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19/07/2004
-
06h25
CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo
Os índios tupis e guaranis criaram a palavra "jaguar" para designar o maior felino das Américas, mais conhecido no Brasil como onça-pintada. Nada mais justo, portanto, que num parque nacional gerenciado por uma comunidade guarani esteja a maior população de onças já estimada no planeta para uma área de conservação: mais de 1.000 indivíduos.
A zona em questão é o Parque Nacional Kaa-Iya del Gran Chaco, que ocupa 34,4 mil quilômetros quadrados no sudeste boliviano (uma área maior que a da Bélgica). Um levantamento realizado ali por cientistas da Bolívia e dos EUA indica que essa população não corre risco de se extinguir nos próximos cem anos.
O estudo foi liderado pelo biólogo boliviano Leonardo Maffei, da Fundação Ivy-Anhambae, em Santa Cruz de la Sierra. Começando em 2001, Maffei e seus colegas Erika Cuéllar e Andrew Noss usaram armadilhas fotográficas para flagrar as onças em diversos pontos do parque.
As armadilhas são espécies de engenhocas compostas de um par de câmeras fotográficas e sensores de calor ou movimento que disparam sempre que um animal de determinado tamanho os atravessa. Na pesquisa realizada pelo trio, publicada no mês passado na revista científica "Journal of Zoology", as armadilhas fotográficas foram colocadas em locais com maior probabilidade de visitação por onças, como trilhas e lagoas.
Depois de reveladas as fotos e descontadas imagens repetidas de um mesmo indivíduo, os pesquisadores puderam estimar a densidade de onças no parque boliviano. O grupo chegou à cifra de dois a cinco animais em cada 100 km2.
Não é exatamente uma densidade enorme, mesmo para esse normalmente raro predador de topo de cadeia: valores mais altos já foram estimados para o Pantanal e para as selvas tropicais de Belize.
A surpresa para os pesquisadores, no entanto, não foi o número em si, mas o tipo de ecossistema no qual ele foi computado: as florestas secas do Chaco boliviano.
"Nós costumávamos assumir que a onça era um animal de florestas úmidas, mas ela parece estar se dando bem em florestas secas", afirma o geógrafo norte-americano Andrew Noss, da WCS (Sociedade Mundial para a Conservação), co-autor do trabalho.
Com 1 milhão de quilômetros quadrados, o Chaco é uma das maiores regiões ecológicas do continente americano (tem cerca de um quinto da área da Amazônia). Uma população estável de onças num local como esse pode levar à conclusão de que a espécie está muito melhor de saúde do que se imaginava.
Para Noss, essa é uma conclusão apressada: primeiro, porque não existem estimativas populacionais anteriores. Assim, não há padrão de comparação. Além disso, ameaças à espécie ainda são grandes em algumas partes da Amazônia, como em Mato Grosso, no sul do Pará e no parque de Maididi, na Bolívia, onde a caça e o desmatamento reduziram tanto o hábitat quanto a quantidade de presas para os carnívoros.
"O número não me serve de consolo", diz o brasileiro Peter Crawshaw, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), um dos maiores especialistas em onça pintada do mundo. "É uma notícia boa de saber, mas você precisa considerar que elas [as onças] estão em situação muito pior na maior parte de sua distribuição [e extintas em 37% de seu território original]", diz.
Especial
Veja o que já foi publicado sobre onças
Parque boliviano é maior "casa" de onças
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da Folha de S.Paulo
Os índios tupis e guaranis criaram a palavra "jaguar" para designar o maior felino das Américas, mais conhecido no Brasil como onça-pintada. Nada mais justo, portanto, que num parque nacional gerenciado por uma comunidade guarani esteja a maior população de onças já estimada no planeta para uma área de conservação: mais de 1.000 indivíduos.
A zona em questão é o Parque Nacional Kaa-Iya del Gran Chaco, que ocupa 34,4 mil quilômetros quadrados no sudeste boliviano (uma área maior que a da Bélgica). Um levantamento realizado ali por cientistas da Bolívia e dos EUA indica que essa população não corre risco de se extinguir nos próximos cem anos.
O estudo foi liderado pelo biólogo boliviano Leonardo Maffei, da Fundação Ivy-Anhambae, em Santa Cruz de la Sierra. Começando em 2001, Maffei e seus colegas Erika Cuéllar e Andrew Noss usaram armadilhas fotográficas para flagrar as onças em diversos pontos do parque.
As armadilhas são espécies de engenhocas compostas de um par de câmeras fotográficas e sensores de calor ou movimento que disparam sempre que um animal de determinado tamanho os atravessa. Na pesquisa realizada pelo trio, publicada no mês passado na revista científica "Journal of Zoology", as armadilhas fotográficas foram colocadas em locais com maior probabilidade de visitação por onças, como trilhas e lagoas.
Depois de reveladas as fotos e descontadas imagens repetidas de um mesmo indivíduo, os pesquisadores puderam estimar a densidade de onças no parque boliviano. O grupo chegou à cifra de dois a cinco animais em cada 100 km2.
Não é exatamente uma densidade enorme, mesmo para esse normalmente raro predador de topo de cadeia: valores mais altos já foram estimados para o Pantanal e para as selvas tropicais de Belize.
A surpresa para os pesquisadores, no entanto, não foi o número em si, mas o tipo de ecossistema no qual ele foi computado: as florestas secas do Chaco boliviano.
"Nós costumávamos assumir que a onça era um animal de florestas úmidas, mas ela parece estar se dando bem em florestas secas", afirma o geógrafo norte-americano Andrew Noss, da WCS (Sociedade Mundial para a Conservação), co-autor do trabalho.
Com 1 milhão de quilômetros quadrados, o Chaco é uma das maiores regiões ecológicas do continente americano (tem cerca de um quinto da área da Amazônia). Uma população estável de onças num local como esse pode levar à conclusão de que a espécie está muito melhor de saúde do que se imaginava.
Para Noss, essa é uma conclusão apressada: primeiro, porque não existem estimativas populacionais anteriores. Assim, não há padrão de comparação. Além disso, ameaças à espécie ainda são grandes em algumas partes da Amazônia, como em Mato Grosso, no sul do Pará e no parque de Maididi, na Bolívia, onde a caça e o desmatamento reduziram tanto o hábitat quanto a quantidade de presas para os carnívoros.
"O número não me serve de consolo", diz o brasileiro Peter Crawshaw, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), um dos maiores especialistas em onça pintada do mundo. "É uma notícia boa de saber, mas você precisa considerar que elas [as onças] estão em situação muito pior na maior parte de sua distribuição [e extintas em 37% de seu território original]", diz.
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