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14/10/2003 - 07h00

Chineses tentam hoje conquista do espaço

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

O palco já está pronto para o primeiro vôo tripulado do programa espacial chinês, a ser conduzido a partir do Centro de Lançamento de Jiuquan, localizado na porção noroeste do país.

A nave Shenzhou-5 deve decolar na noite de hoje (se tudo correr bem, por volta das 22h, horário de Brasília) no topo de um foguete Longa Marcha-2F, com a primeira tripulação lançada ao espaço por um veículo que não pertence nem a russos, nem a americanos.

Se o lançamento for bem-sucedido, a China se tornará o terceiro país capacitado a levar seres humanos à órbita terrestre, repetindo feito já realizado pela União Soviética (hoje Rússia), em 1961, e pelos Estados Unidos, em 1962.

Segundo o planejamento das equipes técnicas na China, no final da noite de ontem os últimos sistemas elétricos da plataforma e do lançador estariam sendo testados, procedimento que antecede o abastecimento do foguete para a realização da decolagem.

A idéia é conduzir o lançamento na manhã de quarta-feira em Jiuquan (noite de hoje em Brasília), mas, se as condições meteorológicas locais não favorecerem a missão, podem ocorrer adiamentos.

Polêmica antes do vôo

Os detalhes do plano de vôo da missão foram definidos no último sábado, em meio a um conflito entre as agendas técnica e política do programa espacial chinês.

Alguns dos gerentes defendiam uma missão com duração de vários dias e dois tripulantes a bordo, mais arrojada que as conduzidas pelo russo Iuri Gagarin e pelo americano John Glenn, os pioneiros de vôo orbital. Gagarin, a bordo da Vostok-1, fez missão de apenas uma órbita, em uma hora e 48 minutos --até hoje o vôo orbital mais curto da história. John Glenn, na Mercury Friendship-7, deu três voltas completas, em quatro horas e 55 minutos.

Os engenheiros se apoiavam na capacidade total na Shenzhou, que é muito superior às antigas Mercury e Vostok. Trata-se de um veículo até mais versátil do que a Soyuz TMA (última versão da venerável nave russa, usada desde 1967), com capacidade para três tripulantes e 20 dias de vôo autônomo.

Por outro lado, preocupações com a segurança e a visibilidade gerada por um vôo de curta duração, que poderia ser coberto na íntegra pela televisão chinesa, apontavam na direção de uma missão curta, com apenas um astronauta a bordo da nave.

O plano final ainda não foi anunciado, mas, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, o vôo será basicamente o mesmo realizado pelo primeiro protótipo da Shenzhou, lançado em 1999: 14 órbitas circulares, durante 21 horas, a uma altitude de 350 km.

Ninguém ainda é capaz de afirmar com certeza o número de tripulantes a bordo. Embora a nave esteja configurada para dois (um piloto e um engenheiro de vôo), a tendência é que se opte por um viajante solitário --até para reforçar a imagem de um pioneiro e herói chinês, alguém que se recubra da mesma glória compartilhada por Gagarin e Glenn.

Em tese, qualquer um dos 14 astronautas chineses poderia estar a bordo da nave. Desses, três foram pré-escolhidos e enviados ao centro de lançamento em Jiuquan. Os candidatos mais prováveis a um dos assentos na Shenzhou-5 são Li Qinglong e Wu Jie, que foram originalmente preparados no Centro Gagarin de Treinamento de Cosmonautas, nas cercanias de Moscou, e formaram com sua experiência as bases para o programa de treinamento chinês.

Clube do vôo tripulado

A Rússia teve participação direta no desenvolvimento da nave chinesa. Embora o projeto da Shenzhou tenha sido totalmente concebido na China, ele teve forte envolvimento de especialistas russos e contou com a ajuda da empresa RSC Energia, que vendeu uma cápsula de reentrada da Soyuz aos chineses, para estudos.

Quanto aos americanos, parecem estar recebendo a China de braços abertos. "Não posso falar pela Nasa, mas, como um cientista aqui na Nasa, estou encantado que nossos colegas na China estejam tão interessados em exploração espacial e rumando para o mundo das nações espaciais. Ajudará a mover a humanidade para fora de nosso planeta e, com sorte, para Marte", disse à Folha James Garvin, cientista-chefe do programa de exploração marciana da agência espacial americana.

"Eu acho que é um potencial evento histórico, que pode se sobrepor à minha missão, e já estou pensando nele", disse em entrevista coletiva o astronauta Michael Foale, americano. Com o russo Alexander Kaleri e o espanhol Pedro Duque, ele deve viajar rumo à ISS (Estação Espacial Internacional) no próximo sábado, numa nave Soyuz, para realizar a troca de tripulação do complexo. "Devemos ver isso positivamente, e não como uma ameaça."

Manifestação similar partiu de Sean O'Keefe, administrador da Nasa. Questionado a respeito, disse aceitar a palavra da China de que suas intenções no espaço são de ordem pacífica. O país pode até mesmo vir a se tornar mais um membro do grupo que coopera na construção da ISS. Foi o que defendeu o ex-astronauta Edwin "Buzz" Aldrin (segundo homem a pisar na Lua), em entrevista ao site especializado Space.com.

Os chineses também estão vendo com bons olhos futuras oportunidades de cooperação entre os times grandes da exploração espacial. Em entrevista à agência noticiosa Xinhua, Zhang Qingwei, um dos gerentes do programa tripulado chinês, identificou cinco áreas para cooperação internacional: construção de estações, realização de vôos espaciais, uma base lunar, um pouso tripulado em Marte e turismo espacial.

Para ele, a humanidade deverá fazer seu retorno à Lua em duas décadas. Por enquanto, os únicos planos lunares da China consistem numa sonda não-tripulada, a Chang'e, que deve ser lançada rumo ao satélite natural em 2006.

"Nos 20 anos que virão, seres humanos viajarão pelo espaço, e o turismo espacial vai definitivamente se tornar uma indústria", afirmou. "Com o desenvolvimento da tecnologia de vôos tripulados, a humanidade irá constantemente ampliar sua capacidade de usar recursos espaciais e saltar adiante na exploração do espaço."

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