Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/06/2005 - 10h01

Falta de investimento atrapalha vacina de malária, diz especialista

Publicidade

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Falta de dinheiro, e não de ciência, é o que mais dificulta hoje o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a malária, afirma a pesquisadora Melinda Moree, diretora da organização não-governamental MVI (Iniciativa de Vacina da Malária, na sigla inglesa).

"Só os NIH (Institutos Nacionais de Saúde) dos EUA gastam US$ 500 milhões por ano para desenvolver uma vacina contra a Aids. No mundo todo se gastam US$ 65 milhões na busca de uma vacina para a malária", disse Moree, por telefone, de Salvador.

Ela deve fazer uma palestra sobre o tema nesta quarta-feira na capital baiana, durante o Fórum Global de Pesquisas sobre Vacinas patrocinado pela Organização Mundial de Saúde, que termina nesta quinta-feira.

A ONG que ela preside tem papel-chave nesse financiamento. Dos US$ 65 milhões, US$ 14 milhões vêm do MVI e US$ 33 milhões dos NIH. O motivo é o financiamento pela Fundação Bill e Melinda Gates; o bilionário dono da Microsoft começou em 1999 a financiar a ONG com US$ 50 milhões, verba aumentada depois.

Apesar da ajuda de Gates, a pesquisa da malária continua sendo um patinho feio da ciência mundial --pelo óbvio motivo de que se trata de doença de países pobres, pouco afetando os ricos.

Um estudo britânico mostrou que são gastos US$ 3.274 em pesquisa de Aids por cada caso de morte pela doença, contra apenas US$ 65 por morto por malária.

Estatísticas não faltam para mostrar a gravidade dessa doença, que afeta quase toda a África, onde está a esmagadora maioria dos casos, mas que está distribuída por todo o mundo tropical, incluindo a Amazônia brasileira.

Mais de um terço da população mundial vive em áreas de risco, e estima-se que, mantendo-se as taxas de crescimento de hoje, em 2010 metade da população do planeta estará vulnerável à doença, que hoje mata de um a dois milhões de pessoas por ano --os números são imprecisos--, principalmente crianças e gestantes africanas. A cada minuto morreriam três crianças de malária.

Vilão

A doença é causada pelos parasitas do gênero Plasmodium. Trata-se de um ser vivo unicelular transmitido pela picada das fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles. Formas do parasita se desenvolvem no sangue, no fígado, causam febres e podem matar ao afetarem o cérebro.

Otimismo

"A boa notícia é que uma vacina não vai demorar tanto", diz Moree. Ela cita o caso de um estudo clínico com uma candidata a vacina que deu bons resultados para prevenir a doença em crianças africanas. A pesquisa contou com patrocínio da MVI.

O estudo foi divulgado em outubro passado na tradicional revista médica britânica "The Lancet". A vacina conhecida pela sigla RTS,S/AS02A, desenvolvida por uma indústria farmacêutica britânica, a GlaxoSmithKline, junto com o Instituto de Pesquisa Walter Reed do Exército dos EUA, foi testada em milhares de crianças em Moçambique.

A vacina experimental conseguiu reduzir os ataques de malária em 58% dos casos graves, um feito inédito que deixou pesquisadores em todo o mundo confiantes de que um dia a malária poderá ser vencida.

Esse tipo de vacina poderá ter um "enorme impacto de saúde pública", diz Moree, que acredita que uma segunda geração da vacina poderá ser ainda mais eficaz.

Já uma vacina 100% eficaz, diz ela, provavelmente só em 2020.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a malária
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página