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19/03/2005 - 08h55

Análise confirma potencial destrutivo de "supervírus" HIV

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Todos esses dados preocupantes vieram de uma análise genética do vírus, capitaneada por David Ho, do Centro Aaron Diamond de Pesquisa do Câncer, em Nova York. Os resultados, que estão na revista científica "Lancet" (www.thelancet.com), são esperados desde o dia 11 do mês passado. Foi nesse dia que o Departamento Municipal de Saúde da metrópole americana anunciou que uma possível nova versão do HIV tinha sido isolada.

O doente, um homossexual com mais de 40 anos, havia feito sexo sem proteção com um número indeterminado (e alto) de homens e era viciado em metanfetamina cristal, uma droga que pode ser fumada ou injetada.

O que assustou os médicos foi a progressão rápida da doença (o homem desenvolveu a doença em algum período entre quatro e 20 meses, enquanto o HIV pode ficar incubado por anos ou décadas) e a sua resistência: três dos quatro tipos de medicamento usados hoje contra o vírus da Aids nem arranharam suas defesas.

Na época, cientistas e grupos de defesa dos homossexuais criticaram o governo de Nova York por alarmar a população antes que se soubesse exatamente o que era o inimigo, e até por insinuar que a Aids estava voltando a ser uma doença "gay" e, assim, incentivar o preconceito.

A análise genética, no entanto, mostrou que a variedade está longe de ser um tigre de papel. "Eu acho que é um negócio bem sério. Ele tem um padrão de resistência preocupante", avalia o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Mas talvez o mais assustador seja sua capacidade de invadir tanto macrófagos quanto linfócitos CD4.

Os dois tipos de célula pertencem ao sistema de defesa do organismo humano, mas, em geral, o segundo só é atacado nas fases posteriores e mais graves da doença. "Esse vírus já veio pronto para matar", afirma Zanotto.

Outra característica inesperada é que, apesar de sua violência, o HIV isolado em Nova York se multiplica tão bem quanto os mais comuns, de ação lenta. "Isso é estranho, porque a gente imagina que a enzima replicadora [que permite a reprodução do vírus] tem um ponto ótimo de ação. Se o vírus sofrer mutações para se tornar resistente aos medicamentos, ela perderia isso. Mas parece que aconteceram mutações compensatórias, que mantiveram tanto a resistência quanto a capacidade de replicação", diz Zanotto.

Por fim, o estudo também sugere que a ação devastadora do novo HIV não se deve a alguma susceptibilidade do doente. Para o virologista da USP, no entanto, ainda é cedo para dizer isso.

Em seu editorial, a "Lancet" alerta para a necessidade de vigilância continuada contra o vírus. "Esse caso mostra que o HIV continua um inimigo horrendamente versátil (...) e que, apesar de todos os avanços (...) a prevenção ainda é a melhor estratégia."

 

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