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24/10/2005 - 09h17

Método prevê futuras queimadas em Mato Grosso

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

A fogueira do debate sobre o papel da soja na devastação da Amazônia acaba de ganhar mais combustível. Um estudo de um pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) afirma ser capaz de prever, com base na dinâmica da expansão do grão, como se comportarão as queimadas nos municípios de Mato Grosso, Estado campeão de soja e de desmatamento.

A relação entre esse cultivo e a devastação tem dividido os especialistas. De um lado, os que argumentam que o grão ocupa sobretudo zonas degradadas e pastagens abandonadas, não sendo um vilão do desmatamento. De outro, um número crescente de economistas e ecólogos a afirmar que a soja não só abre novas áreas de floresta --especialmente na mata amazônica de transição, no médio-norte de Mato Grosso-- como também empurra a pecuária para novas áreas de fronteira.

Em sua tese de doutorado, defendida há uma semana na USP, o cientista ambiental Alexandre Camargo Coutinho, da Embrapa Monitoramento por Satélite, mostra que a agricultura intensiva em Mato Grosso está "interiorizando" as queimadas. E queimadas, aqui, são geralmente prenúncio de desmatamento.

Em seu trabalho, Coutinho analisou uma série de dados de satélite sobre queimadas que vai de 1995 a 2003 em 139 municípios de Mato Grosso. "Minha idéia era detectar a dinâmica das queimadas para saber se seria possível usar essa informação para prescrever políticas públicas capazes de prevenir essa "emergência crônica'", afirma o pesquisador.

Cruzamentos

Com a seqüência de dados em mãos, Coutinho começou a cruzar informações sobre aptidão agrícola do solo em cada município, tipo de uso (agricultura mecanizada, pecuária industrial ou pecuária convencional) e distância dos focos de queimada de obras de infra-estrutura, principalmente estradas asfaltadas.

Descobriu que as queimadas incidem cada vez mais sobre as melhores terras do Estado, principalmente na região de floresta amazônica de transição, entre cerrado e mata densa. Que municípios efetivamente ocupados pela soja têm menos queimadas --ou seja, a agricultura mecanizada, em si, não está queimando. E que o principal agente causador de fogo em Mato Grosso, para surpresa de muita gente, é o pequeno proprietário rural, não o agronegócio. "Quem está queimando é a agropecuária convencional, quase de coivara", afirma Coutinho.

Mas não se iludam os defensores do grão como salvador da floresta: os mapas produzidos pelo pesquisador da Embrapa mostram que a entrada da agropecuária intensiva e mecanizada nos municípios é o fator que está empurrando o pequeno produtor adiante para abrir novas áreas.

Evidência disso, por exemplo, é a correlação entre queimadas e distância das estradas: em 1996, muitos dos focos estavam numa distância de até 10 km das principais rodovias. Em 2003, quando termina a série de dados analisada por Coutinho, as queimadas haviam migrado para até 50 km de distância das margens.

Utilizando 11 variáveis que vão de área do município até número de tratores em cada um, Coutinho em seguida estimou o risco de queimada para cada uma das 139 municipalidades de Mato Grosso. Um mapa que, espera, possa ser usado no planejamento de ações do governo contra o fogo.

Alerta vermelho

Quatro municípios foram tidos como "críticos": Tapurah, Sorriso, Querência e Juara. Os dois primeiros estão no eixo da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém). O terceiro era zona de pecuária na qual a soja começa a se instalar. O último, região de pecuária.

A conclusão do pesquisador é que o agronegócio capitaliza os reais atores da destruição, que não têm uma forma melhor de ganhar dinheiro. Estudo anterior, publicado em fevereiro pelo Fórum Brasileiro das ONGs, havia mostrado que a soja exerce esse efeito sobre a pecuária, movendo rebanhos para áreas de fronteira.

"Não é coisa que a gente desconheça [empiricamente], mas é diferente quando se prova isso matematicamente", disse à Folha o economista ambiental José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia e Administração da USP, que orientou o trabalho. "Seria surpreendente se o estudo não tivesse captado isso."

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