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24/01/2005 - 05h58

Psicóloga feminista Helena Cronin reforça diferença entre sexos

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da Folha de S.Paulo

Ao atender o telefone de sua casa, em Londres, a psicóloga e feminista Helena Cronin perguntou ao marido se ela podia conceder meia hora ao jornalista --ele estava terminando de fazer o jantar. Leia a seguir a entrevista.

Folha - Logo de cara, a sra. foi categórica ao dizer que Lawrence Summers tinha razão no que disse [o reitor de Harvard afirmou que as mulheres têm menos capacidade em ciência e em matemática do que os homens]. Por que acha isso?
Helena Cronin - Isso não tem nada a ver com a minha opinião, com a minha visão, é a visão da ciência. O entendimento evolutivo moderno é o de que, como na maioria das espécies que se reproduzem sexualmente, os homens são diferentes das mulheres de uma maneira muito típica. É o que se chama de dimorfismo, as diferenças entre machos e fêmeas. A noção de que somos diferentes é a que ele está defendendo.

Folha - Mas uma coisa é dizer que homens e mulheres são diferentes e outra é dizer que isso implica diferenças na capacidade de fazer ciência e matemática.
Cronin - Você está absolutamente certo. Há duas coisas diferentes que entram quando se fala em ser um cientista, e ele toca em ambas. Uma é uma habilidade particular, cognitiva, de fazer matemática, engenharia, o que seja. Outra é a disposição social e emocional, que é se você quer competir para ser o melhor professor, para ser o ganhador do Prêmio Nobel e assim por diante. E há uma terceira, que é a distribuição geral de habilidades e inabilidades em machos e fêmeas. Vivemos num mundo em que essas coisas estão começando a aparecer. Deveríamos levá-las a sério. Algo que não se deveria fazer é sair da sala quando alguém está falando a verdade, como fizeram com o reitor.

Folha - Que diferenças marcantes já foram identificadas pela ciência entre homens e mulheres?
Cronin - Para começar, em qualquer diferença produzida entre homens e mulheres pela seleção natural há mais variação nos homens. Há uma diferença muito maior entre o "menos" e o "mais" nos homens do que nas mulheres. As mulheres tendem a ficar mais perto de sua própria média. Então, por exemplo, não há uma grande diferença entre quantos filhos cada mulher pode ter. A que teve mais filhos não é muito diferente da que teve menos. Mas em homens há uma diferença maior. Especialmente após a introdução da agricultura, alguns homens não tinham nenhum descendente, e alguns tinham muitos.

Folha - Mas uma coisa é a habilidade deixar descendentes, outra a de ter aptidão para matemática...
Cronin - Mas isso tende a ser igual em muitas coisas. Não é só sorte, não é só preconceito que fazem com que os ganhadores do Prêmio Nobel em ciência tendam a ser homens em vez de mulheres, porque os homens têm maior variação em habilidades --em inteligência, habilidade de fazer ciência e assim por diante-- do que as mulheres. Então há mais ganhadores do Prêmio Nobel entre os homens, mas também há mais idiotas. As mulheres tendem mais a ser medianamente boas.

Folha - Há alguma explicação para que isso ocorra? Isso faz sentido em termos de descendência, mas para inteligência é mais difícil.
Cronin - Eu não vou dar uma resposta realmente boa, porque as respostas que eu vi eu nunca as vi sendo bem colocadas, mas parece ter a ver com o fato de que vale mais a pena para os machos correr riscos. Os machos competem um com o outro para acasalar, e as mulheres apenas ficam lá e qualquer macho vai querer acasalar com elas. As fêmeas não precisam investir a longo prazo, qualquer macho está geralmente disposto a acasalar, então elas não precisam se arriscar. Para um macho, quanto mais competição, mais risco, mais ele se exibe e maior é a chance de ele ter sucesso [reprodutivo]. Então acho que tem a ver com isso. É uma pergunta fundamental, e eu honestamente não sei a resposta exata. Mas toda a história de vida dos homens é mais arriscada e competitiva, e isso se traduz também no fato de o que vence aparece no topo da curva e o que perde fica na outra ponta da curva.

