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03/02/2005
-
09h29
REINALDO JOSÉ LOPES
Free-lance para a Folha de S.Paulo
Graças a um tremendo golpe de sorte, pesquisadores do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro toparam com uma área de 3 quilômetros de extensão repleta de fósseis de dinossauros naquele Estado nordestino.
Trata-se do primeiro registro dos megarrépteis pré-históricos por ali, e as análises preliminares já estão revelando pelo menos três tipos diferentes de herbívoro e carnívoro, além de crocodilos e peixes.
"Não é preciso nem ser paleontólogo para imaginar que existem espécies desconhecidas, porque o material é muito abundante mesmo", disse à Folha o geólogo Francisco Pinheiro Lima Filho, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Ao lado de colegas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Uern (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte) e Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense), ele participou da ida a campo que identificou o cemitério de dinos, há apenas 15 dias.
Vértebra desprezada
Lima Filho estava de olho no lugar havia uns dois anos, quando o visitou para fazer levantamentos geológicos financiados pela Petrobras. Na época, ele e seus colegas encontraram uma vértebra grande, mas nem deram bola. É que o Rio Grande do Norte vive revelando restos de outros bichos monstruosos: os grandes mamíferos da Era do Gelo, como preguiças gigantes e mastodontes.
O geólogo mostrou a vértebra para uma ex-aluna, a paleontóloga Maria de Fátima dos Santos, do Museu Câmara Cascudo da UFRN. Uma rápida olhada foi suficiente para determinar que o fóssil era de dinossauro.
"Nessa hora, já acendeu uma luzinha", brinca o pesquisador. Faltava, no entanto, o principal: dinheiro para voltar para o lugar trazendo especialistas, o que fez Lima Filho esperar até o começo deste ano.
Como o local onde a vértebra foi coletada estava marcado com um aparelho de GPS (sistema de posicionamento global), o geólogo não teve dificuldade para reencontrá-lo e examiná-lo, com a ajuda da paleontóloga Lilian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ, e outros colegas.
Esse primeiro osso tinha rolado de sua posição inicial, mas não foi difícil encontrar fósseis muito maiores (inclusive alguns fêmures, o osso da coxa, com 1,5 m de comprimento). Alguns ossos ainda estavam nas pedras, e a equipe logo topou com grande variedade de dentes, que costumam ser um bom indicador do grupo ao qual um animal pertencia.
Foi com base na dentição e nos fêmures que Carlos Roberto dos Anjos Candeiro, aluno de doutorado de Bergqvist na UFRJ, identificou pelo menos três tipos de dino potiguar: carcaradontossaurídeos e abelissaurídeos (ambos comedores de carne bípedes, com comprimento entre 3 m e pouco mais de 10 m); e diplodocóides, herbívoros de pescoço longo que estão entre os maiores animais terrestres de todos os tempos.
Um dos últimos dinossauros brasileiros a serem descritos pela ciência, o Amazonsaurus maranhensis, de 10 m, pertencia a esse segundo grupo. O conjunto lembra a fauna de dinos da África, continente que ainda mantinha conexões com o Brasil na época.
As camadas geológicas que abrigam os bichos pertencem à chamada bacia Potiguar e datam do Cenomaniano --uma subdivisão do Período Cretáceo com cerca de 90 milhões de anos. Na época, a área era uma grande desembocadura de rio.
Os pesquisadores estão buscando o apoio da Petrobras para explorar as jazidas em detalhe. Enquanto o financiamento não vem, a equipe prefere manter a localização exata do sítio em sigilo. "A gente não quer que aconteça o mesmo que no Ceará", explica Lima Filho, referindo-se à chapada do Araripe, que é o paraíso dos fósseis de pterossauro --e também do comércio ilegal deles.
Conexão africana
Para o paleontólogo Carlos Roberto Candeiro, os animais do sítio potiguar sugerem que as faunas do Brasil e da África ainda mantinham contato na região, embora os continentes já estivessem bastante separados.
"O material do Maranhão, que é quase da mesma idade, também mostra essa semelhança com a África", afirma Candeiro. Um exemplo disso é a presença dos carcaradontossaurídeos, comuns em regiões como o atual Marrocos. Segundo o pesquisador, é possível esperar novas espécies no sítio do Rio Grande do Norte.
