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06/07/2004 - 09h27

Falha em usina celular levaria a Alzheimer

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Quando se concluiu a soletração do genoma humano, muito se falou do potencial do conhecimento recém-adquirido na busca pela cura de doenças hoje intratáveis, como o mal de Alzheimer. Agora, pelo menos no caso dessa doença neurodegenerativa, um trio de cientistas nos EUA diz que estivemos o tempo todo prestando atenção ao DNA errado.

Para Douglas Wallace, da Universidade da Califórnia em Irvine, e seus colegas Pinar Coskun e Flint Beal, da Universidade Cornell, em Nova York, a causa do mal da Alzheimer não está no material genético do núcleo celular, alvo principal do Projeto Genoma Humano, mas sim no DNA das mitocôndrias --as fábricas de energia da célula.

Em um estudo recém-publicado no periódico científico "PNAS" (www.pnas.org), da Academia Nacional de Ciências americana, os pesquisadores mostram que uma série de mutações no DNA mitocondrial aparece em pacientes diagnosticados com mal de Alzheimer, mas não ocorre em pessoas sadias.

Eles acreditam que os resultados mostram um elo até então pouco explorado entre a funcionalidade das mitocôndrias e a ocorrência da doença.

O mal de Alzheimer, que se manifesta em pessoas idosas --geralmente após os 65 anos-- primeiro na forma de problemas de memória e avança até a demência e a morte, é normalmente associado à formação, no cérebro, de placas de uma substância chamada beta-amilóide. Essa correlação fez com que muitos pesquisadores fossem buscar a causa da doença em defeitos genéticos na produção dessa proteína.

"De fato, foi encontrada uma correlação com uma mutação num gene ligado à beta-amilóide que ocorre em 5% dos casos de Alzheimer", diz Wallace. "Mas achamos que nossa pesquisa com DNA mitocondrial pode responder pelos outros 95%."

As mitocôndrias são responsáveis pela respiração celular --o processamento de oxigênio para produzir calor e energia para a célula. Só que, nesse processo, ela também produz substâncias altamente reativas, os chamados radicais livres. "Esses radicais acabam lesando o DNA da mitocôndria", explica o neurologista Cícero Galli Coimbra, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Com o tempo, essas lesões --mutações nas "letras" genéticas que compõem as instruções para o bom funcionamento da mitocôndria-- acabam por inutilizar a usina de força celular.

"A mitocôndria carrega dentro de si mesma a semente para sua destruição", diz Wallace. Ele acredita que o processo esteja intimamente ligado não só ao mal de Alzheimer, mas a muitas das doenças que parecem ter um "gatilho" ligado à idade. Coimbra concorda. "Mutações no DNA mitocondrial têm sido relatadas em todas as doenças degenerativas, como mal de Parkinson e diabetes."

Mais do que o elo com Alzheimer, essa ligação com uma variada gama de doenças torna a pesquisa atraente para os americanos. Eles no momento estão desenvolvendo e testando uma série de medicamentos, destinados a tratar esse problema da degeneração do DNA mitocondrial.

"Estamos experimentando com animais um conjunto de substâncias que teriam como objetivo a proteção do DNA da mitocôndria contra os radicais livres", diz Wallace, que afirma já ter realizado testes promissores com vermes e camundongos.

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