Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/02/2005 - 09h32

Floresta regenerada perde diversidade, afirmam pesquisadores

Publicidade

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Mesmo nas condições ideais, pode ser praticamente impossível fazer com que uma floresta se regenere mantendo a diversidade que tinha antes de ser derrubada. Esse é o resultado preocupante de um estudo feito por pesquisadores nos EUA, com uma espécie de palmeira comum em florestas tropicais, inclusive no Brasil.

O pesquisador turco Uzay Sezen e seus colegas da Universidade de Connecticut em Storrs verificaram que mais da metade dos exemplares de palmeira-barriguda ou paxiubão (Iriartea deltoidea) que colonizaram uma área de pastagem abandonada descendiam de só duas árvores.

Trata-se de uma redução brutal na diversidade genética da espécie --e um perigo dos grandes para a sobrevivência da floresta renascida.

O estudo, publicado na edição de hoje da revista americana "Science", revela mais uma faceta dos problemas que seguem a destruição de matas ecologicamente maduras, que ocuparam o mesmo lugar durante centenas ou até milhares de anos.

"Estudos anteriores mostraram que, em várias áreas de mata secundária [onde a floresta se recuperou depois de ser cortada], a riqueza de espécies entre as árvores maduras é menor, mas está no mesmo nível da vegetação original para os brotos e mudas", conta Sezen, 32.

"Então, tem-se a impressão de que a riqueza de espécies está voltando para a floresta secundária. Mas as aparências enganam. Você pode ter uma regeneração vigorosa, mas um panorama genético extremamente pobre", diz o pesquisador, que é estudante de doutorado.

Vida fácil

O trabalho foi conduzido numa área de 30 hectares (com 20 de mata primária e 10 de mata secundária) na Estação Biológica La Selva, na Costa Rica. A espécie de palmeira escolhida, muito abundante por lá, também ocorre em boa parte das florestas tropicais da América Central e da América do Sul, e se dá melhor na sombra.

Para todos os efeitos, a floresta tinha as condições ideais para se regenerar. O processo acontece há 24 anos, desde que a antiga pastagem foi abandonada, e a mata madura ali do lado fornece os "jardineiros": abelhas que transportam pólen e animais como tucanos, macacos e antas, que carregam suas sementes.

Os pesquisadores mapearam como esse processo estava se dando com ajuda de um tipo de "etiqueta" de DNA que permite identificar com precisão de 100% os "pais" de um ser vivo. Também investigaram as distâncias em que o pólen e as sementes das árvores da mata primária percorriam.

Foi aí que surgiu a primeira surpresa: as sementes viajavam bem mais que o pólen, embora ele seja carregado por animais voadores (270 m contra 100 m, respectivamente). "Acreditamos que esse é um fenômeno típico do início da regeneração, especialmente em espécies cujas sementes são dispersadas por animais, como a I. deltoidea. Numa floresta madura, os dispersores provavelmente não viajam tanto", diz Sezen.

O resultado mais chocante, porém, veio dos testes genéticos. Entre 66 árvores maduras da mata primária, apenas duas responderam por 56% das que nasceram na área regenerada; 23 plantas geraram os outros 44%, enquanto 41 simplesmente não deixaram descendentes ali.

O leitor pouco familiarizado com genética de plantas perguntaria: e daí? O resultado, na verdade, sugere um problema sério para a sobrevivência a longo prazo das florestas tropicais --embora não seja possível generalizar os resultados, o pesquisador turco afirma que o caso poderia servir de modelo para outras matas.

Acontece que a variabilidade é uma das chaves da sobrevivência de qualquer espécie --quanto mais diversificada geneticamente, maior a chance de que ao menos uma de suas variedades seja capaz de resistir a uma doença ou a mudanças climáticas bruscas.

"A diversidade genética pode se recuperar se a floresta primária original continuar intacta --aliás, o problema global é manter esses recursos intactos", diz Sezen.

"Isso pode levar muito tempo, principalmente em espécies que levam centenas de anos para alcançar a maturidade. E, enquanto não acontece, a baixa diversidade genética ficará pairando sobre elas como a espada de Dâmocles", diz, referindo-se à arma mítica que pairava sobre a cabeça da pessoa presa a um fio de cabelo.

Leia mais
  • Estudo considera Mata Atlântica "pronto-socorro" da biodiversidade

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre biodiversidade
  • Leia mais notícias no especial sobre ambiente
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página