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08/12/2005 - 09h23

Grupo acaba de decifrar DNA do cachorro

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Os 400 milhões de cães do planeta têm agora mais um motivo para serem chamados de melhores amigos do homem. A mais precisa investigação do material genético canino, divulgada hoje, facilitará o diagnóstico de doenças que afetam os dois animais, conhecidos pela ciência como Homo sapiens e Canis familiaris.

Mais ainda, o novo estudo também ajuda a entender algo que a visão e o senso comum relutam em reconhecer: por que as cerca de 400 raças de cães existentes têm mais em comum entre si, apesar das diferenças de aparência, do que com outros parentes, como a raposa ou o lobo-guará.

Que um minúsculo mini-maltês tenha mais em comum com um lobo cinzento do que este com um coiote é algo que só mesmo a genômica, a ciência do material genético, poderia mostrar.

Os dados estão em um artigo assinado por 42 pesquisadores na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com). O trabalho tem como coordenador Eric Lander, do Instituto Broad, vinculado à Universidade Harvard e ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e os dois primeiros autores são Kerstin Lindblad-Toh e Claire M. Wade, da mesma instituição.

A fonte principal dos dados foi uma fêmea boxer, Tasha, que tem alto grau de consangüinidade. Com isso, os cientistas puderam ter uma amostra com menos diferenças entre os dois pares de cromossomos (as estruturas enoveladas que abrigam o DNA, uma vinda do pai, outra da mãe).

""Tasha foi escolhida porque, quando nós examinamos cães de várias raças antes de começar o sequenciamento, a amostra dela pareceu ser a mais homogênea, isto é, os cromossomos pareciam ser muito semelhantes. Isso é uma vantagem no processo de montagem [do genoma], porque a localização correta dos pedaços de seqüência pode ser conhecida com maior certeza", disse à Folha Claire M. Wade. Outro cão, um poodle macho, já tinha tido seu DNA vasculhado pelos cientistas, mas de maneira bem mais incompleta --77%, contra 99% de Tasha.

A importância biomédica do trabalho não pode ser subestimada. Cães vivem mais do que animais de laboratório (como camundongos), compartilham o ambiente com humanos e sofrem de doenças parecidas, como câncer, males cardíacos e diabetes.

"A reprodução seletiva resultou na formação de raças de cães que são geneticamente bem homogêneos entre si, mas diferentes quando as raças são comparadas. Muitas raças sofrem de doenças genéticas também vistas em seres humanos, e em muitos desses casos é provável que a doença tenha uma origem genética semelhante nas duas espécies. Por isso estudar os cães pode esclarecer o pano de fundo das doenças humanas", diz Hans Ellegren, da Universidade de Uppsala, Suécia, que escreveu artigo na mesma edição da "Nature" comentando o estudo.

Outras dez raças de cães também foram estudadas, com o objetivo de achar as diferenças genéticas entre elas, iniciando o estudo do porquê de elas diferirem tanto.

Pouca variação

"Descobrimos que a maior parte das raças caninas difere apenas em um só nucleotídeo ["letra" de DNA] a cada 900, um índice semelhante ao de humanos. Entre cães de uma mesma raça, a variação é ainda menor, um nucleotídeo em cada 1.600", diz Wade.

Seres humanos domesticaram os cães a partir do lobo asiático há pelo menos 15 mil anos. Os animais foram selecionados para apresentar cores, tamanhos, formas e comportamentos que interessavam ao ser humano --cães adaptados a caça, pastoreio ou companhia, por exemplo.

Segundo os pesquisadores, os domesticadores teriam mais chance de sucesso ao mudar traços que seriam influenciados por uns poucos genes, mas mesmo essa pequena mudança no genoma pode ter resultados "dramáticos".

No futuro, a pesquisa poderia levar à descoberta de genes ligados ao comportamento canino --algo ainda mais complexo.

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