Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/01/2005 - 09h33

Gene não explica falta de mulher cientista, diz psicóloga

Publicidade

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A evolução de fato forjou diferenças no modo de pensar e agir de homens e mulheres, mas essas diferenças não ajudam a explicar o porquê de haver mais pessoas do sexo masculino do que do feminino em carreiras ligadas a matemática e ciências exatas.

É o que diz Leda Cosmides, psicóloga da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA) e uma das pioneiras no campo da psicologia evolutiva, em resposta a comentários feitos pelo reitor da Universidade Harvard, Larry Summers.

Na última sexta-feira, Summers causou celeuma ao declarar, numa apresentação, que a discrepância no número de homens e mulheres que têm bom desempenho em carreiras de engenharia e matemática poderia estar ligada a talentos inatos para cada sexo.

"Existem diferenças criadas com o tempo pelos diferentes problemas que nossos ancestrais tiveram de enfrentar", disse à Folha Cosmides.

"Isso posto, acho que Larry Summers tem uma base fraca para sustentar [a idéia de que isso explica a diferença de desempenho entre homens e mulheres]. Pode haver diferenças de interesse. Por exemplo, mulheres tendem mais às ciências biológicas do que às físicas. Mas, uma vez que uma mulher fez uma escolha, nenhum fator inato prejudicará seu desempenho."

A discussão sobre habilidades inatas e influências de gênero e etnia no desempenho intelectual não é nova.

Em 1994, Richard Herrnstein e Charles Murray causaram confusão com seu livro "A Curva do Sino" ("The Bell Curve"), que defendia que o melhor desempenho de homens brancos em testes de QI tinha relação com a sua genética.

O livro provocou revolta nos meios acadêmicos --e, agora, a polêmica parece reemergir das declarações de Summers sobre mulheres.

Se, por um lado, Cosmides acha que o argumento de Summers não faz muito sentido, por outro ela diz que as afirmações do reitor de Harvard não deveriam ter produzido tamanho barulho. "Achei um absurdo que pessoas tenham se levantado e saído no meio da palestra. Se você não concorda com o que estão dizendo, você fica e argumenta", diz Cosmides.

Recrutamento dificultado

Apesar disso, as reações adversas continuam ecoando no meio acadêmico. Anteontem, um comitê de causas femininas de Harvard enviou uma carta a Summers sugerindo que suas declarações podem prejudicar o recrutamento de professoras de alto nível para a universidade.

Na noite de segunda-feira, o próprio Summers --que, em 2001, já havia comprado briga com intelectuais negros em Harvard-- havia escrito em sua página pessoal na internet que suas declarações "foram manipuladas para sugerir que as mulheres não tinham capacidade de ser bem-sucedidas nos níveis mais altos de matemática e ciência".

E arrematou: "Eu não disse isso, nem acredito nisso. Meu objetivo na conferência foi destacar que a situação provavelmente é produto de uma variedade de fatores e que mais pesquisa pode nos ajudar a entender melhor essa interação".

Durante sua palestra, segundo testemunhos (não houve um registro gravado), Summers mencionou não só causas inatas, mas também as dificuldades que as mulheres com filhos têm de se dedicar à carreira acadêmica e o preconceito no meio como possíveis causas para a discrepância.

Cosmides acha que os dois problemas existem, mas a inadequação não está do lado das mulheres. "Nenhum ser humano deveria ter de fazer uma escolha entre ter uma carreira ou ter filhos", diz ela. "A universidade é que deveria se adaptar a essa situação. Não se pode negar a natureza dos mamíferos, e somos todos mamíferos."

Quanto ao preconceito, ela acredita que exista, mas que seja algo muito sutil, fortemente enraizado no cérebro humano.

"É uma coisa profundamente primata", afirma. "Há, por exemplo, um estudo dizendo que pessoas mais altas ganham mais promoções do que as pessoas mais baixas. Isso é verdade, e no entanto ninguém anda por aí pensando: "E então, como vou fazer para ferrar um baixinho hoje?"."

Sendo algo tão enraizado, seria possível evitá-lo? "Eu não sei. Talvez saber que somos assim, tomarmos consciência do fato, possa fazer diferença. O que eu sei é que não nos conscientizarmos não vai resolver nada."

Com agências internacionais

Leia mais
  • Mulheres são menos aptas para ciências, diz presidente de Harvard

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre mulheres cientistas
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página