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29/08/2005 - 09h34

USP acha cogumelos luminosos no Brasil

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

O trabalho de pesquisadores da USP está revelando uma série de novas espécies de um tipo todo especial de fungo: pequenos cogumelos que emitem uma misteriosa luminosidade verde no escuro. As criaturas, antes desconhecidas no Brasil, podem ajudar a elucidar o mecanismo bioquímico que leva à produção de luz em fungos. Além disso, com um pouco mais de estudo, poderiam servir como sensores vivos de poluição ou mesmo fontes de moléculas úteis para a biotecnologia.

Divulgação
Cogumelos bioluminescentes do gênero <i>Mycena</i>
Cogumelos bioluminescentes do gênero Mycena
Segundo Cassius Vinicius Stevani, químico da USP que coordena os estudos, é possível que o material recolhido abranja pelo menos dez espécies novas. Não é pouca coisa, já que no mundo todo se conhecem só 42 espécies do fungo, quase todas restritas ao Sudeste Asiático. "Já temos uma descrita, a Gerronema viridilucens, e seis já estão em fase de descrição", contou Stevani à Folha.

Mistério antigo

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Cogumelos bioluminescentes do gênero <i>Mycena</i> no escuro
Cogumelos bioluminescentes do gênero Mycena no escuro
Em fungos, a bioluminescência --trocando em miúdos, a luminosidade produzida por seres vivos-- é um fenômeno conhecido há milênios, tendo sido descrito pelo filósofo grego Aristóteles (século 4º a.C.). Os cientistas, no entanto, continuam sem saber como ela funciona. Foi na esperança de entender o fenômeno que Stevani e seus colaboradores se puseram a procurar cogumelos do tipo no Brasil. "É provável que nenhum pesquisador tivesse identificado espécies no Brasil porque é preciso procurá-los à noite. Além do mais, a luz é muito fraca, até sob o luar", explica o químico.

Com base em relatos de moradores e muita paciência na coleta, a equipe chegou aos cogumelos em dois locais: o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, em Iporanga (SP) e uma área de mata ciliar no município de Costa Rica, Mato Grosso do Sul. Outros relatos sugerem que fungos do mesmo tipo podem ser encontrados no Tocantins e no Amazonas. A identificação e descrição está sendo feita com a ajuda de Marina Capelari, do Instituto de Botânica de São Paulo, e Dennis Desjardin, da Universidade Estadual de San Francisco (Estados Unidos).

A emissão de luz é efêmera. Os cogumelos, que na verdade são apenas uma espécie de órgão sexual do fungo, duram entre 24 e 48 horas. Eles é que emitem luz, que aparentemente pode vir tanto da parte inferior do chapéu quanto do "cabo" ou do cogumelo inteiro. Algumas espécies surgem da casca de árvores vivas, enquanto outras se alimentam de matéria vegetal em decomposição.

Apesar da rapidez do processo, os pesquisadores descobriram como cultivar o G. viridilucens em laboratório e verificaram que ele pode funcionar como uma espécie de sensor de poluição. É que a luz parece variar de acordo com a concentração de poluentes aplicados sobre o fungo.

"Dessa forma, você teria um parâmetro rápido de medir e fácil de avaliar, ao contrário de outros biossensores com fungos, que exigem tempo maior de aplicação e tratamento estatístico mais complicado", explica Stevani. Como os fungos ajudam a reciclar nutrientes, têm um importante papel na manutenção da saúde dos ecossistemas --outra razão para usá-los como indicadores.

Finalmente, com informações mais detalhadas sobre o mecanismo da luminescência, uma série de aplicações úteis pode surgir. É que os estudos de biologia molecular dependem muito de reações que geram luz e de proteínas fluorescentes de diversas cores. Quando um pesquisador quer saber se determinado gene está ativo ou não, por exemplo, gruda nele o trecho de DNA correspondente à GFP (proteína fluorescente verde). Se o gene for ativado, a proteína "acende", dedurando-o.

"Como as técnicas desse tipo têm limitações, é sempre bom contar com novas opções", avalia Stevani, com a ressalva de que os estudos ainda estão no começo.

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