está testando um novo motor iônico, que funciona separando átomos de xenônio em elétrons (com carga negativa) e núcleos (com carga positiva) e, por meio de campos magnéticos, atirando-os para fora do motor. Por força de ação e reação, a nave é impulsionada na direção oposta.

Esses átomos são atirados com muito mais velocidade que o jato de exaustão de um foguete convencional. Em compensação, a massa expelida é muito menor, daí a baixa taxa de aceleração e o longo tempo de viagem: um ano e quatro meses. Os astronautas do Apollo, muito mais rápidos, levavam apenas três dias e meio.

Apesar disso, os motores iônicos são capazes de funcionar por muito mais tempo, e muitos apostam que versões mais capazes desses sistemas levarão o homem a Marte em algumas décadas. Por ora, viagens de longa distância com propulsores como esse ainda são novidade.

A Smart-1 é a segunda sonda a usar um motor iônico para vôo além da órbita terrestre. A primeira foi a Deep Space-1, da Nasa, que visitou um asteróide e um cometa, mas não chegou a entrar em órbita de nenhum desses corpos.

A sonda será levada de carona num foguete Ariane-5, com outros dois satélites comerciais. Da órbita terrestre, a Smart-1 acionará seu motor iônico e fará traçados cada vez maiores em torno da Terra, até conseguir ser capturada pela gravidade lunar e entrar em órbita do satélite.

Lançamento adiado

O lançamento estava marcado para agosto, mas problemas com um dos satélites que seriam levados pelo foguete levaram ao adiamento da decolagem, que ainda não tem data exata, mas deve ocorrer neste mês.

Para Foing, a sonda pode ser o início de um projeto de retomada de exploração lunar. "A Smart-1 poderia ser seguida por uma missão de pouso, que demonstraria modos de extrair recursos da Lua no local --energia solar, minerais, metais, gelo, hélio-3 para fusão nuclear e assim por diante."

Segundo ele, a ESA contempla o desenvolvimento das tecnologias para uma base lunar em seu programa Aurora, cujo principal objetivo é levar um homem a Marte. "Poderíamos ter uma vila robótica internacional na Lua por volta de 2015 e, em 2020, uma base permanente para 10 a 20 astronautas, com estadia de cem dias."
 

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