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10/03/2005
-
10h05
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
Faz décadas que o elemento químico lítio é usado por pessoas com transtorno bipolar, um problema psiquiátrico que sujeita quem o tem a variações bruscas e às vezes trágicas de humor. Contudo, ninguém ainda sabe exatamente como o lítio atua sobre o cérebro. Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) colocaram uma peça potencialmente importante nesse quebra-cabeças ao descobrir que a droga afeta uma substância ligada ao armazenamento de energia no organismo.
A molécula é uma enzima (um catalisador de reações) e atende pelo nome de fosfoglicomutase. "Ela é muito conservada [ou seja, alterou-se pouco com a evolução] nos seres vivos", conta a pesquisadora mexicana naturalizada brasileira Mónica Montero Lomelí, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.
Isso permitiu que ela e seus colegas observassem que a ação da fosfoglicomutase (ou PGM, na sigla inglesa) era bloqueada pelo lítio na levedura Saccharomyces cerevisiae, o micróbio usado para fermentar pão: nesse nível bioquímico básico, não há grandes diferenças entre a levedura e uma pessoa. A influência do lítio sobre a mesma enzima foi confirmada em doentes que o utilizam.
Química misteriosa
Lomelí conta que outras enzimas do organismo também parecem ser afetadas pelo medicamento, mas os cientistas ainda não conseguiram utilizar esses dados para explicar como ele controla a doença.
O mistério é parecido com o que envolve as causas do transtorno bipolar, antes conhecido como psicose maníaco-depressiva. Sabe-se que a doença tem um componente genético forte (pessoas cujos parentes próximos têm o mal correm risco bem maior de desenvolvê-lo), mas daí a apontar que partes do DNA são responsáveis vai uma grande distância.
O certo é que, se não for controlada com medicação constante, a alternância brusca entre euforia e depressão que a moléstia causa pode até levar ao suicídio. O tratamento com lítio ajuda a controlar o problema, mas podem surgir efeitos colaterais como tremores, ansiedade e aumento de peso.
Pistas energéticas
A análise feita por Lomelí e seus colegas pode dar algumas pistas sobre como isso acontece. Primeiro, nas leveduras, eles verificaram uma queda brusca na produção da enzima. Acontece que a molécula é responsável não só pelo metabolismo da galactose, o açúcar do leite, como também ajuda a coordenar o uso das reservas de energia do organismo.
Ela faz isso atuando sobre o glicogênio, a forma na qual a glicose (principal combustível dos seres vivos) é armazenada pelo corpo. Dependendo da necessidade, a enzima pode ajudar a desfazer parte das reservas de glicogênio e transformá-las em glicose ou então estocar a glicose excedente na forma de glicogênio.
Na hora de estudar o que acontecia em humanos, o grupo da UFRJ verificou o contrário: a PGM estava mais ativa em pacientes que usavam lítio do que nos que tomavam outro medicamento. "Parece que é um processo duplo: no início a enzima é inibida e depois o organismo responde aumentando a produção dela", afirma a pesquisadora.
A hipótese do grupo é que o remédio afetaria o balanço do glicogênio no cérebro, que é controlado pelas células gliais, as "ajudantes" dos neurônios. "O mais provável é que outras enzimas além da PGM sejam afetadas. Se agíssemos seletivamente apenas sobre ela, diminuiríamos os efeitos colaterais do lítio", diz Lomelí.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o lítio
Grupo decifra efeito do lítio no cérebro
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da Folha de S.Paulo
Faz décadas que o elemento químico lítio é usado por pessoas com transtorno bipolar, um problema psiquiátrico que sujeita quem o tem a variações bruscas e às vezes trágicas de humor. Contudo, ninguém ainda sabe exatamente como o lítio atua sobre o cérebro. Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) colocaram uma peça potencialmente importante nesse quebra-cabeças ao descobrir que a droga afeta uma substância ligada ao armazenamento de energia no organismo.
A molécula é uma enzima (um catalisador de reações) e atende pelo nome de fosfoglicomutase. "Ela é muito conservada [ou seja, alterou-se pouco com a evolução] nos seres vivos", conta a pesquisadora mexicana naturalizada brasileira Mónica Montero Lomelí, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.
Isso permitiu que ela e seus colegas observassem que a ação da fosfoglicomutase (ou PGM, na sigla inglesa) era bloqueada pelo lítio na levedura Saccharomyces cerevisiae, o micróbio usado para fermentar pão: nesse nível bioquímico básico, não há grandes diferenças entre a levedura e uma pessoa. A influência do lítio sobre a mesma enzima foi confirmada em doentes que o utilizam.
Química misteriosa
Lomelí conta que outras enzimas do organismo também parecem ser afetadas pelo medicamento, mas os cientistas ainda não conseguiram utilizar esses dados para explicar como ele controla a doença.
O mistério é parecido com o que envolve as causas do transtorno bipolar, antes conhecido como psicose maníaco-depressiva. Sabe-se que a doença tem um componente genético forte (pessoas cujos parentes próximos têm o mal correm risco bem maior de desenvolvê-lo), mas daí a apontar que partes do DNA são responsáveis vai uma grande distância.
O certo é que, se não for controlada com medicação constante, a alternância brusca entre euforia e depressão que a moléstia causa pode até levar ao suicídio. O tratamento com lítio ajuda a controlar o problema, mas podem surgir efeitos colaterais como tremores, ansiedade e aumento de peso.
Pistas energéticas
A análise feita por Lomelí e seus colegas pode dar algumas pistas sobre como isso acontece. Primeiro, nas leveduras, eles verificaram uma queda brusca na produção da enzima. Acontece que a molécula é responsável não só pelo metabolismo da galactose, o açúcar do leite, como também ajuda a coordenar o uso das reservas de energia do organismo.
Ela faz isso atuando sobre o glicogênio, a forma na qual a glicose (principal combustível dos seres vivos) é armazenada pelo corpo. Dependendo da necessidade, a enzima pode ajudar a desfazer parte das reservas de glicogênio e transformá-las em glicose ou então estocar a glicose excedente na forma de glicogênio.
Na hora de estudar o que acontecia em humanos, o grupo da UFRJ verificou o contrário: a PGM estava mais ativa em pacientes que usavam lítio do que nos que tomavam outro medicamento. "Parece que é um processo duplo: no início a enzima é inibida e depois o organismo responde aumentando a produção dela", afirma a pesquisadora.
A hipótese do grupo é que o remédio afetaria o balanço do glicogênio no cérebro, que é controlado pelas células gliais, as "ajudantes" dos neurônios. "O mais provável é que outras enzimas além da PGM sejam afetadas. Se agíssemos seletivamente apenas sobre ela, diminuiríamos os efeitos colaterais do lítio", diz Lomelí.
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