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29/11/2005 - 09h37

Estrangeiro pesquisa mais na Amazônia que brasileiro

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Os americanos produzem mais pesquisa sobre a região amazônica do que os brasileiros. E estrangeiros produzem 63% da pesquisa sobre a Amazônia sem a colaboração de cientistas brasileiros.

"O número que surpreende é que apenas 37% dos artigos sobre a Amazônia publicados incluem pelo menos um autor com endereço no Brasil", diz o compilador dos dados, Adalberto Val, do Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). "Eu chamo isso de taxa de perda da soberania", diz.

Val apresentou o estudo numa mesa-redonda sobre pesquisa na Amazônia durante a recente Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília.

Ele pesquisou os artigos científicos no Portal de Periódicos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Descobriu que, até outubro, havia um total de 1.026 artigos, apenas 379 dos quais tinham autores brasileiros, e apenas 172 destes eram de instituições da Amazônia. Já os EUA produziram 427 artigos, dos quais apenas 84 tinham colaboradores brasileiros.

Mais grave ainda, segundo Val, é que a pesquisa sobre a região tem crescido mais rapidamente entre estrangeiros do que entre brasileiros. Há um fosso crescente na produção científica, como mostram as curvas no gráfico relativo aos últimos 15 anos.

Parte do problema, diz Val, é o tamanho reduzido da comunidade de pesquisa da região. As universidades federais têm ali apenas 6.800 docentes, dos quais só 21,4% com doutorado. Dos 2.849 programas de pós-graduação no país, são da Amazônia apenas 75.

Mas há quem ache que os números não são tão preocupantes. É o caso de Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), arquiteto do maior programa científico internacional na região, o LBA, ou Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia. Participam do projeto cerca de 200 cientistas brasileiros e 300 estrangeiros, de países vizinhos, dos EUA, e de oito europeus. Como regra, todo estudo do LBA tem que ter um co-autor brasileiro.

Para Nobre, muitos desses artigos não se referem à Amazônia brasileira. Para ele, é mais comum que a pesquisa nos países vizinhos, como Bolívia, Peru e Colômbia, seja feita sem colaboradores locais, dado o menor porte de suas comunidades científicas.

Nobre diz que os números estão na verdade bem melhores do que no passado. "Dez anos atrás era pior". Ele acha natural que os EUA invistam em pesquisas na região, já que eles têm recursos e cientistas para pesquisarem todo o planeta (cerca de metade da ciência mundial é feita nos EUA).

"Eu acredito no papel transformador do conhecimento", diz ele, que ressalta que esses artigos "não são secretos, estão na literatura aberta". "Mas concordo com o Adalberto de que o ideal seria nós termos esses 70% da pesquisa."

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