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09/08/2004
-
07h01
CRISTINA AMORIM
free-lance para a Folha de S.Paulo
O grafite, material comum nas mochilas dos estudantes, deve ganhar novas aplicações comerciais graças a um experimento idealizado por pesquisadores do Brasil e do Uruguai.
A equipe, formada por cientistas dos laboratórios de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, e da Universidade da República, em Montevidéu, produziu em laboratório carbono magnetizado em escala macroscópica --pedaços visíveis de imã de grafite-- por meio de um método mais barato e simples do que o usado normalmente.
O magnetismo é um dos fenômenos mais utilizados por indústrias como a das telecomunicações. "Eu não falaria com você neste momento se os imãs não existissem", explicou à Folha, por telefone, o engenheiro de materiais Fernando Araújo-Moreira, um uruguaio que mora no Brasil há 22 anos e trabalha na UFSCar.
Araújo-Moreira e seus conterrâneos Helena Pardo e Álvaro Mombrú colocaram dois recipientes, chamados de cadinhos (uma espécie de recipiente resistente ao calor), dentro de um "forno": um continha pó de grafite puro; o outro, óxido de cobre. O forno foi preenchido com nitrogênio e mantido aquecido a 1.200ºC por 24 horas, até que o óxido, em estado gasoso, atacasse o grafite.
O resultado são pequenas cavidades na estrutura do mineral pelas quais passam correntes eletrônicas. "Imagine que a estrutura do grafite é parecida com folhas de papel sobrepostas. O que fizemos foi criar defeitos que atravessam essas folhas", diz Araújo-Moreira. Ele admite que o imã obtido contém impurezas ferromagnéticas, mas o índice presente seria incapaz de produzir o efeito observado no carbono.
O novo imã consegue se manter estável em temperatura ambiente, algo que os magnetos anteriores obtidos a partir do carbono não faziam --normalmente o magnetismo estável, em sistemas orgânicos, é observado apenas em temperaturas muito baixas.
O carbono magnetizado não é exatamente uma novidade na comunidade científica. Acontece que as tentativas feitas até hoje eram pouco eficientes ou caras.
Potencial
Tradicionalmente, o mercado consome imãs de ligas metálicas com samário, níquel, ferro e cobalto. A substituição desses elementos pelo grafite, mais leve, impactaria áreas tão distintas quanto informática, aeronáutica, sistemas de comunicação e nanotecnologia. Até estações espaciais seriam beneficiadas. Além disso, o carbono está presente em todos os materiais orgânicos, o que em teoria permite sua aplicação na medicina. "Há trabalhos que prevêem o uso de micropartículas de carbono magnetizado para tratar doenças", comenta o físico Yakov Kopelevich, que pesquisou o material na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Antes, a técnica desenvolvida por Araújo-Moreira e colegas precisa ser comprovada por laboratórios independentes. Atualmente, ela passa pela avaliação de duas publicações tradicionais do meio, "Physical Review Letters" e "Applied Physics Letters".
"Um fato é produzir o material, outro é aferir quão magnético ele é", diz o físico Edgar Dutra Zanotto, também pesquisador da UFSCar. Para ele, o método pode levar a produção de carbono magnetizado em larga escala, caso seja provado que é efetivo. O custo do trabalho é tão baixo que os pesquisadores não buscaram financiamento externo: usaram materiais e equipamentos encontrados nas duas universidades.
A equipe entrou em junho com um pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). De acordo com Araújo-Moreira, duas multinacionais --cujos nomes ele prefere não revelar-- mostraram interesse no procedimento, além de empresas da Alemanha, França e Estados Unidos. Novas patentes "filhotes" devem ser geradas após a aprovação do método.
Por causa das possíveis implicações comerciais, um valor não foi calculado. "O que mostramos é apenas a ponta do iceberg", diz Araújo-Moreira.
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre magnetismo
Pesquisadores produzem imã de grafite
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free-lance para a Folha de S.Paulo
O grafite, material comum nas mochilas dos estudantes, deve ganhar novas aplicações comerciais graças a um experimento idealizado por pesquisadores do Brasil e do Uruguai.
A equipe, formada por cientistas dos laboratórios de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, e da Universidade da República, em Montevidéu, produziu em laboratório carbono magnetizado em escala macroscópica --pedaços visíveis de imã de grafite-- por meio de um método mais barato e simples do que o usado normalmente.
O magnetismo é um dos fenômenos mais utilizados por indústrias como a das telecomunicações. "Eu não falaria com você neste momento se os imãs não existissem", explicou à Folha, por telefone, o engenheiro de materiais Fernando Araújo-Moreira, um uruguaio que mora no Brasil há 22 anos e trabalha na UFSCar.
Araújo-Moreira e seus conterrâneos Helena Pardo e Álvaro Mombrú colocaram dois recipientes, chamados de cadinhos (uma espécie de recipiente resistente ao calor), dentro de um "forno": um continha pó de grafite puro; o outro, óxido de cobre. O forno foi preenchido com nitrogênio e mantido aquecido a 1.200ºC por 24 horas, até que o óxido, em estado gasoso, atacasse o grafite.
O resultado são pequenas cavidades na estrutura do mineral pelas quais passam correntes eletrônicas. "Imagine que a estrutura do grafite é parecida com folhas de papel sobrepostas. O que fizemos foi criar defeitos que atravessam essas folhas", diz Araújo-Moreira. Ele admite que o imã obtido contém impurezas ferromagnéticas, mas o índice presente seria incapaz de produzir o efeito observado no carbono.
O novo imã consegue se manter estável em temperatura ambiente, algo que os magnetos anteriores obtidos a partir do carbono não faziam --normalmente o magnetismo estável, em sistemas orgânicos, é observado apenas em temperaturas muito baixas.
O carbono magnetizado não é exatamente uma novidade na comunidade científica. Acontece que as tentativas feitas até hoje eram pouco eficientes ou caras.
Potencial
Tradicionalmente, o mercado consome imãs de ligas metálicas com samário, níquel, ferro e cobalto. A substituição desses elementos pelo grafite, mais leve, impactaria áreas tão distintas quanto informática, aeronáutica, sistemas de comunicação e nanotecnologia. Até estações espaciais seriam beneficiadas. Além disso, o carbono está presente em todos os materiais orgânicos, o que em teoria permite sua aplicação na medicina. "Há trabalhos que prevêem o uso de micropartículas de carbono magnetizado para tratar doenças", comenta o físico Yakov Kopelevich, que pesquisou o material na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Antes, a técnica desenvolvida por Araújo-Moreira e colegas precisa ser comprovada por laboratórios independentes. Atualmente, ela passa pela avaliação de duas publicações tradicionais do meio, "Physical Review Letters" e "Applied Physics Letters".
"Um fato é produzir o material, outro é aferir quão magnético ele é", diz o físico Edgar Dutra Zanotto, também pesquisador da UFSCar. Para ele, o método pode levar a produção de carbono magnetizado em larga escala, caso seja provado que é efetivo. O custo do trabalho é tão baixo que os pesquisadores não buscaram financiamento externo: usaram materiais e equipamentos encontrados nas duas universidades.
A equipe entrou em junho com um pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). De acordo com Araújo-Moreira, duas multinacionais --cujos nomes ele prefere não revelar-- mostraram interesse no procedimento, além de empresas da Alemanha, França e Estados Unidos. Novas patentes "filhotes" devem ser geradas após a aprovação do método.
Por causa das possíveis implicações comerciais, um valor não foi calculado. "O que mostramos é apenas a ponta do iceberg", diz Araújo-Moreira.
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