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31/08/2005 - 09h47

População maranhense tem DNA amazônico

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Cientistas brasileiros identificaram a receita de como, na média, se faz um maranhense. O resultado demonstra que, apesar de o Maranhão hoje pertencer oficialmente à Região Nordeste, sua população tem muito mais cara de Região Norte. Está escrito no DNA, que não costuma mentir.

O estudo vem de um grupo de pesquisadores da UFPA e da UFMA (universidades federais do Pará e do Maranhão) que analisou a composição genética de 177 indivíduos de São Luís, capital maranhense. A idéia era perscrutar o código genético dos sujeitos à procura de pedaços de gene que revelassem, logo de cara, de onde eles tinham vindo.

Explica-se: os cientistas sabem que há certas "versões" de determinados trechos do DNA humano que são de um jeito numa dada etnia e de outro noutra. O grupo, liderado por Ândrea Kely Ribeiro-dos-Santos, da UFPA, se concentrou em cinco trechos específicos. Então, pôde tirar a "receita" de como --na média, é claro-- se produz um maranhense.

Segundo o estudo, publicado na revista científica brasileira "Genetics and Molecular Biology" (www.scielo.org), os maranhenses em geral são resultado de uma mistura 42% européia, 39% indígena e 19% africana. A composição é muito semelhante à que já foi observada em Belém, aproximando geneticamente o Maranhão da Região Norte e o afastando dos demais Estados do Nordeste --embora ainda seja cedo para dizer que ninguém mais lá tenha um perfil desse tipo.

"Até o momento existem poucos estudos com essa metodologia na região do Nordeste --só Alagoas, Bahia e São Luís--, então não podemos realizar uma boa comparação", explica Ândrea Ribeiro-dos-Santos.

História verídica

De um modo geral, os dados se encaixam bem no que já se sabia. (E é bom lembrar que Maranhão e Pará fizeram parte de uma mesma unidade administrativa até 1772.) A principal surpresa foi a presença relativamente baixa de componentes genéticos africanos. No Nordeste, em geral, a presença de fatores de origem negra é maior e a presença de traços indígenas, menor. "Esperávamos uma maior contribuição de genes africanos, principalmente em razão da história de formação de São Luís, da presença forte do negro", diz a cientista. "[O Maranhão] é o segundo Estado em número de quilombos."

O objetivo da pesquisa, mais do que oferecer as receitas de como fazer brasileiros de cada região, é reconstruir ou apoiar o que historicamente se sabe a respeito da colonização e evolução da população do país. "A motivação é poder recontar parte da nossa história, não registrada em documentos oficiais, utilizando a informação contida dentro da célula, o DNA", diz Ribeiro-dos-Santos.

A geneticista, no entanto, vê outra razão, de cunho prático, para tocar esses estudos, ainda mais com toda essa discussão recente sobre o estabelecimento de cotas de vagas para certas etnias em instituições do ensino superior. "Esse tipo de trabalho, apesar de pesquisa básica, constitui o alicerce de importantes decisões, principalmente no campo de política social do país", diz a cientista.

"Por exemplo, qual a verdadeira constituição genética hoje no país?", ela se questiona. "Será que um sistema de cotas deve ser implementado num país que apresenta essa constituição biológica-cultural ímpar, não-observada em nenhum outro lugar do mundo de forma tão intensa? E, se existir um sistema de cotas, como não cometer os mesmos erros do passado, excluindo os grupos indígenas e todos os outros grupos necessitados?"

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