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08/09/2005 - 09h39

Solo é o novo vilão do aquecimento global, diz estudo

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da Folha de S.Paulo

Um dos piores pesadelos dos climatologistas é que o aquecimento global cause a liberação dos imensos estoques de carbono guardados nos solos, o que provocaria um aumento acelerado das temperaturas do planeta. Pois bem: isso já está acontecendo, revela nesta quinta-feira um estudo britânico.

A maior e mais detalhada medição do conteúdo de carbono dos solos, realizada entre 1978 e 2003 na Inglaterra e no País de Gales, mostra que só nesse período o chão do Reino Unido perdeu, em média, 13 milhões de toneladas de carbono por ano.

Como o efeito independe do tipo de uso do solo --quer dizer, ele foi verificado tanto em terras usadas para a agricultura quanto em pântanos, florestas e campos naturais--, os autores do estudo atribuem a emissão ao aquecimento global. No último século, a temperatura média global subiu 0,7ºC. No Reino Unido, esse aumento foi de 0,5ºC.

"Os micróbios no solo ficam mais ativos em temperaturas mais altas. À medida que a temperatura sobe, o ciclo do carbono no solo acelera", disse Guy Kirk, pesquisador da Universidade de Cranfield, na Inglaterra. Ele é co-autor do estudo, publicado hoje no periódico científico "Nature" (www.nature.com).

Kirk e seus colegas dizem não saber o destino final do carbono que estava contido no solo. Mas a maior parte, afirmam os cientistas, provavelmente foi para a atmosfera em forma de dióxido de carbono (CO2), gás que é o principal causador do efeito estufa.

O dado é preocupante, por várias razões. Primeiro, os solos são um reservatório imenso de CO2: estima-se que eles armazenem 2 trilhões de toneladas de carbono, ou 300 vezes a quantidade lançada no ar todos os anos por atividades humanas como o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis. A última coisa que alguém iria querer seria "destampar" esse reservatório, pois isso significaria muito mais dióxido de carbono na atmosfera --o que, por sua vez, significaria temperaturas ainda mais altas, que causariam a liberação de ainda mais CO2 e assim por diante. Esse mecanismo tem o nome de "feedback" positivo, e causa arrepios nos cientistas.

Efeito global

Depois, os dados de Kirk e seus colegas de Cranfield derrubam uma série de mitos sobre a estabilidade do chamado carbono orgânico do solo (SOC, na sigla em inglês). "Perdas consistentes de SOC ocorreram independentemente das propriedades do solo, o que desafia nosso conhecimento sobre a estabilidade do SOC", escrevem Detelf Schulze e Annette Freibauer, do Instituto Max-Planck de Biogeoquímica (Alemanha), em comentário ao estudo na mesma edição da "Nature".

A situação fica ainda pior considerando que muitos cientistas achavam que os solos podiam servir como "ralos" ou sorvedouros para o gás carbônico em excesso produzido pela humanidade.

Por fim, nada indica que o vazamento desse reservatório de carbono seja um fenômeno restrito às ilhas britânicas. "Nossos achados mostram que perdas de carbono pelos solos no Reino Unido e, por inferência, em outras regiões temperadas, estão provavelmente compensando a absorção por sorvedouros terrestres", escreveram os autores.

Kyoto inutilizado

O estudo envolveu um trabalho penoso de colher amostras de solo em milhares de pontos do Reino Unido e analisar seu teor de carbono. A amostragem foi repetida três vezes, para que as tendências pudessem ser estabelecidas.

As implicações políticas da pesquisa são diversas, e começam em casa. Primeiro, o fator solo joga literalmente por terra todo o esforço britânico de reduzir suas emissões de gases-estufa em relação aos níveis de 1990, como o país se compromete a fazer pelo Protocolo de Kyoto. De 1990 a 2002, as reduções britânicas chegaram a 12,7 milhões de toneladas de CO2 por ano. Segundo Shulze e Freibauer, isso "põe o sucesso do Reino Unido em reduzir emissões sob uma perspectiva diferente".

Depois, a própria contabilidade das emissões globais de gases de efeito estufa deve precisar mudar --e para patamares de redução muito mais elevados-- já que, por Kyoto, nenhum país é obrigado a contabilizar as mudanças no estoque de carbono do solo.

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