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07/02/2004 - 06h04

USP acha a serpente mais antiga do Brasil

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REINALDO JOSÉ LOPES
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Um minúsculo conjunto de vértebras aprisionadas em rocha é tudo o que restou da mais antiga serpente brasileira, com idade estimada entre 85 milhões e 70 milhões de anos. Por incrível que pareça, essa cobra do tempo dos dinossauros ainda tem parentes vivos na Amazônia de hoje e pode trazer novos dados para entender a evolução de seu grupo.

Os pesquisadores da USP que estão trabalhando com o bicho, ainda sem nome, contam que praticamente tropeçaram nele ao descer de uma Kombi na zona rural de General Salgado (545 km a noroeste de São Paulo). "Lá estava a seriezinha de vértebras", lembra o paleontólogo Max Langer, 30, do Departamento de Biologia da USP de Ribeirão Preto.

Além da boa dose de sorte, a equipe também contou com a ajuda de João Tadeu Arruda, um professor da cidade que conhece os sítios fossilíferos da região como ninguém. Mas havia um problema: nem Langer nem o francês Emmanuel Fara, da Universidade de Poitiers, que o acompanhava, eram especialistas em serpentes. A dupla decidiu, então, enviar o material para Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da USP, que estuda há tempos a evolução desses animais.

Parece até maldade tentar identificar o parentesco de um bicho com base num conjunto esparso de 12 vértebras e alguns fragmentos de costelas. "Mas as vértebras das serpentes são bem características", explica o pesquisador. Esses ossinhos têm traços como o espinho neural --uma saliência no alto da vértebra-- que sugerem muito sobre a ligação de um espécime com seus parentes.

No caso, o espinho neural reduzido, ao lado de outros traços, levou Zaher a classificar a cobra de General Salgado entre os anilióideos, uma superfamília que inclui a vivíssima Anilius scytale, uma falsa coral típica da Amazônia.

"São serpentes já totalmente desenvolvidas, e por isso a descoberta de uma delas não tem implicações para a origem do grupo como um todo", explica Zaher. "Mas elas estão entre as serpentes verdadeiras mais primitivas." O paleontólogo estima que, em vida, a cobra teria entre 50 cm e 60 cm de comprimento.

Sobre ratos e cobras

Pelo visto, o bicho escapou da onda global de extinções que assassinou os dinossauros há 66 milhões de anos com pouquíssimas alterações em seu design --o que sugere, segundo Zaher, que ele era dos bons. "Assim como os mamíferos, as cobras que escaparam dessa extinção eram animais pequenos, fossoriais [que viviam no chão] e noturnos. Aliás, esses grupos evoluíram juntos desde então, de forma muito próxima, em especial os pequenos roedores e os colubróideos [o grupo que inclui as cobras venenosas]."

Veneno que, muito provavelmente, a nova espécie brasileira nunca precisou inocular. De acordo com Zaher, as mortais substâncias secretadas pelas cobras de hoje são uma invenção tardia do grupo, e mais recente ainda é o complicado aparato usado por algumas delas para injetar o veneno em suas vítimas.

Na General Salgado do fim do Cretáceo, conviveram com a serpente grandes crocodilos, tartarugas, titanossauros (grandes dinossauros herbívoros) e abelissaurídeos (dinossauros carnívoros que lembram vagamente o famigerado Tyranossaurus rex), de acordo com Langer. O local onde a serpente foi encontrada teria sido lavado de quando em quando por grandes enchentes, embora o clima, no geral, fosse semi-árido.

Para Zaher, os dados fornecidos pela serpente fóssil poderiam se tornar ainda mais importantes caso outras partes de seu esqueleto, como o crânio, fossem encontradas. Por isso, o pesquisador pretende voltar à área onde ela foi encontrada em busca de mais indícios --de preferência para procurá-los debaixo da terra, onde a preservação deve ser melhor.

Detalhes sobre a descoberta serão apresentados em edição futura da revista "Pesquisa Fapesp".

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