Folha - Especificamente sobre habilidades matemáticas, existe informação estatística suficiente para apoiar essa noção de diferenças entre homens e mulheres?
Cronin - Há uma diferença bem particular. Eu vou dar um exemplo de habilidades que são exigidas quando você está fazendo matemática, engenharia, e assim por diante, e mostrá-lo que as coisas que alimentam essas habilidades são mais vistas em homens do que em mulheres. Se você tentar imaginar um objeto tridimensional em sua mente e tentar rotacioná-lo em sua mente, e então você for exposto a um conjunto de representações bidimensionais de objetos e for perguntado sobre quais representam o mesmo objeto, mas rotacionado no espaço, a maioria dos homens é muito boa com isso. A maioria das mulheres não é muito boa. Em testes cognitivos como esse, essa é a diferença mais robusta que você pode encontrar entre homens e mulheres. As mulheres que vão melhor neles tendem a avançar muito pouco, comparadas à curva dos homens. E são muito poucas as mulheres que vão bem longe na curva dos homens. Parece que essa habilidade é uma das coisas que se encaixa na habilidade matemática. Você pode imaginar como isso se encaixa em engenharia e na física.

Folha - Aparentemente há barreiras ideológicas para reconhecer essas diferenças de gênero. Quão importante a sra. acha que é reconhecer essas diferenças, por exemplo, para fazer escolhas de carreira?
Cronin - Outra pergunta excelente. Os homens competem. Eles querem estar no topo. Eles querem ganhar o Prêmio Nobel, querem ser reitores de universidade, querem ser editores-chefe do jornal. E as mulheres não têm esse senso de competitividade, porque elas não tiveram de competir do modo que os homens tiveram. Toda a psicologia dos homens é muito competitiva, comparada à das mulheres. Sempre foi assim, em todas as espécies sexuadas.

Folha - No caso humano, no entanto, as diferenças são mais sutis.
Cronin - Na nossa espécie bem menos, é verdade. Se fôssemos como elefantes marinhos, eu odeio imaginar um elefante marinho lutando pelo Prêmio Nobel. Ele mataria seus competidores! Eu não daria a ele uma carteira de motorista! Ele seria perigoso! Nós não temos essas diferenças enormes, não somos muito dimórficos comparados a outros mamíferos. Mas na vida moderna diferenças que podem ter sido pequenas agora são enormes, sobre quem está disposto a pegar um trabalho que irá tirá-lo de sua vida, de seus filhos, de seu parceiro, do resto da sua família. Tem essa diferença entre homens e mulheres também. E isso não tem só a ver com ser um cientista, tem a ver com ser qualquer coisa, e, acima disso, tem a ver com você ser mediano ou ser o melhor em alguma coisa. Essa é uma das razões pelas quais fiquei muito irritada com as mulheres em Harvard que deram as costas ao reitor por causa do que ele disse. Porque, como uma feminista, eu acho que você realmente tem que entender o mundo para mudá-lo. Se você é feminista, e você não gosta de como as coisas são, você realmente tem de entender por que elas são como são e aí então tentar mudá-las.

Folha - Há algum exemplo disso posto em prática?
Cronin - Um pequeno exemplo é essa inabilidade de ver coisas em três dimensões se encaixa na menor habilidade das fêmeas de ter sucesso em matemática. Por que não tentar mudar o modo pelo qual ensinamos matemática para ver se conseguimos ajudar as mulheres a ir melhor nisso? E houve um pequeno experimento nisso, que não foi apoiado por feministas ou que as tenha interessado, e foi mostrado que você pode aumentar a habilidade das garotas de ir bem na escola em matemática se você ensiná-las de um modo mais amigável às mulheres. Se você realmente é feminista, o que deve fazer é tornar o mundo mais amigável às mulheres. Então você precisa entender o que "amigável às mulheres" é e quais são as diferenças entre mulheres e homens.

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