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15/05/2004
-
04h01
FERNANDO CANZIAN
da Folha de S.Paulo, em Washington
Bilhões de insetos alados, extremamente barulhentos e de olhos vermelhos estão invadindo mais de dez Estados norte-americanos e vão continuar atormentando a população dessas regiões pelas próximas semanas.
O epicentro da chamada "invasão das cigarras" é a capital dos EUA, Washington, onde alguns eventos ao ar livre nos subúrbios, como jogos e casamentos, estão sendo adiados para evitar a praga.
Na cidade, restaurantes inventaram pratos com cigarras fritas e muitos dos bichos foram parar no fundo de garrafas de tequila.
O fenômeno, aguardado com um certo frenesi entre biólogos e pela mídia local, não tem nada de inesperado: como um relógio, ocorre a cada 17 anos nas mesmas áreas e chegou a ser registrado em diário pelo presidente americano Thomas Jefferson (1743-1826).
Há outros ciclos menores de aparecimento de cigarras, que garantem a existência dos bichos todos os anos. O atual, e mais longo, é chamado nos EUA de Brood X.
Cientistas familiarizados com o assunto reconhecem saber muito pouco sobre os mecanismos naturais que levam os bichos a "hibernar" durante 17 anos. Nesse período, os insetos permanecem enterrados a um palmo de profundidade alimentando-se da seiva que tiram de raízes de árvores.
O sinal do fim desse ciclo sob a terra são os olhos do insetos, que passam do tom cinza a um vermelho vivo. Praticamente juntos e sempre à noite, eles cavam então seu caminho em direção à superfície e, como lagartas, abandonam a antiga casca e ganham asas.
As cigarras não fazem nenhum mal aos seres humanos ou a outros animais, embora possam aparecer em número suficiente para estragar canteiros e jardins.
"São os seres com maior biomassa [total de matéria viva] na terra e representam o maior agregado de animais num ambiente natural", diz Keith Clay, biólogo da Universidade de Indiana.
O verdadeiro estrago, no entanto, é perpetrado pelos predadores das cigarras, hordas de pássaros famintos no início da primavera.
O consenso entre os biólogos que estudam o fenômeno é de que as cigarras saem praticamente todas juntas para terem maiores chances de escapar ao ataque de seus predadores e de poderem, mais uma vez, se reproduzir.
Depois de ganhar asas, os bichos que sobreviverem vão viver por cerca de 40 dias. Vão acasalar, depositar seus ovos em galhos e troncos de árvores e morrer.
No fim do verão, os ovos já terão se transformado em pequenas larvas do tamanho de um grão de arroz. Elas se soltarão das árvores e cavarão seu caminho no solo. Seguramente, voltarão a ver a luz do dia em 2021.
Invasão das cigarras toma conta dos EUA
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da Folha de S.Paulo, em Washington
Bilhões de insetos alados, extremamente barulhentos e de olhos vermelhos estão invadindo mais de dez Estados norte-americanos e vão continuar atormentando a população dessas regiões pelas próximas semanas.
O epicentro da chamada "invasão das cigarras" é a capital dos EUA, Washington, onde alguns eventos ao ar livre nos subúrbios, como jogos e casamentos, estão sendo adiados para evitar a praga.
Na cidade, restaurantes inventaram pratos com cigarras fritas e muitos dos bichos foram parar no fundo de garrafas de tequila.
O fenômeno, aguardado com um certo frenesi entre biólogos e pela mídia local, não tem nada de inesperado: como um relógio, ocorre a cada 17 anos nas mesmas áreas e chegou a ser registrado em diário pelo presidente americano Thomas Jefferson (1743-1826).
Há outros ciclos menores de aparecimento de cigarras, que garantem a existência dos bichos todos os anos. O atual, e mais longo, é chamado nos EUA de Brood X.
Cientistas familiarizados com o assunto reconhecem saber muito pouco sobre os mecanismos naturais que levam os bichos a "hibernar" durante 17 anos. Nesse período, os insetos permanecem enterrados a um palmo de profundidade alimentando-se da seiva que tiram de raízes de árvores.
O sinal do fim desse ciclo sob a terra são os olhos do insetos, que passam do tom cinza a um vermelho vivo. Praticamente juntos e sempre à noite, eles cavam então seu caminho em direção à superfície e, como lagartas, abandonam a antiga casca e ganham asas.
As cigarras não fazem nenhum mal aos seres humanos ou a outros animais, embora possam aparecer em número suficiente para estragar canteiros e jardins.
"São os seres com maior biomassa [total de matéria viva] na terra e representam o maior agregado de animais num ambiente natural", diz Keith Clay, biólogo da Universidade de Indiana.
O verdadeiro estrago, no entanto, é perpetrado pelos predadores das cigarras, hordas de pássaros famintos no início da primavera.
O consenso entre os biólogos que estudam o fenômeno é de que as cigarras saem praticamente todas juntas para terem maiores chances de escapar ao ataque de seus predadores e de poderem, mais uma vez, se reproduzir.
Depois de ganhar asas, os bichos que sobreviverem vão viver por cerca de 40 dias. Vão acasalar, depositar seus ovos em galhos e troncos de árvores e morrer.
No fim do verão, os ovos já terão se transformado em pequenas larvas do tamanho de um grão de arroz. Elas se soltarão das árvores e cavarão seu caminho no solo. Seguramente, voltarão a ver a luz do dia em 2021.
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