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18/02/2004 - 06h30

Gorduras facilitam doença de Alzheimer

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REINALDO JOSÉ LOPES
enviado especial da Folha de S.Paulo a Seattle (EUA)

Como se a lista de problemas de saúde causados pelos alimentos gordurosos já não fosse imensa, cientistas americanos acabam de adicionar a ela o dano ligado ao mal de Alzheimer, doença degenerativa do cérebro que mais afeta idosos pelo mundo. De acordo com novas análises em seres humanos, o colesterol e a ceramida, ambas moléculas de gordura, impulsionam a morte de células nervosas que caracteriza a doença.

O achado foi apresentado por Mark Mattson, do Instituto Nacional do Envelhecimentos dos EUA, durante a 170ª Reunião Anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em Seattle, no noroeste dos Estados Unidos.

"Por enquanto, as implicações estão mais ligadas à prevenção do mal de Alzheimer do que a uma possível melhora do prognóstico dos pacientes", afirmou Mattson, que participou da conferência apresentando os seus dados da pesquisa por telefone, por estar gripado. Mesmo assim, ele e seus colegas mostraram evidências de que o uso de substâncias como a vitamina E poderia reduzir os danos causados pelo colesterol aos pacientes com a doença.

Vitaminas

Colegas de Mattson também revelaram novas evidências de que o consumo de vitaminas como suplemento alimentar e provenientes de vegetais seria capaz de prevenir o advento da doença, e mesmo de que as estatinas, hoje usadas para o combate ao colesterol na corrente sangüínea, também poderiam evitar o aparecimento do mal de Alzheimer.

Apesar de estudada de forma intensa no mundo todo, a moléstia tem um mecanismo de ação ainda pouco compreendido. Aparentemente, o fator principal para seu aparecimento é o acúmulo da proteína beta-amilóide nos neurônios (células nervosas), em geral de pessoas idosas. Essa molécula tende a se aglomerar em placas e, por ser tóxica, elimina um a um os neurônios dos doentes, levando-os à morte.

Mattson e colegas descobriram uma espécie de combinação letal entre o aparecimento da beta-amilóide e a presença de colesterol e de ceramida nos neurônios de pessoas mortas com o mal.

Cascata fatal

Num trabalho aprovado para publicação na revista científica "PNAS" (www.pnas.org), a equipe mostrou que o aparecimento da beta-amilóide induz um acúmulo anormal de colesterol e ceramida. Eles, por sua vez, iniciam uma cascata de reações bioquímicas que acaba conduzindo à morte dos neurônios. Isso acontece, segundo os cientistas, porque as substâncias liberam os chamados radicais livres --átomos isolados de oxigênio que são um verdadeiro veneno para o organismo.

Por outro lado, diz Benjamin Wolozin, do Centro Médico da Universidade Loyola (Chicago, EUA), o local onde as moléculas de colesterol se abrigam na membrana é também a região na qual estão as enzimas (moléculas que aceleram reações químicas) responsáveis por produzir a beta-amilóide. "Sem a presença de colesterol, elas não conseguem operar", afirma.

Com a compreensão desses processos, os cientistas propõem duas estratégias. Uma, obviamente, é reduzir o consumo de gordura que pode levar a uma presença excessiva de colesterol e ceramida no organismo. Outra é utilizar substâncias antioxidantes, ou seja, capazes de reduzir a ação dos radicais livres.

Esse é o caso das vitaminas. Experimentos coordenados por Carl Cotman, da Universidade da Califórnia em Irvine, mostraram resultados animadores em cães na fase de envelhecimento (a partir dos 9 anos de vida), na qual os animais podem desenvolver uma doença que lembra Alzheimer.

Memória restaurada

Os suplementos de vitaminas C e E e de vegetais dados aos bichos funcionou tão bem que a memória dos cães, testada regularmente por meio de um exercício no qual eles tinham de reconhecer objetos, passou a se igualar à de animais jovens. Um dado importante, já que a perda da capacidade de armazenar novas lembranças é um dos principais sintomas do mal de Alzheimer em humanos.
 

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