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11/08/2005 - 09h40

Ave brasileira conviveu com dinossauros

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REINALDO JOSÉ LOPES
Enviado da Folha de S.Paulo ao Rio

São minúsculas e delicadas, com o porte de um pardal, as mais antigas aves brasileiras, apresentadas nesta quarta-feira ao público por uma dupla de pesquisadores do interior paulista. Os passarinhos têm cerca de 80 milhões de anos e podem pertencer a até três novas espécies de um grupo primitivo, cujo auge na história da evolução aconteceu quando os dinossauros ainda dominavam a Terra.

Os fósseis --crânios sem o bico, vértebras e partes das patas, entre outros fragmentos-- foram revelados durante o 2º Congresso Latino-Americano de Paleontologia de Vertebrados, que começou ontem no Rio de Janeiro. Apesar de meio desconjuntados, os fósseis estão surpreendentemente bem conservados, o que deve trazer uma série de informações preciosas sobre a evolução de um dos primeiros tipos de ave verdadeira.

Isso não quer dizer, no entanto, que os "pardais" sejam ancestrais diretos dos pássaros modernos, esclarece Herculano Alvarenga, do Museu de História Natural de Taubaté (SP), paleontólogo que está estudando as criaturas. "O nome dado a esse grupo é Enantiornithes, que significa aves opostas", explica o pesquisador. Na verdade, elas podem ser consideradas o grupo-irmão das aves modernas --compartilham um ancestral comum próximo, mas seguiram caminhos distintos ao longo da evolução.

Há diferenças claras que mostram isso: vários Enantiornithes tinham bicos cheios de dentes, uma aberração para quem olha as aves de hoje. Além disso, ossinhos das "mãos" (na verdade, das asas) e das patas dos bichos, conhecidos respectivamente pelos indigestos nomes de carpometacarpo e tarsometatarso, só estão parcialmente fundidos nesses bichos. Nas aves modernas, ao contrário, eles são completamente fundidos, formando um só osso. Também há diferenças na articulação da asa com o ombro, que são típicas dos Enantiornithes. Mesmo assim, tudo indica que eles voassem tão bem quanto qualquer pardal de hoje em dia.

Alvarenga atribui o achado à tenacidade como caçador de fósseis de seu colega William Nava, do Museu de Paleontologia de Marília (SP), que conseguiu achar tais agulhas no imenso palheiro que são as rochas da bacia Bauru (uma das mais ricas jazidas paleontológicas do país, que data do Período Cretáceo, último da era dos dinossauros), na vizinhança de Presidente Prudente. "Estava na região avaliando um afloramento onde, há uns cinco anos, havia encontrado ossos de dinossauro. E acabei topando com os ossinhos de aves", afirma Nava.

"Faz dois meses que ele achou os fósseis num sítio de um por dois metros, com não mais que 50 cm de profundidade", conta Alvarenga. "Vários dos ossinhos se fragmentavam conforme eram retirados de lá."

Como o achado ainda é tão recente, a dupla não arrisca atribuir novos nomes científicos às criaturas. "Nós ainda estamos preparando os fósseis. Por causa da fragilidade, temos de colocá-los debaixo do microscópio e usar agulhas [para separar os ossos da matriz de rocha]. Não sei se já existe um método menos complicado", brinca o paleontólogo.

De qualquer maneira, Alvarenga diz que não tem pressa para chegar a uma descrição definitiva. Uma coisa, no entanto, está clara: há mais de uma espécie entre os caquinhos, uma vez que, entre as patas presentes, existe uma com quatro dedos, enquanto outra tem três dedos.

"Pode até ser que sejam gêneros diferentes", especula. Gêneros são o "primeiro nome" dos seres vivos, como o gênero Homo, presente no batido Homo sapiens que designa os humanos modernos, e correspondem a um conjunto mais amplo que a espécie.

"Antes só se conheciam penas de aves com essa idade no Brasil", diz o paleontólogo Reinaldo José Bertini, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro, que considerou o trabalho uma boa surpresa do evento, que vai até amanhã. Ele diz concordar com a avaliação de que há pelo menos duas espécies diferentes entre o material.

Segundo Alvarenga, os pequenos pássaros suplantaram durante muito tempo os seus parentes dos quais descendem as aves modernas. Isso só mudou com a grande extinção do fim do Cretáceo (há 66 milhões de anos). "É uma amostra de como alguns grupos acabaram se saindo melhor depois desse evento, enquanto outros sumiram", diz.

O congresso no Rio, que termina nesta sexta-feira, reúne 300 cerca de pesquisadores e discute novos achados sobre a origem das serpentes, o surgimento dos dinossauros e os morcegos fósseis.

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