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17/01/2005 - 10h06

Sol pode ter "roubado" planeta extra-solar

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

O melhor lugar para procurar planetas extra-solares é o Sistema Solar. Parece uma contradição em termos, mas é o que dizem astrônomos do Observatório Astrofísico Smithsonian e da Universidade Harvard, nos EUA.

Segundo esses cientistas, uma estrela passando de raspão pelo Sol bilhões de anos atrás poderia ter deixado para trás alguns de seus planetas --ou, pelo menos, alguns dos astros menores conhecidos como objetos do cinturão de Kuiper, que os cientistas acreditam existirem na borda de todos os sistemas planetários.

Oportunidade para que a coisa tenha acontecido não deve ter faltado. Em geral, os astrônomos acreditam que encontros de estrelas como esse têm uma boa probabilidade de ter ocorrido na época de formação do Sol, mais de 4 bilhões de anos atrás, quando a estrela deveria estar numa região bem mais "populosa" que a atual.

Scott Kenyon e seus colegas há mais de uma década estudam a dinâmica de objetos no cinturão de Kuiper (no Sistema Solar, eles ficam além da órbita de Netuno e seu membro mais conhecido é o planeta Plutão).

O cinturão é composto por pedaços de rocha e gelo que sobraram da formação do Sol e de seus planetas. Kenyon então decidiu investigar que efeito um encontro de estrelas teria tido em seus cinturões de Kuiper.

Conduziu então uma simulação de computador, e os resultados foram impressionantes. Conforme as duas estrelas se aproximam, os dois cinturões de Kuiper se mesclam, num balé gravitacional quase caótico.

Alguns dos objetos de uma estrela vão parar ao redor de outra. Uma animação do efeito pode ser vista no site de Kenyon.

Com o estudo, Kenyon e seus colegas provaram que é possível que os exemplares mais próximos de objetos pertencentes a outros sistemas planetários estejam aqui mesmo, no Sistema Solar.

Primeiro candidato

E eles já têm até um objeto que pode ter sido "roubado" pelo Sol desta maneira. É o Sedna, nome dado a um astro identificado em novembro de 2003 por um grupo do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) que tem quase o mesmo tamanho que Plutão, mas está numa órbita muito mais esquisita e oval ao redor do Sol.

Kenyon e seus colegas voltaram sua atenção para o Sedna logo que ele foi anunciado. "Decidimos tentar modificar nossos cálculos assim que o Sedna foi anunciado para ver se conseguíamos obter um objeto como ele."

O resultado: eles conseguem, mas a maioria dos objetos com órbita semelhante nas simulações acaba vindo do Sol mesmo. Para cada Sedna extra-solar que eles produziram, há outros nove solares. Em outras palavras, "existe uma chance de 10% de que Sedna seja um astro capturado que foi formado em torno de outra estrela", diz Kenyon.

É uma porcentagem muito baixa, mas significativa. O que acaba trazendo um problema adicional. No caso específico do Sedna, como seria possível ter certeza?

Uma forma de determinar se Sedna é solar ou não seria obter mais leituras daquele mundo, para distinguir sua composição. "Talvez os planetas formados ao redor de outras estrelas tenham misturas ligeiramente diferentes de elementos como carbono, nitrogênio e ferro das que há nos planetas do nosso Sistema Solar", afirma o pesquisador.

Ainda assim, a melhor aposta seria procurar astros cujas órbitas com certeza já os qualificassem como objetos extra-solares capturados. "Ninguém atualmente está fazendo uma busca de planetas extra-solares em nosso Sistema Solar", diz Kenyon. "Estamos usando nossos cálculos para achar o melhor modo de tentar fazer esse tipo de busca."

Busca

Eles já até selecionaram possíveis telescópios nos hemisférios Norte e Sul para realizar a busca. O ideal, diz Kenyon, seria buscar objetos fora da eclíptica (linha imaginária que representa no céu o plano aproximado do Sistema Solar --todos os planetas sempre aparecem no firmamento em algum ponto dessa reta).

Os resultados das simulações de Kenyon e seus colegas foram publicadas no mês passado na revista "Nature".

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