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Trata-se do primeiro registro dos megarrépteis pré-históricos por ali, e as análises preliminares já estão revelando pelo menos três tipos diferentes de herbívoro e carnívoro, além de crocodilos e peixes.
"Não é preciso nem ser paleontólogo para imaginar que existem espécies desconhecidas, porque o material é muito abundante mesmo", disse à Folha o geólogo Francisco Pinheiro Lima Filho, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Ao lado de colegas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Uern (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte) e Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense), ele participou da ida a campo que identificou o cemitério de dinos, há apenas 15 dias.
Vértebra desprezada
Lima Filho estava de olho no lugar havia uns dois anos, quando o visitou para fazer levantamentos geológicos financiados pela Petrobras. Na época, ele e seus colegas encontraram uma vértebra grande, mas nem deram bola. É que o Rio Grande do Norte vive revelando restos de outros bichos monstruosos: os grandes mamíferos da Era do Gelo, como preguiças gigantes e mastodontes.
O geólogo mostrou a vértebra para uma ex-aluna, a paleontóloga Maria de Fátima dos Santos, do Museu Câmara Cascudo da UFRN. Uma rápida olhada foi suficiente para determinar que o fóssil era de dinossauro.
"Nessa hora, já acendeu uma luzinha", brinca o pesquisador. Faltava, no entanto, o principal: dinheiro para voltar para o lugar trazendo especialistas, o que fez Lima Filho esperar até o começo deste ano.
Como o local onde a vértebra foi coletada estava marcado com um aparelho de GPS (sistema de posicionamento global), o geólogo não teve dificuldade para reencontrá-lo e examiná-lo, com a ajuda da paleontóloga Lilian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ, e outros colegas.
Esse primeiro osso tinha rolado de sua posição inicial, mas não foi difícil encontrar fósseis muito maiores (inclusive alguns fêmures, o osso da coxa, com 1,5 m de comprimento). Alguns ossos ainda estavam nas pedras, e a equipe logo topou com grande variedade de dentes, que costumam ser um bom indicador do grupo ao qual um animal pertencia.
Foi com base na dentição e nos fêmures que Carlos Roberto dos Anjos Candeiro, aluno de doutorado de Bergqvist na UFRJ, identificou pelo menos três tipos de dino potiguar: carcaradontossaurídeos e abelissaurídeos (ambos comedores de carne bípedes, com comprimento entre 3 m e pouco mais de 10 m); e diplodocóides, herbívoros de pescoço longo que estão entre os maiores animais terrestres de todos os tempos.
Um dos últimos dinossauros brasileiros a serem descritos pela ciência, o Amazonsaurus maranhensis, de 10 m, pertencia a esse segundo grupo. O conjunto lembra a fauna de dinos da África, continente que ainda mantinha conexões com o Brasil na época.
As camadas geológicas que abrigam os bichos pertencem à chamada bacia Potiguar e datam do Cenomaniano --uma subdivisão do Período Cretáceo com cerca de 90 milhões de anos. Na época, a área era uma grande desembocadura de rio.
Os pesquisadores estão buscando o apoio da Petrobras para explorar as jazidas em detalhe. Enquanto o financiamento não vem, a equipe prefere manter a localização exata do sítio em sigilo. "A gente não quer que aconteça o mesmo que no Ceará", explica Lima Filho, referindo-se à chapada do Araripe, que é o paraíso dos fósseis de pterossauro --e também do comércio ilegal deles.
Conexão africana
Para o paleontólogo Carlos Roberto Candeiro, os animais do sítio potiguar sugerem que as faunas do Brasil e da África ainda mantinham contato na região, embora os continentes já estivessem bastante separados.
"O material do Maranhão, que é quase da mesma idade, também mostra essa semelhança com a África", afirma Candeiro. Um exemplo disso é a presença dos carcaradontossaurídeos, comuns em regiões como o atual Marrocos. Segundo o pesquisador, é possível esperar novas espécies no sítio do Rio Grande do Norte.
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